por Emilce Shrividya Starling
Você pode fazer a oração do perdão, falar sobre o perdão e tentar praticá-lo. São atitudes importantes. São os primeiros passos. Mas, quando você realmente perdoa, você nem precisa pensar sobre o perdão. Ele acontece automaticamente.
O perdão emana do espaço da sabedoria e da compreensão. Onde há sabedoria, não existe raiva. Onde existe boa compreensão, seu coração não guarda mágoas. Se não existem mágoas, você nem mesmo tem que pensar sobre o perdão, nem a outra pessoa tem que pensar se você perdoou ou não. O perdão simplesmente acontece. Ele simplesmente é .
Muitas pessoas acreditam que Deus as pune e oram: “Ó Senhor, perdoe-me. Tenha piedade de mim.” Porém, elas deveriam entender que Deus é sempre misericordioso e compassivo. Ele é pura sabedoria. Ele está além da raiva e da punição do ego humano. Deus não está sentado esperando para nos punir.
A própria pessoa é que se pune com seus próprios pensamentos, suas próprias ações, suas atitudes, pela maneira como lida com as pessoas e acontecimentos. Ela cria a punição para si mesma. Ela se acha indigna, pecadora.
Ela precisa refletir nas palavras de Baba Muktananda, um grande Mestre do Yoga : “Deus habita em você como você, para você.”
Como é importante limpar esses conceitos errôneos que aprendemos desde criança, esses conceitos sobre a divindade nos castigando, nos punindo. A nossa visão limitada pelo ego negativo imagina Deus como se Ele tivesse um ego para nos punir. A nossa mente finita e limitada não pode compreender a divindade infinita, de amor incondicional.
Se você tiver compreensão, tolerância e sabedoria, você sabe o que é o perdão, pois ele é inerente a essas qualidades divinas que existem dentro de você. Quando você experimenta o perdão, você se sente completamente livre. Você experimenta grandeza e coragem.
Não estou falando em permitir que o outro lhe magoe ou ofenda, nem em ‘engolir sapo’, mas em transcender imediatamente, sem guardar ressentimentos ou raiva.
Muitas vezes, a atitude sábia é não retrucar, não falar em voz alta, não criar discussões. Quando abaixamos o tom da voz, quando saímos da atitude de agressão, o outro também se desarma emocionalmente e os conflitos se dissolvem.
É fácil sentir raiva com as pessoas que não correspondem aos seus ideais ou pensam de maneira diferente. É mais conveniente se zangar com os pais, filhos, parentes por errarem do que compreendê-los. Para algumas pessoas, é fácil se sentir irritadas e com raiva, devido ao modo como são tratadas em um restaurante ou no emprego.
Se a raiva vier, pois somos humanos, deixe que ela se vá imediatamente, não alimente esse sentimento tão destrutivo. Desenvolva paciência que é um antídoto da raiva. Não durma com raiva porque ela é um grande inimigo dentro de nós.
Porém, existem situações em que ficamos nervosos e nos descontrolamos. Nesses momentos, temos que ter a humildade de pedir desculpas e procurar nos acalmar. Não podemos permitir que o ego desarmonize nossos relacionamentos.
Perdoar não é apenas dizer: “Eu o perdoo”. O perdão está oculto nas ações, nas palavras gentis, nas expressões de compreensão e bondade.
Faça uma reflexão agora
Procure lembrar-se de algum momento em que alguém estava falando com você, de uma maneira desagradável, com raiva, e nesse instante, surgiu a sabedoria no seu coração. Com essa sabedoria e compreensão você compreendeu que o outro não estava bem, que devia ter problemas para agir assim, e você não se deixou levar pela raiva.
Você notou como essa sabedoria lhe protegeu?
Percebeu como se sentiu forte e livre por transcender isso e perdoar automaticamente?
No yoga, temos um passo muito importante para nossa evolução e para adquirimos sabedoria. Esse passo é fazer Dharana, que é contemplação, autoinvestigação.
É fazer a autoindagação, sem sentimento de culpa, refletindo sobre nossas atitudes e os ensinamentos.
