Alimentos e plantas para doenças intestinais

Um alimento indicado para doenças inflamatórias intestinais, é o caldo de ossos; aprenda a fazer

Doenças inflamatórias intestinais são bastante comuns e podem causar dor abdominal intensa, inchaço, gases, constipação/diarreia, perda de peso e sangramento nas fezes. As mais conhecidas são a síndrome do intestino irritável, diverticulite, colite ulcerativa e doença de Crohn. Vegetais e ervas mucilaginosas tem ação suavizante no intestino inflamado. Cúrcuma, gengibre e boswellia desinflamam e cicatrizam a mucosa intestinal irritada. Suplementos como glutamina e ômega-3 são conhecidos por atuar em processos inflamatórios no cólon. Caldo de ossos é um verdadeiro elixir no combate à inflamação intestinal.

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Mucilagens

Mucilagens são um tipo de fibra com consistência escorregadia, encontradas em muitas plantas. Elas formam uma camada espessa, semelhante a um gel, quando misturadas com água. Após a ingestão, as mucilagens criam uma barreira ou forro temporário na mucosa intestinal, protegendo contra infecções e lesões, aliviando a irritação e promovendo a cicatrização dos tecidos. Por essas propriedades, as ervas mucilaginosas atuam acalmando e curando os tecidos inflamados que revestem o intestino.

Efeito prebiótico

Fibras mucilaginosas têm efeito *prebiótico sobre as bactérias intestinais. Elas são fermentadas pela flora local estimulando o crescimento de bactérias boas, ao mesmo tempo em que reduzem a população de bactérias danosas. As mucilagens não são fibras secas, elas formam **hidrocoloides em contato com a água, com consistência gelatinosa e pegajosa. Isso as tornam excelentes ajudantes no trânsito intestinal, tornando as fezes mais maleáveis. Além disso, diversos estudos mostram suas propriedades antibacterianas, antivirais e anti-inflamatórias, contribuindo no tratamento de doenças inflamatórias intestinais.

Babosa, quiabo, chia e outras

Plantas ricas em fibras mucilaginosas incluem babosa (Aloe vera), linhaça, chia, psyllium, aveia, quiabo, mandioca, banana da terra, moringa, feno grego, opuntia (um tipo de cacto comestível), espinafre, figo, cogumelo, ágar ágar, spirulina, kelp, licorice (alcaçuz), slippery elm (olmo escorregadio). Algumas podem ser consumidas como alimentos, outras vêm em forma de suplementos.

Cúrcuma

A cúrcuma atua na inflamação associada a doenças intestinais

Pesquisas mostram que a cúrcuma atua na inflamação associada a doenças intestinais, modula a microbiota local e repara danos teciduais ao longo do trato digestivo – os seus efeitos são comparáveis aos da hidrocortisona e diclofenaco (drogas anti-inflamatórias potentes). Estudos em modelos animais apontaram que a curcumina pode inibir o TNF-alfa, um dos mensageiros químicos inflamatórios associados à doença diverticular e diverticulite aguda.

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Boswellia e gengibre

Outro fitoterápico digno de nota é a resina da árvore Boswellia serrata, que contém um poderoso composto anti-inflamatório chamado ácido boswéllico. Em um modelo pré-clínico de inflamação intestinal, o extrato de Boswellia protegeu contra danos oxidativos e preveniu alterações inflamatórias, estruturais e funcionais nas células do revestimento intestinal afetado. Gengibre, com mais de 100 compostos químicos, relaxa o músculo liso no intestino, reduz náuseas e também atua como um eficiente anti-inflamatório.

Glutamina

Glutamina é um aminoácido com papel fundamental na manutenção da integridade da barreira intestinal, atuando como fonte de energia para as células que revestem a mucosa do cólon. A glutamina tem sido extensivamente estudada por sua capacidade de preservar a saúde estrutural e funcional do intestino, e por promover a sua rápida recuperação em lesões e infecções. Estudos em animais e in vitro apontam o potencial da glutamina na proteção de células intestinais contra danos inflamatórios.

