Acho que meu cliente está sendo exposto ao cianeto. Como terei certeza disso?

Exposições letais aos cianetos resultam apenas de acidentes, suicídios ou homicídios – por envenenamento

Os cianetos são venenos de ação rápida que podem ser letais. Um dos tipos de cianeto, o cianeto de hidrogênio, foi isolado pela primeira vez do corante azul da Prússia em 1786 (por isso, o nome antigo “ácido prússico”). Também, foi extraído das amêndoas por volta de 1800.

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Eles foram usados ​​como armas químicas desde a Primeira Guerra Mundial. Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas usaram cianeto como agente de genocídio nas câmaras de gás. Correntemente, os cianetos e compostos contendo cianetos também são usados ​​em diferentes tipos de indústria e na manufatura.

Abaixo, citamos algumas das propriedades químicas dos cianetos:

  1. O cianeto de hidrogênio é um líquido azul claro ou incolor abaixo de 25°C e um gás incolor em temperaturas mais altas. Possui odor de amêndoa amarga e é altamente volátil e inflamável à temperatura ambiente;
  2. O cianeto de sódio e o cianeto de potássio são pós brancos que podem ter um odor amargo de amêndoa. Na presença de umidade, ambos podem formar cianeto de hidrogênio;
  3. Compostos de cianogênio podem gerar cianetos. O cloreto de cianogênio é um gás liquefeito incolor, mais pesado que o ar e possui um odor pungente e altamente irritante. É solúvel em água e solventes orgânicos.

De uma forma geral, o cianeto é uma substância tóxica capaz de inibir a citocromo oxidase (e, portanto, a respiração celular). A maior parte do cianeto inoculada no corpo humano permanece ligada aos eritrócitos (hemácias); porém, uma pequena fração se difunde no plasma e é convertida em tiocianato. Portanto, monitorar as concentrações plasmáticas e/ou urinárias do tiocianato é um marcador útil da toxicidade sistêmica iminente dos cianetos.

A intoxicação pode ser óbvia como uma acidose metabólica progressiva ou pode manifestar-se como delirium e/ou sintomas psicóticos. Indivíduos intoxicados também têm a reputação de ter o cheiro característico de amêndoa amarga do cianeto de hidrogênio; porém, apenas 20 a 40% dos intoxicados liberam tal odor que, muitas vezes, é bastante discreto.

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O cianeto é rapidamente eliminado do corpo por meios não enzimáticos, reagindo com grupos sulfidrila nas proteínas dos tecidos circundantes e nas hemácias. Além disso, o fígado metaboliza enzimaticamente os cianetos para tiocianato, através do sistema enzimático rodonesa.

Exposição aos cianetos

As pessoas podem estar expostas a baixos níveis de cianetos na sua vida diária, provenientes de alimentos, fumo e outras fontes. No entanto, as exposições letais aos cianetos resultam apenas de acidentes, suicídios ou homicídios. A inalação de gás cianeto, especialmente num espaço fechado, representa um risco significativo para a saúde. A ingestão de alimentos e bebidas contendo cianetos também pode causar efeitos à saúde. A informação limitada disponível sobre a exposição dérmica aos cianetos sugere que doses suficientemente grandes causam efeitos na saúde semelhantes aos da inalação e da ingestão.

Testes de detecção de cianetos

Diagnóstico de intoxicação por cianeto é principalmente clínico

Os testes laboratoriais para detectar exposição ao cianeto não serão úteis na tomada de decisões durante o tratamento de emergência. Estão disponíveis exames médicos, mas qualquer atraso na administração de antídotos colocará em perigo o bem-estar do paciente. O tratamento não deve ser adiado se estiverem presentes sinais e sintomas e se houver suspeita de que ocorreu a exposição.

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De acordo com o New York State Department of Health (2004), o diagnóstico de intoxicação por cianeto é principalmente clínico. Os exames laboratoriais podem ser úteis no monitoramento do paciente, no tratamento de complicações e na confirmação da exposição. A concentração elevada de cianeto no sangue e a presença urinária de tiocianato podem confirmar a exposição ao cianeto.

