por Regina Wielenska
Faz anos que assisti a um episódio da série de TV Comédia da Vida Privada. Neste dia, o enredo central era o do marido que chega mais cedo em casa, e quase encontra a esposa enroscada na cama com o amante. Desesperada, a infiel enfiou o sujeito pra dentro do armário. Solução mais cliché, impossível. De início, o marido não sabia de nada, até resolver deitar-se para curtir a companhia da esposa.
Encontra um pé de sapato que lhe é totalmente desconhecido e conclui que haveria outro homem na casa. Tem início aquela busca previsível. Atrás de cortinas, sob a cama, no banheiro, noutro cômodo, até que chega próximo do tal armário. A mulher se interpõe, marido do lado de fora, amante socado em meio a roupas e cabide e ela diz ao marido:
"Se você abrir este armário e não houver amante algum dentro, serei obrigada a me afastar de você, já que é impossível eu continuar a me relacionar com quem não confia mais em mim. Por outro lado, se amante houver, é você quem terá que ir embora, e tudo acaba entre nós. Há uma terceira opção, desista dessa busca sem sentido, vá pra padaria tomar um bom café, se acalme e volte em meia hora, com a cabeça no lugar".
Perplexo, o marido decide ir ao café, e o amante respira em absoluto alívio ao perceber que escapara do flagra. E assim o casamento se mantém na mais aparente serenidade. Muita gente prefere continuar mal-casada do que viver um divórcio. Nada a criticar, embora seja interessante que os envolvidos busquem genuinamente mudar o que não anda tão satisfatório. Tarefa difícil identificar o problema e depois acertar as arestas, ponto por ponto.
No mundo real as coisas podem assumir nuances as mais diversas. Não vou me prender à análise combinatória, mixando quem traiu (marido, esposa, ambos) com epílogos possíveis (flagra, denúncia anônima, confissão da infidelidade depois de um interrogatório, uma permanente desconfiança silenciosa etc).
Por que a infidelidade rolou?
O que importa é: quem trai e seu respectivo cônjuge deveriam se perguntar qual a responsabilidade de cada parte para a infidelidade se apropriar daquele relacionamento conjugal ou namoro.
De que modo o laço entre os membros da relação foi ficando frouxo?
Ou terá sido o casamento um equívoco já desde seu início?
Mas por que refletir sobre um relacionamento prestes a terminar?
Vislumbro no mínimo duas razões: conversas profundas e serenas talvez revelem as razões do distanciamento e, quem sabe, o casal consiga se dar uma nova chance, baseada na transformação dos focos de problema que detectaram. O segundo motivo é que os indivíduos (agora separados, mas que pouco tempo antes viveram a infidelidade e suas consequências) podem carregar para seus novos relacionamentos o mesmo estilo de funcionamento que os levou à finalização das primeiras núpcias.
Não é um crime casar e separar infinitas vezes, mas não lhe parece mais sensato e recomendável entender melhor o que se passou e tentar cometer, se inevitável for, apenas erros novos? Repetir erros e virar um serial husband ou serial wife não traz vantagem alguma.
Quem domina a leitura do inglês pode, por exemplo, se beneficiar com o material de reflexão que o Gottman Institute http://www.gottmanblog.com – publica na web, trata-se de um centro de pesquisa e atendimento de casais, e a experiência deles tem ajudado pessoas a repensarem a infidelidade e a construírem conexões conjugais mais estáveis e significativas.
Boa leitura e aprendizagem a todos.