por Anette Lewin
Resposta: Adolescência é um período da vida cheio de descobertas, novidades, sonhos e paixões.
Já amor… não se pode dizer que é a palavra mais adequada para definir a relação afetiva nessa fase. Exceção feita ao amor platônico, muito comum nesse período, onde o adolescente flerta com o ser perfeito, ideal que pode ser tanto o ídolo famoso quanto o colega de classe. Mas sempre no campo da utopia, raramente no da realidade.
O adolescente ainda não está preparado para enxergar o outro, emocionalmente falando, por uma razão muito simples: está em transição. Vive mudanças diárias em sua cabeça e em seu corpo e não consegue entender muito claramente quem é. Daí vem a projeção da ideia de perfeição numa outra pessoa. "O outro é perfeito, eu ainda não sei quem sou", pensa o adolescente.
Dentro dessa dinâmica, fica fácil entender como as paixões adolescentes que saem do campo platônico e entram no campo da realidade são intensas e até perigosas. Shakespeare, em seu "Romeu e Julieta" descreve muito bem esse perigo. O adolescente apaixonado vê seu parceiro amoroso como essencial, único e insubstituível e não consegue imaginar uma vida sem ele.
A simples ideia de perder essa pessoa soa trágica: se a pessoa amada se for, vão com ela todas as qualidades projetadas; e o que resta é um vazio insuportável para o qual a única solução é a morte. Assim aconteceu com os amantes de Verona de Shakespeare e assim acontece, felizmente, na maioria das vezes no campo simbólico, com os adolescentes apaixonados.
Por outro lado, junto com o sofrimento provocado pela intensidade desmedida dos sentimentos, a adolescência costuma ser o periodo do despertar da sensação amorosa romântica. A Bela Adormecida e a Branca de Neve saem do sono da passagem através do beijo de seus príncipes e certamente veriam neles, se as histórias continuassem, o seu tudo! Pura projeção, já que o outro só é perfeito quando desconhecido.
O adolescente em geral sente-se muito só. É comum vê-lo preenchendo o vazio do seu eu com ideias messiânicas; acredita que o mundo está completamente errado e suas ideias inovadoras irão salvá-lo. Assim, transita da sensação de impotência para a de poder em questão de segundos. No campo das ideias, é claro. No meio desse turbilhão fica difícil um lugar para o amor que exige concentração, cuidado e acolhimento.
Podemos dizer que a adolescência é a idade da formação do eu, não a idade do nós. Muito embora caminhe em grupos, o adolescente se une aos amigos mais para sentir segurança do que para estabelecer trocas. Certamente, se ele passar por essa fase e vivenciá-la com todas as suas peculiaridades, poderá sair preparado para encarar as trocas do amor de forma digna e responsável. Afinal, só é possível cuidar do nós quando se cuidou do eu.