Estudos epidemiológicos, terapêuticos e experimentais mostram a perigosidade da exposição crônica aos cianetos em humanos. Os humanos desenvolveram sistemas fisiológicos para desintoxicar os cianetos provenientes dos alimentos e do ambiente. No entanto, a exposição crônica aos cianetos pode sobrecarregar esses mecanismos corporais de desintoxicação e produzir efeitos biológicos adversos. Além disso, inadequações nutricionais, como baixa ingestão de iodo e enxofre e deficiências genéticas (por exemplo, erros inatos do metabolismo) podem exacerbar a toxicidade da exposição aos cianetos. Repisando, todos estes fatores contribuem para que o corpo deixe de ter a capacidade natural de desintoxicar os cianetos.

Os cianetos são desintoxicados em grande parte através do fígado (sistema rodonesa). Na presença de enxofre, o sistema enzimático converte os cianetos em tiocianato, o qual pode então ser excretado na urina. Se houver falta de uma dieta com aminoácidos contendo enxofre, a desintoxicação corporal pode ser retardada ou mesmo interrompida, impedindo, então, a conversão de cianeto para tiocianato. Consequentemente, em situações como esta, o tiocianato na urina não seria detectado e as consequências ainda mais trágicas (Downey et al., 2015).

Consequências da exposição crônica

A intervenção precoce é fundamental na intoxicação (aguda) por cianetos; no entanto, as grandes armadilhas são:

  1. Não interromper a exposição aguda
  2. Não administrar os antídotos imediatamente na intoxicação
  3. Não fazer o diagnóstico no início do curso.

Algumas complicações que os sobreviventes da exposição ao cianeto podem encontrar são sintomas Parkinsonianos ou outras formas de sequelas neurológicas (tremores, ataxia, diplopia).

Os gânglios da base são particularmente sensíveis à toxicidade por cianeto. A exposição crônica ao cianeto pode causar sintomas como dor de cabeça, paladar anormal, vômitos, dor no peito, ansiedade, inquietação, prejuízo da memória, prejuízo da coordenação motora.

A exposição prolongada aos cianetos e/ou ao seu principal metabólito, o tiocianato, tem sido associada ao bócio, Diabetes mellitus e vários distúrbios neurológicos. Efeitos nefrotóxicos e efeitos hepatotóxicos provocados pela exposição crônica aos cianetos têm sido registrados (Sousa, Soto-Blanco, Guerra, Kimura, & Górniak, 2002).

Alerta

A exposição crônica aos cianetos pode ocorrer através de várias rotas. Indústria mal regulamentada e fiscalizada de forma insuficiente são particularmente riscos de exposição prolongada ao cianeto.

A desintoxicação inadequada pode resultar em morbidade como déficits no controle motor, déficits de visão, disfunção endócrina, falha no funcionamento hepático e morte.

Para entender melhor a fisiopatologia da exposição crônica ao cianeto e para ajudar no desenvolvimento de contramedidas médicas, modelos animais foram desenvolvidos para simular diferentes vias de exposição e subsequentes lesões e disfunções resultantes da exposição crônica ao cianeto. Os danos são evidentes, as vias de exposição abundantes e o risco à vida elevado.

Não é porque é antigo que deixa de existir… Tomemos cuidado!!!

Referências:

Centers for Disease Control and Prevention. 2004. Cyanide. Emergency Preparedness and Response. U.S. Department of Health and Human Services. Public Health Service: Atlanta, GA.

Downey, J.D.;  Kelly A. Basi, K.A.;  Margaret R. DeFreytas, M.R.; Rockwood, G.A. (2015). Chronic Cyanide Exposure. In: Hall, A.H.; Isom, G.E.; Rockwood, G.A. Toxicology of Cyanides and Cyanogens:  Experimental, Applied and Clinical Aspects. John Wiley & Sons: Hoboken, NJ. p.: 21-40.

Sousa, A. B., Soto-Blanco, B., Guerra, J. L., Kimura, E. T., & Górniak, S. L. (2002). Does prolonged oral exposure to cyanide promote hepatotoxicity and nephrotoxicity? Toxicology, 174(2), 87-95.

Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Professor de Psiquiatria do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC. Pesquisador nas áreas de Dependências Químicas, Transtornos da Sexualidade e Clínica Forense.