por Leniza Castello Branco
Persona é uma de origem palavra latina, nome de uma máscara usada pelos atores na antiguidade.
Jung usou este termo para mostrar a maneira como uma pessoa adapta-se ao mundo; é sua máscara, sua maneira de ser socialmente. Essa máscara é necessária para nos adaptarmos à vida e sobrevivermos em sociedade.
A criança já na infância, tenta se comportar para receber aprovação de suas atitudes. Enquanto cresce, pais e professores na escola vão transmitindo seus valores. Assim aos poucos se desenvolve essa “persona”, que estará presente na profissão e nos papéis da vida. Mas com isso podemos nos esquecer de nosso “ego”, nosso verdadeiro eu. Quando alguém se identifica somente com a persona e esquece-se do ego, tende a ficar frio e vazio.
O espelho
No conto “O espelho”, Machado de Assis, descreve um personagem identificado com a 'persona’. Trata-se de um alferes (antigo posto militar) que orgulhava-se de sua farda. Quando saia de férias, ia para a fazenda e trocava a farda por um pijama. Aos poucos notava que sua imagem no espelho estava desaparecendo, e acabava sumindo. Ele ficou desesperado e vestiu a farda novamente, e ao se olhar no espelho, lá estava sua imagem novamente.
À direita fragmentos do conto "O Espelho"
"- Lembrou-me vestir a farda de alferes. Vesti-a, aprontei-me de todo; e, como estava defronte do espelho, levantei os olhos, e…não lhes digo nada; o vidro reproduziu então a figura integral; nenhuma linha de menos, nenhum contorno diverso; era eu mesmo, o alferes, que achava, enfim, a alma exterior."
"Olhava para o espelho, ia de um lado para outro, recuava, gesticulava, sorria e o vidro exprimia tudo. Não era mais um autômato, era um ente animado. Daí em diante, fui outro. Cada dia, a uma certa hora, vestia-me de alferes, e sentava-me diante do espelho, lendo, olhando, meditando…"
Isso acontece quando se confunde a individualidade com um papel social. A pessoa se identifica somente com a persona e esquece-se de seu verdadeiro eu. Ao incorporar essa máscara a pessoa se sente forte e poderosa, mas não se humaniza, é rígida.
Enfim, essa máscara é apenas um papel que pode ser o de professor, médico, filho, artista… Por isso Machado de Assis – nosso escritor maior – era psicólogo sem saber.
No processo terapêutico, temos que conhecer a persona para ajudar a pessoa a encontrar seu eu verdadeiro.
Mas não ter “persona” é tão negativo quanto tê-la em excesso. Ela é necessária para nos relacionarmos com uma certa civilidade. Ninguém fala tudo o que sente, há um limite, um respeito com o próximo, mas que não nos faça esquecer quem somos verdadeiramente.
O Espelho – Obra Completa, de Machado de Assis, vol. II,