O magnésio (Mg) é um íon essencial no corpo humano, regula inúmeros processos fisiológicos (saúde) e patológicos (doenças). No entanto, a sua deficiência é frequente em idosos. A dose mínima diária recomendada é de 420 mg para homens e 320 mg para mulheres, e pode ser suplementada em cápsulas.
Doenças crônicas relacionadas à idade e o próprio processo de envelhecimento estão associados à inflamação sistêmica de baixo grau (conhecida como “inflammaging”). A insuficiência crônica de Mg está ligada à geração excessiva de marcadores inflamatórios e radicais livres, induzindo um estado inflamatório crônico pró-doença.
Fontes de magnésio e consumo diário recomendado
O magnésio é obtido através da alimentação, de água mineral e de suplementos. O consumo de Mg dietético, presente em alimentos como feijões, oleaginosas, folhas verdes, cacau, abacate, gema de ovo e peixes, diminuiu nas últimas décadas devido à agricultura industrializada (solo pobre no mineral) e mudanças nos hábitos alimentares, priorizando embalados, congelados, fast-food.
Déficit leve, médio e crônico
Várias alterações do metabolismo do magnésio ocorrem com o envelhecimento, incluindo a diminuição da ingestão na dieta, absorção intestinal prejudicada e perda renal. Déficits leves são geralmente assintomáticos e os sinais clínicos não são específicos ou estão ausentes, porém quando o déficit é mediano pode ocorrer fadiga, distúrbios do sono, disfunção cognitiva (sintomas comuns em idosos). Já déficits crônicos de Mg aceleram a produção de radicais livres e moléculas inflamatórias, contribuindo para doenças cardiovasculares, hipertensão, AVC, diabetes, síndromes pulmonares, asma, depressão, estresse, transtornos psiquiátricos, Alzheimer e outras demências, dor muscular, fibromialgia, fragilidade óssea, osteoartrite, câncer.
Neuroinflamação e neurodegeneração
O magnésio está envolvido na regulação do metabolismo e na manutenção da homeostase (equilíbrio fisiológico) de todos os tecidos, incluindo o cérebro, onde facilita a transmissão dos sinais nervosos e preserva a integridade da barreira hematoencefálica. A deficiência de Mg contribui para a inflamação sistêmica de baixo grau, um ponto comum na maioria das doenças crônicas. Assim, a neuroinflamação é a marca registrada das doenças neurodegenerativas. O papel do Mg no cérebro é crucial, e o seu desequilíbrio pode contribuir para a esclerose múltipla, Alzheimer e Parkinson.
Barreira hematoencefálica e neurotrofinas
O magnésio é essencial na proteção da integridade e da função da barreira hematoencefálica, o arcabouço celular impenetrável que regula a homeostase do sistema nervoso central (SNC) e mantém a função neurológica saudável, defende o cérebro contra toxinas e patógenos, e controla bidirecionalmente a passagem de moléculas entre o sangue e o SNC. O cérebro produz várias neurotrofinas, entre as quais o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), que contribui para a plasticidade neuronal e é essencial para a aprendizagem e memória. Estudos mostram que a suplementação de Mg está ligada ao aumento do BDNF sérico.
Células zumbis
A deficiência de magnésio está conectada à inflamação crônica de baixo grau no cérebro e à senescência cerebral (células que perdem a função, também chamadas de células zumbis). O Mg é essencial na proteção da integridade e função da barreira hematoencefálica – é ela que controla as idas e vindas de qualquer molécula no nosso cérebro. O Mg regula o ritmo circadiano do metabolismo e função celular, e este controle circadiano do estresse oxidativo e vias inflamatórias desempenha um papel na neurodegeneração por acúmulo de proteínas neurotóxicas.
Barreira intestinal e eixo microbiota-intestino-cérebro
O magnésio também apoia a integridade da barreira intestinal – a deficiência de Mg causa uma disfunção intestinal (leaky gut) que libera a passagem de lipopolissacarídeos (toxina presente na parede celular de bactérias Gram-negativas) para a circulação sistêmica, promovendo inflamação. A baixa de Mg desequilibra o eixo microbiota-intestino-cérebro, aumentando a neuroinflamação ao alterar a microbiota intestinal. A microbiota influencia o sistema nervoso por meio da ativação do nervo vago, da produção de citocinas e da liberação de neuropeptídeos e neurotransmissores – tudo junto e misturado.
Treonato de magnésio
Repor o magnésio de forma adequada é essencial. Um aspecto que requer atenção é a escolha do sal de magnésio que atravessa de forma mais eficiente a barreira hematoencefálica para ser utilizado em caso de insuficiência. Uma ingestão dietética correta de Mg pode representar uma medida preventiva, enquanto a suplementação de Mg pode ser uma opção adjuvante na neurodegeneração. Dentre as diversas opções de sais de magnésio, o que tem entrada livre no cérebro é o magnésio treonato, usado em doses entre 1.500 a 2.000 mg.
Referências:
*Nutrients 2024. Magnesium and the Hallmarks of Aging.
*Molecular Science 2023. Magnesium and the Brain: A Focus on Neuroinflammation & Neurodegeneration.
*Biological Trace Element Research 2023. A Mini Review on the Various Facets Effecting Brain Delivery of Magnesium & Its Role in Neurological Disorders.