por Patricia Gebrim
É claro que todos nós ansiamos por viver em paz. Queremos viver relacionamentos harmoniosos, daqueles que nos fazem sentir bem. Queremos relações de trabalho e de amizade equilibradas. Queremos um ambiente familiar tranquilo.
No entanto, eu gostaria de pensar com você sobre a verdadeira e a falsa paz. Sim, porque nem sempre paz significa equilíbrio e harmonia. Algumas vezes, senão muitas vezes, aquilo que chamamos de paz trata-se mais de um acordo não verbal em que fingimos algo que não é real.
A falsa paz
Muitas vezes para obter paz, concordamos em dar em troca algo de vital importância para nós. Pagamos um alto preço para obter a tão sonhada 'paz', sem nem mesmo nos darmos conta disso. Para obter esse tipo de paz, acabamos abrindo mão da nossa verdade, da nossa voz, da nossa criatividade, do nosso verdadeiro Eu.
A falsa paz acontece quando negamos a nós mesmos e concordamos com o outro apenas para evitar conflitos. Acontece quando nos acovardamos e evitamos olhar para a realidade, quando preferimos brincar em meio às ilusões, nossas ou de outros. A falsa paz acontece quando deixamos de ser quem somos, quando deixamos de dizer o que pensamos e de agir segundo o que acreditamos.
A falsa paz é aquela que é obtida pelo nosso 'Eu mascarado'. Fingimos que concordamos, afinal, 'para que discordar'? Fingimos que gostamos, afinal, 'para que frustrar o outro'? Fingimos que sabemos, afinal, 'que diferença faz'? O motivo para assumirmos esse 'Eu mascarado' parece nobre, afinal, estamos fingindo para obter esse artigo tão sublime e desejado… a tal paz, não é mesmo?
O problema é que, ao assumir essas máscaras deixamos de ser quem somos, traímos a nós mesmos, deixamos de revelar a nossa verdade, deixamos de presentear o mundo com aquilo que é único em cada um de nós. Além disso, acredite, a coisa toda não funciona. Nunca seremos de fato felizes se estivermos baseando a felicidade em uma falsa paz. Acabamos nos tornando ausentes e artificiais, e por mais que nos esforcemos, o outro acabará pressentindo essa falta de verdade, e acabará se afastando de nós.
É fácil encontrar exemplos da 'falsa paz'. Pense naqueles relacionamentos em que tudo parece sempre calmo e equilibrado, mas onde não há crescimento, não há vida. É como uma poça de água parada. Perfeitamente parada, a ponto de começar a apodrecer, pois tudo o que fica estagnado acaba morrendo um dia.
A vida é aquilo que flui ininterruptamente.
Paz não é ausência de movimento, não é imobilidade, muito menos perfeição.
O que é a verdadeira paz, então?
A verdadeira paz
A verdadeira paz é o mais belo fruto de nosso crescimento e trabalho pessoal. É conquista. É fruto de muita luta interna.
A verdadeira paz acontece quando optamos por ser verdadeiros, mesmo que ao fazer isso possamos colocar em andamento algum tipo de conflito. (Não confunda 'ser verdadeiro' com a prática de 'honesticídio', hein?)
Pense que os conflitos podem ser também positivos, se forem vivenciados juntamente com uma qualidade amorosa, e se nos levarem a nos transformar e crescer. Os conflitos são como o atrito entre duas pedras, que acaba por proporcionar polimento e a revelação dos diamantes que se escondiam sob as camadas mais superficiais da rocha.
Para obter a verdadeira paz você precisará se dispor a lidar com os obstáculos e desafios da vida e dos relacionamentos. Precisará evitar a tentação de pular etapas, refugiando-se em seu 'Eu mascarado' que finge que 'não há nada errado'. Precisará confiar que existe em você essa força poderosa – o seu 'Eu superior'-, capaz de conduzi-lo pelas tempestades da vida. A verdadeira paz é como o sutil arco-íris, um maravilhoso presente reservado àqueles que não temem as tormentas.
Espero que você se lembre disso na próxima vez em que se perceber em meio a uma tempestade.
Espero que abra mão dos caminhos mais fáceis, que enfrente a aspereza de seus próprios labirintos desconhecidos, em busca da verdade de seu Eu e, que a partir dessa verdade, encontre a verdadeira paz.