Lei do esforço inverso: já ouviu falar?

Lei do esforço inverso: o que isso tem a ver com simplesmente SÓ desviar o foco de um determinado obstáculo? Entenda por que muitas vezes seguir o fluxo dos acontecimentos, ou de uma determinada situação, com naturalidade e esforço zero, traz enorme eficácia. Ou seja, quanto menor o esforço, maior a eficácia.         

O psicólogo francês Émile Coué explica que “quando a imaginação e a força de vontade estão em conflito, são antagônicas, é sempre a imaginação que vence, sem exceção” para descrever o que o escritor Aldus Huxley chamou de Lei do Esforço Inverso.

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Se a frase de Coué te confundiu vamos ao exemplo: pense na areia movediça. É uma superfície que parece sólida, mas quando você pisa nela, se separa em água e areia que faz com que o corpo afunde e sair dela exige uma força enorme. É aí que reside o erro e a razão pela qual as areias movediças são uma boa analogia.

A maneira de evitar ser engolido pela areia movediça é não se esforçar tanto: parar de lutar e deitar-se com calma para que o peso seja distribuído. Assim a pressão diminuirá e permitirá que você rasteje até um local seguro.

Desviar o foco do “obstáculo” funciona   

Algo semelhante deve ser feito quando você não consegue adormecer, ou tem um ataque de riso em um momento inconveniente, ou não consegue se lembrar de algo, em vez de se forçar a tentar fazer o que não consegue, relaxe e faça (ou pense) em outra coisa.

Isso porque, embora possa parecer contraditório, às vezes fracassamos porque nos esforçamos demais. Isso não significa que você nunca tenha que fazer nada, ou que sempre tenha que ter uma atitude passiva diante da vida, mas, às vezes, quanto mais você tenta melhorar algo através da força de vontade, mais piora a situação.

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Siga o fluxo dos acontecimentos, ou de uma determinada situação, com naturalidade e esforço zero 

Em linhas gerais, a ideia é que quando paramos de lutar e aprendemos a esperar e observar, vemos com mais clareza que existem forças externas que nos superam e às vezes temos que seguir o fluxo e só agir no momento certo e com as medidas corretas para chegar ao destino desejado.

Ao agir precipitadamente, cada passo é um erro potencial, e a emoção e o ego podem acabar guiando as decisões mais do que a razão.

No flow (fluxo) tudo é e não é 

Segundo Huxley, a expertise e seus resultados só são alcançados por aqueles que aprenderam a arte paradoxal de fazer e não fazer. Em uma de suas palestras intitulada “Quem Somos”, ele observou que “temos que combinar relaxamento com atividade”.

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Portanto, quando insistimos em nos esforçar para fazer algo que não estamos conseguindo, o que acontece é que o eu superficial atrapalha todos os outros poderes de nossos eus mais profundos e mais amplos com conhecimentos e habilidades que nos possibilitam ser. É algo que herdamos, algo que faz coisas como digestão e regulação automática dos batimentos cardíacos.

Solta, desapega… que o “mundo” e o brilho vêm  

Se relaxarmos, deixamos que brilhem. “Temos sempre que aprender esta arte paradoxal de combinar o relaxamento do eu superficial, com a atividade dos não eus, que carregamos conosco e que, na realidade, nos dão o nosso ser.” Isso porque “em todas as capacidades psicofísicas temos este fato curioso da lei do esforço invertido: quanto mais tentamos, pior nos saímos”.

Para Huxley, o objetivo de todas as atividades da vida, desde as físicas mais simples até as intelectuais e espirituais mais elevadas, “é não impedir que nossa própria luz surja, mas sem abdicar de nosso eu pessoal consciente” – o ‘eu’ que se esforça demais, aquele que pensa que sabe tudo.

Não podemos simplesmente dormir e esperar que tudo aconteça”, mas, sim, permitir que a sabedoria do eu profundo emerja e, ao mesmo tempo, deixar o eu consciente “organizá-la de uma forma que seja útil para nós mesmos e para os outros.

A lei do esforço inverso é inestimável nos momentos em que você não para de se mover, mas não avança, pelo menos não na direção desejada. Isso pode levar a um ciclo vicioso em que você se sente mal por não ter feito o suficiente, se esforça ainda mais e se força a continuar.

Mas, alertam os psicólogos, essa pressão só serve para aumentar o estresse e bloquear o caminho.

Pesquisas sobre produtividade no trabalho, por exemplo, mostram que somos verdadeiramente produtivos apenas durante as primeiras quatro ou cinco horas de cada dia de trabalho.

Depois, há uma queda considerável no desempenho, ao ponto de a diferença entre trabalhar 12 e 16 horas ser praticamente inexistente. O que se produz nada mais é do que cansaço mental e físico.

Mas não se confunda: a lei do esforço inverso não é sinônimo de resignação, nem convida à passividade, à apatia ou à mediocridade. Pelo contrário, incentiva a reflexão e nos motiva a parar, avaliar as circunstâncias e assumir a melhor atitude possível. Ela ajuda a reduzir o estresse em qualquer um dos dias ou períodos da sua vida pessoal ou profissional em que parece não haver nada além de pressão.

Ficar obcecado com tudo o que precisa ser feito ou com as coisas ruins que podem acontecer não ajuda, mas tomar distância psicológica e dar-se tempo para respirar significa uma forma de ajuda.

O momento seguinte é uma página em branco

Essa lei informal é uma ferramenta útil quando você está diante de uma página em branco que precisa preencher com pensamentos e não sabe como se expressar, seja você um escritor profissional ou não.

E até nas relações interpessoais ela tem o seu lugar: às vezes, quanto mais você tenta se aproximar de alguém, mais a pessoa se afasta. Mas talvez você obtenha mais resultado seguindo aquele ditado que diz que, se você ama uma pessoa, deve deixá-la ir; se ela voltar, sempre foi sua; caso contrário, nunca foi.

Coordenador do serviço de atendimento a pacientes com tricotilomania no PRO-AMITI/IPq FMUSP. Supervisor clínico na UNIP. Psicólogo pela Universidade Metodista. Mestre em ciências pela Faculdade de Medicina da USP. Especialização em Terapia Cognitivo-comportamental pelo Ambulim/IPq FMUSP. Especialização em Psicologia Hospitalar pela UNISA