por Ceres Araujo
O mês de Julho terminou e as férias acabaram. Muitas crianças aproveitaram as férias viajando com seus pais, para hotéis, fazendas, sítios, casa de praia, casa de campo da família ou de amigos. Outras não puderam usufruir da companhia de seus pais em viagens, pois esses precisaram trabalhar, não puderam ter férias nesse mês.
Os acampamentos surgiram como uma possibilidade de se atender a necessidade de atividade de férias de crianças, cujos pais não podem ter férias juntos, mas também como um meio de favorecer atividades grupais a crianças que, nas férias, por diversas razões, permaneceriam sozinhas ou sem programas de interesse.
Os acampamentos proliferaram nos nossos dias, pois cada vez mais as mães também trabalham, não podendo viajar junto aos filhos. Proliferaram, também, pelo fato dos acampamentos, cada vez mais interessantes, despertarem a atenção das crianças que, em geral, quando vão pela primeira vez, gostam muito e desejam repetir a atividade.
Férias junto aos filhos, viagens junto às crianças, proporcionam aos pais uma oportunidade de aproximação importante da família, longe das pressões e das rotinas da vida diária, além da chance de conhecerem juntos, lugares novos e compartilharem experiências e mesmo aventuras. Muitas dessas experiências e aventuras permanecem na memória por toda a vida.
Quando isso não é possível, surge a alternativa dos acampamentos e com frequência um conflito pode se instalar entre pais e filhos. Existem crianças que pedem para ir a acampamentos e outras crianças que têm medo. Existem pais que desejam que seus filhos tenham tal experiência e pais que têm medo. Quando os medos são compartilhados, é evidente, que a possibilidade de um acampamento nem é cogitada na família. Mas, quando o medo é só de um lado, um conflito surge.
Sabe-se que, nos dias de hoje, mais precocemente as crianças estão conquistando autonomia e frequentam casas de amigos, viajam com parentes, colegas etc., muito mais jovens que antigamente. Mas, algumas crianças têm medo real de se separarem de seus pais, sentindo-se seguras apenas em suas casas. Para essas crianças, a sugestão de ir a um acampamento é vivida com temor. Não necessariamente essas crianças possuem alguma patologia psicológica. Ter medo é normal, apenas se precisa, ao longo da vida, ir sempre tentando controlar o medo e não deixar que o medo predomine e que a curiosidade pelo novo não seja despertada.
Quando a criança tem medo, é provável que um processo de desensibilização gradual desse medo, de encorajamento para aventuras, de garantia de proteção, mesmo à distância, por parte dos pais, possa motivar, despertar o interesse e convencer o filho a participar de tal empreitada. Isso, caso os pais, de fato, estejam seguros de que a ida ao acampamento é o melhor para seus filhos, naquela ocasião.
Na maioria das vezes, a criança que tem medo, mas que se enche de coragem e consegue ir, aproveita muito o acampamento e passa a desejar ir mais vezes. Além disso, por ter enfrentado o medo, teve a chance de um aprendizado importante de administração de estresse e se torna mais fortalecida para a vida em geral.
O problema é bem maior quando o medo é dos pais. Deve-se criar os filhos para o mundo e não para mantê-los grudados a si mesmos. Relações exageradamente endogâmicas, dentro da família, determinam fragilidade e insegurança nos filhos. O mundo, de verdade, é perigoso e as crianças não podem ser expostas, precisam de proteção e cuidados. Porém, os excessos são prejudiciais, pois nao permitem que as crianças aprendam a lidar, de maneira adequada, com situações novas.
Tomados os devidos cuidados, bem escolhido o acampamento, tendo-se segurança a respeito dos adultos que se responsabilizarão pela criança, os pais podem permitir essa experiência para seu filho. Sabe-se que o medo é inevitável sempre que se separa do filho, em muitas situações, em qualquer idade, mas sabe-se também que é fundamental permitir o ganho crescente de autonomia para que o filho cresça e se torne um cidadão do mundo, no futuro.