Ômega-3

Ácidos graxos do tipo ômega-3 (EPA e DHA) são amplamente pesquisados por sua atividade anti-inflamatória geral, e muitos estudos mostram que são especificamente benéficos em doenças intestinais, como colites, doença de Crohn, síndrome do intestino irritável. Baixos níveis de ômega-3 foram encontrados nesses pacientes; e quase todos os ensaios usando suplementos de óleo de peixe, demonstraram um efeito benéfico com os melhores resultados em colite ulcerativa.

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Caldo de ossos

O caldo de ossos é saboroso, denso em nutrientes e rico em colágeno. Ele é feito de ossos contendo a medula e cartilagens de animais (boi, frango, pés de galinha, peru, porco, espinhas e cabeças de peixe), adicionado de vegetais como aipo, cenoura, cebola, alho, sal e ervas frescas ou desidratadas, como folhas de louro, salsa, gengibre, cúrcuma. Os pés de galinha são muito usados, pois são muito ricos em colágeno, além de conferirem um ótimo sabor. A adição de gengibre e cúrcuma ao caldo potencializa a ação anti-inflamatória.

Minerais, vitaminas, colágeno

O caldo de ossos é excelente fonte de magnésio, potássio, fósforo e cálcio, que estimulam a função intestinal saudável, e também vitamina A, K2 e outros minerais como zinco, ferro, boro, manganês e selênio. Após esfriar, ele forma uma gelatina com alto teor de colágeno, contendo aminoácidos como glicina, glutamina e prolina, que inibem a inflamação bacteriana e estimulam ***macrófagos e linfócitos na cicatrização do tecido intestinal.

Modo de fazer

O caldo de ossos deve ser feito através de fervura lenta, usando fogo baixo por pelo menos 3 a 4 horas, ou mais. Depois de frio, ponha na geladeira por algumas horas e retire cuidadosamente a gordura solidificada na superfície, que pode ser usada para preparar outros pratos. A gelatina de ossos pode ser cortada em cubos ou separada em porções e guardada no congelador – dura 5 dias na geladeira e 6 meses no freezer. Tome pelo menos 200 ml por dia.

* Prebióticos: são fibras vegetais que a nossa flora intestinal usa como alimento
** Hidrocoloide: é uma mistura tipo gel, como se fosse uma geleia ou gelatina, semilíquida
*** Macrófagos e linfócitos: são células brancas que agem na defesa do corpo, combatendo bactérias e vírus

Referências:

*Food 2022. Influence of Natural Polysaccharides on Intestinal Microbiota in Inflammatory Bowel Diseases: An Overview.
*Polymers 2021. Comprehensive Review on Plant-Derived Mucilage: Characterization, Functional Properties, Applications.
*Pharmacological Research 2020. Curcumin: an inflammasome silencer.
*Drugs Context 2020. Symptomatic uncomplicated diverticular disease management: an innovative food-grade formulation of Curcuma longa & Boswellia serrata extracts.
*Food & Science Nutrition 2019. Ginger in gastrointestinal disorders: A systematic review of clinical trials.
*Curr Opin Clin Nutr Metab Care 2017. Glutamine & the regulation of intestinal permeability: from bench to bedside.
*Int J Molecular Science 2019. Omega Fatty Acids & Inflammatory Bowel Diseases: An Overview.
*Medicina (Kaunas) 2021. Analysis of the Anti-Inflammatory Capacity of Bone Broth in a Murine Model of Ulcerative Colitis.

Médica especializada em Nutrologia. Membro da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia. Pós-graduada em Terapia Ortomolecular, Nutrição Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia. Membro Titular da Sociedade Médica Brasileira de Intradermoterapia. Consultora com atuação em Nutrologia e Medicina Ortomolecular. CRM 52 301716 www.tamaramazaracki.med.br