Priorize um momento tranquilo para fazer essa Contemplação do Perdão que vou sugerir a você.
E, para aquietar sua mente, faça antes essa breve meditação de 5 minutos:
Sente-se confortavelmente num lugar calmo.
Alinhe sua coluna e coloque suas mãos sobre suas coxas.
Feche os olhos.
Relaxe seu rosto. Solte os músculos da testa. Solte os maxilares.
Observe a sua respiração. Apenas perceba o ar entrando e saindo, sem tentar puxar o ar. Não faça nada para respirar. Perceba o fluxo natural da respiração acontecendo.
Para essa meditação breve, perceba a inspiração e ao expirar, silenciosamente, repita o mantra OM.
Faça isso por 5 minutos.
Não tente parar seus pensamentos. Se eles vierem, deixe que venham e que vão, como hóspedes, que vem e vão.
Lembre-se que meditar não é controlar sua mente. Se tentar fazer isso, a mente fica mais inquieta ainda. Apenas pare seu corpo e quando puder, repita mentalmente o mantra OM somente na expiração.
Com sua mente já mais calma pela meditação, fica mais fácil você se conectar com a câmara de seu coração, o lugar mais profundo de seu interior, onde somente você e Deus têm acesso. É nesse espaço tranquilo e sagrado que está a sabedoria e a bondade.
Continue agora percebendo sua respiração, o ar entrando e saindo.
Permita-se ficar um pouco mais nesse espaço tranquilo dentro de sua alma.
Permita-se entrar em contato com seu poder divino.
Agora faça essa Contemplação do Perdão:
Liberte-se do apego à raiva. Abandone seus antigos rancores.
Permita que a corrente do perdão espontâneo flua em seu coração.
Não deixe que seja apenas um exercício mental.
Permita que todo seu ser esteja envolto no perdão.
Nesse momento, sinta que perdoou a todas as pessoas e fatos.
Deixe que surja em sua mente os nomes das pessoas por quem sentia raiva.
Deseje que todos sejam felizes.
Ao desejar que sejam felizes, você está sentindo perdão e se libertando.
Agora, volte-se para você novamente.
Sinta que perdoou a si mesmo.
Liberte-se do sentimento de culpa.
Arrependa-se com sinceridade e, em vez de sentir culpa, tenha humildade de aprender com seus erros.
Descubra suas boas qualidades.
Reflita sobre elas.
Permita-se lembrar de sua própria divindade interior.
Quando terminar, una suas mãos no gesto da prece e ore:
Eu irradio cordialidade para aqueles que são felizes, compaixão para os que são infelizes, equanimidade para todos.
Que todos possam ser felizes.
Que todos fiquem contentes e saudáveis.
Que bênçãos divinas nos envolvam e a toda nossa família.
Que possamos ter prosperidade, saúde e nossos desejos satisfeitos.
Paz a todos os seres!
Lembre-se, você não pode perdoar alguém e, ainda assim continuar guardando ressentimentos antigos na sua memória, porque o perdão faz acontecer uma maravilhosa alquimia no seu interior.
Desapegue de seus antigos ressentimentos e mágoas, pois essa alquimia faz você se sentir tão bem. Você se sente livre para respirar, para apreciar a natureza ao seu redor, para ver a bondade das pessoas. Você é permeado por uma energia nova que o faz sentir cada vez melhor conforme seu coração se abre.
Ao escrever esse texto, fiquei muito contente comigo mesmo ao perceber como essa alquimia do perdão aconteceu dentro de mim. Não surgiu mais em meu coração ninguém que eu precisasse perdoar. O perdão aconteceu verdadeiramente em meu interior.
Mas, quando comecei minha jornada no yoga , havia muitas mágoas e raiva acumulada. E,devido às práticas espirituais do yoga, como a meditação, o canto dos mantras, o serviço altruístico, feito amorosamente, minha vida se abriu para o amor e para a paz interior.
Realmente é uma bênção praticar yoga e se libertar para ser mais feliz.
Perdoe e seja mais alegre. Deixe que a alquimia do perdão traga entusiasmo e serenidade para sua vida. Fique em paz! Namaste! Deus em mim saúda Deus em você!