Natal: abra-se para os pequenos milagres

Feliz Natal: ao se abrir para os pequenos milagres você será ungido pela boa sorte! Veja como é fascinante poder olhar pelo buraco da fechadura divina.

Era começo de dezembro ainda do milênio passado. Minhas filhas pequenas me pediram uma árvore de Natal toda enfeitada. A situação estava muito difícil, a grana curtíssima e não sabia como poderia satisfazer essa vontade das minhas filhas. Morava numa casa com um quintal que o antigo proprietário havia cimentado todo, com exceção de um quadrado que era um microjardim de … mato, que eu tentava limpar à medida em que crescia.

Continua após publicidade

Mas lá pelo dia 10 de dezembro, percebi que um “mato” diferente estava crescendo no meio do quadrado. Refreei o impulso de arrancá-lo sem saber exatamente por quê. Mais uma semana e o arbusto cresceu muito, estava tomando a forma estranha… a forma de uma árvore de Natal. No dia 24 a minha “árvore” já estava com um metro e meio, e linda, quase um pinheiro; e foram as minhas filhas que desvelaram o segredo: “Pai olha a nossa árvore de Natal! Olha pai que linda.” O “mato” estava tão formoso que elas nem quiserem enfeitá-lo, e sabiam que havia sido um presente de Deus. Aquele foi um dos melhores natais que passamos.

Milagres: conjunção da coisa certa no momento certo

Minha vida tem sido um desfile de pequenos milagres, coisas bem simples que vieram em momentos especiais. Essa conjunção da coisa certa no momento certo já seria suficiente para ser considerado um pequeno milagre, mas ainda precisaria de mais um último (triplo) “carimbo” para receber esse status: A percepção, o reconhecimento e a gratidão.

Essa tríade é que transforma o que para muitos seria apenas um mato daninho crescendo num ridículo quadrado de terra em uma árvore de Natal; e a gratidão que a gente demonstra por ter sido “agraciado” pelos céus, lhe dá a dimensão do sagrado.

Certa vez falando sobre os pequenos milagres numa palestra, uma pessoa perguntou se todos são “agraciados” com pequenos milagres ou eu era o escolhido. Eu lhe respondi que não podia saber se todos se deparavam com pequenos milagres na vida, porque todos é muita gente, mas acreditava que a maioria sim. Mas também acreditava que a imensa maioria não se beneficiava desses milagrinhos e sabem por quê? Por que estavam olhando (e esperando) os grandes milagres, ou de olhos fechados para milagres de qualquer tamanho. Não tinham a percepção, não reconheciam o milagre e por não o reconhecerem não se sentiam mobilizados a serem gratos. Assim, para muitos, fecha-se a torneirinha dos pequenos milagres.

Continua após publicidade

Claro que existem pessoas que precisam de um grande milagre, precisam que a cura de uma doença grave chegue a tempo, precisam que a bala que voa em sua direção à velocidade do som, não atinja seu coração e sim o seu celular, precisam que uma pessoa que está passando no local ouça o choro de uma criança recém-nascida que foi jogada no terreno baldio e tem apenas mais alguns minutos de vida.

Por isso que se chamam milagres, são as mãos de um ser supremo reescrevendo na última hora aquele script e lhe dando um novo final até então impensado (embora muito desejado).

Mas os pequenos milagres não mudam o curso de nossa vida, não nos arrancam dos braços da morte, nem salvam a cidade do vulcão quando tudo parecia irremediavelmente perdido.

Continua após publicidade

Pequenos milagres, você está sendo testado

Os pequenos milagres são quase uma brincadeira de Deus, uma pegadinha, que Ele ou Ela faz para saber se estamos espertos, alertas, quase que para testar nossos reflexos.

É claro que quanto mais você mostra que está atento, reconhece a intervenção divina (seja qual for a sua origem “divina”) mais esse Deus continua querendo “brincar” com você. No fundo Deus quer mesmo é saber se a gente está acordado e se reconhece o autor das pegadinhas. Mas e a gratidão, que papel esse comportamento/sentimento tem nesse fenômeno? Acredito que a gratidão é a pimenta, o tempero que mantém a porta aberta e agrada o freguês de forma que ele queira sempre voltar.

Há cerca de vinte e poucos anos sofri um acidente de carro de madrugada na estrada. Chovia muito, meu carro aquaplanou, rodou e eu caiu num barranco de cinco metros. Consegui sair do carro me arrastei barranco acima e cheguei na beira da estrada sem óculos, ferido no rosto e desorientado. Imediatamente um carro parou, apesar de ser madrugada, deu marcha à ré e um casal saiu do caro, me colocaram no banco de trás e me levaram até a minha cidade, foram até o hospital, entraram comigo já fazendo escarcéu para que eu fosse atendido imediatamente, ligaram para a minha mulher e se foram.

No caminho me contaram que moravam em outra cidade e que resolveram pegar essa estrada sem razão apenas para poder discutir a relação, uma vez que estavam tentando se reconciliar. Nem sabiam ao certo por que pegaram a estrada onde eu estava que levava ao extremo oposto da cidade deles e ainda por cima numa madrugada chuvosa. Não temeram ser assaltados, fizeram tudo que foi possível para reduzir os danos que sofri e sumiram, nunca mais os encontrei para agradecer. Eu não corria risco de morte, não fraturei nada além do nariz, portanto não foi um milagre salvador e sim um pequeno milagre daqueles que se vê claramente a mão divina atuando como um autor de novelas que se diverte alterando a vida de seus personagens.

Mesmo quando estava dentro do carro do casal, com dores e em choque, sabia que se tratava de um dos pequenos (na hora achei que era maior que pequeno) milagres da minha vida, consegui sorrir e agradecer ao autor daquela cena por estar escrevendo um drama, e não uma tragédia, com final feliz para mim e quem sabe para os namorados que talvez colocassem a partir dali as suas desavenças em uma perspectiva mais real – pode ser que elas não fossem tão sérias como eles pensavam ou queriam fazer ser.

Todos os dias agradeço por não precisar de grandes milagres. Mais que isso, agradeço por ser premiado com a lucidez (ou a pretensão) de vislumbrar essa engrenagem espiritual que produz na minha vida os pequenos milagres. É fascinante poder olhar pelo buraco da fechadura divina e ver, mesmo uma ínfima parte da fantástica fábrica, bem-humorada, de pequenos milagres de Deus.

R.I.P 09/01/2018 Foi um escritor e autor dos seguintes livros: "Feng Shui para Brasileiros - A Medicina da Habitação", "Feng Shui - Energia e Prosperidade no Trabalho", "Feng Shui Para Brasileiros - A Cozinha" - todos pela Editora Campus. "Não Te Devo Nada" e "Solidão Nunca Mais" ambos pela Bertrand Brasil. A parceria mais longa de sua vida foi com o Vya Estelar (18 anos), onde chegou a ser decano.