Eu trabalho com crianças há mais de 20 anos. E a linguagem que elas trazem na terapia são um material riquíssimo para entender a psique infantil. Há muitos anos atrás um menino de 4 anos me disse: “Não é verdade tia Sandra, que o patinho feio sofreu bullying?”. Era a forma como ele tentava entender o que acontecia na escola.
Segundo pesquisa do Datasenado* “QUASE SETE MILHÕES DE ESTUDANTES SOFRERAM ALGUM TIPO DE VIOLÊNCIA NA ESCOLA. A pesquisa também apontou que as pessoas têm mais medo da violência na escola do que nas ruas – 90% contra 76%.”
O microcosmo da escola reflete as dificuldades que a pessoa irá enfrentar na vida. Mas as vezes o assédio moral dos professores e o bullying dos colegas da escola são tão intensos que algumas crianças e adolescentes cometem suicídio.
Na história do Patinho Feio do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen conseguimos perceber algumas semelhanças do que acontece na escola e em outros ambientes da criança:
“Um filhote de cisne é chocado no ninho de uma pata. Por ser diferente dos demais filhotes, o pobrezinho é perseguido, ofendido e maltratado por todos os patos e outras aves.
Um dia, cansado de tanta humilhação, foge do ninho. Durante a sua jornada, ele para em vários lugares, mas é maltratado em todos que passava. Por fim, uma família de camponeses o encontra e ajuda-o acolhendo durante o inverno. Mas a família tem um gato que expulsou o patinho.
Um dia, no entanto, deslumbrado com a beleza dos cisnes, o patinho feio decide ir até eles e percebe, espelhando-se na água, que ele não é mais um patinho feio (e que ele na verdade, nunca foi um pato), mas se tornou um magnífico cisne. Finalmente ele acaba sendo respeitado e se torna mais bonito do que nunca.”
Observamos neste resumo da história os sentimentos de inadequação, angústia, ansiedade, medo, tristeza, solidão e abandono. A ameaça de um mundo hostil e a falta de conexão consigo mesmo nos leva à depressão. Mas observem que detalhe interessante: quando nos olhamos no espelho, quando conseguimos nos enxergar, refletimos a nossa verdadeira natureza, e nos conectamos aos nossos semelhantes. O autoconhecimento é a chave para a vida.
Quando nos conscientizamos da nossa própria natureza conseguimos florescer em meio ao caos. Como disse Carl Gustav Jung: “Só aquilo que realmente somos tem o poder de curar-nos.”