Quando não sei, tudo pode ser. Quando sei, apenas o que sei é.
Quando sei me torno exclusivo. Participo do banquete dos que saboreiam como eu. Saber é sempre uma parcialidade que na longa caminhada pode se tornar obstáculo.
Quando sei algo, vivo de acordo com aquele saber. Acontece às vezes da vida ser reta e outras vezes ser torta. Do mesmo modo, a chave que abre a fechadura reta pode não encaixar na fechadura torta. As certezas podem se tornar pedras de tropeço e mesmo âncoras existenciais. Descobrir isso em momentos de crise pode ser muito desolador.
Na perspectiva da saúde, o estado de não saber, de leveza e de permeabilidade mental e psíquica são recursos de primeira linha para evitar contratempos.
Quando não sei, tudo pode ser. Quando sei, apenas o que sei é. O pensamento socrático se baseia no não saber. A sabedoria de Sócrates residia na fluidez da percepção de seus limites e na efemeridade dos instantes que se permeia de verdades passageiras. Dizia por isso que nada sabia. Sendo assim, paradoxalmente podia saber tudo. Conhecia a fórmula do saber, do sabor e do saborear. Era sábio!
Agostinho nos inspira algo semelhante quando fala: “Se me perguntam o que é o tempo eu não sei; se não me perguntam eu sei”.
Sejamos cuidadosos com nossos saberes, mas sejamos ainda mais zelosos com os não saberes. É onde eu não sei que permaneço disponível a comungar, aprender, ser saudável e fluir no tempo sem tropeçar. Não saber é semelhante a ter asas nos pés, como Mercúrio.