por Roberto Goldkorn
Lembro de minha avó materna em sua casa na fazenda, um oratório com santos e uma vela quase sempre acesa e mais alguns objetos do tipo sementes e flores em copo de água que nunca entendi direito.
Lembro dela ajoelhada ali diante daquele oratório dizendo que estava "resolvendo" algumas coisinhas lá nas paradas superiores.
Precisou de muito tempo para que eu crescesse entendesse essa necessidade de algumas pessoas de terem em casa a sua réplica miniaturizada de sua igreja de preferência.
Até que chegou a hora de ter o meu próprio altar. Diferentemente de minha avó e de tantos devotos espalhados pelo mundo, meu altar era mais uma representação dos elementos da natureza física e transcendental que religiosa propriamente dita, uma vez que não representavam elementos específicos desta ou daquela religião. Meu altar tinha a função de ser um rádio transmissor-receptor de comunicação com as diversas Inteligências cósmicas nas quais eu acreditava e precisava me manter conectado. No fundo, o altar tinha muito mais uma função de base psicológica do que espiritual, embora no meu caso essas instâncias não pudessem ser separadas por qualquer exercício de lógica.
Tenho orientado muitas pessoas a criarem altares em suas casas como uma espécie de poupança interna, ou de mecanismo de proteção ativo, ou até mesmo um canal dinâmico de comunicação com suas afinidades espirituais ou até mesmo com seus anjos internos.
Não é preciso ser religioso para se ter uma altar em casa, e sim ter uma visão mais espiritual, entender que a realidade que vivemos é muito mais do que a que podemos ver e medir com instrumentos concebidos pelo intelecto humano.
Meus altares eram vistos por mim como antenas ou focos de força psíquica que na grande parte do tempo fica dispersa. O altar ajuda a focar essas energias mentais a dirigi-las para um único ponto.
Patanjali, o grande codificador de todos os ramos de Ioga da Índia primitiva, disse que o "Ioga é a parada dos turbilhões mentais". O altar não pode ser visto como uma parada física dos turbilhões mentais mas sim de uma engrenagem que canaliza esses turbilhões e por alguns instantes os dirigem a um foco, a um objetivo, a um tema.
Para mim a casa ideal é aquela que tem um lugarzinho para servir de base de lançamento para os nossos foguetes mentais. O altar é essa base de lançamento.
O que devemos fazer com um altar?
Para que serve exatamente?
Quais os tipos de ações podemos ter diante e com a ajuda de um altar?
Em primeiro lugar o altar é uma parada. Sim uma parada, um espaço mágico, que recortamos no nosso cotidiano para nos permitir uma pausa, uma alternativa mental e espiritual. Um recuo comportamental diante do qual deixamos que a vida passe apressada e dizemos: "Vai que depois eu vou" e, quando voltamos, estamos mais recarregados, renovados, mais atentos, mais despertos. Diante de um altar podemos realizar complexos rituais místicos ou de magia, ou apenas ficar parados, mais ou menos imóveis, olhando fixamente para ele ou até de olhos fechados – um recuo, uma saída de lado para deixar que os cavalos em galope de nossa vida passem sem nos atropelar – enquanto nós apenas os observamos, testemunhas ativas da correria de nossos dias.
A construção de um altar porém por mais simples que seja requer alguns cuidados e regrinhas básicas.
Temos de encontrar um lugar. Pode parecer primária essa providencia mas não é. Nos espaços cada vez mais exíguos e minimalizados em que a maioria da polução vive sobra pouco ou nenhum espaço par colocarmos o nosso meio metro quadrado de altar.
Na sala ele fica muito exposto. A sala é um dos ambientes mais sociais que temos em casa, pessoas conhecidas ou não chegam em nossa sala, e expor o nosso altar aos olhos (curiosidade e julgamento) do público não é um bom começo.
No quarto seria bom se não fosse por alguns detalhes: as vezes precisamos acender uma vela, e vela no quarto é uma das duas coisas que devem ser definitivamente evitadas, a outra é ter flores no quarto de dormir. Ambos produzem o que se chama de "fluído astral" ou energia mediúnica que pode atrair para o nosso quarto e para o nosso sono energia espirituais que vagam na órbita do planeta e portanto ainda não encontraram seu caminho na direção oposta.
No banheiro nem pensar: Esse cômodo da casa é o "vampirão" é o vórtex energético através do qual as nossas sujeiras são recolhidas e enviadas para as profundezas. De acordo com o Feng Shui e a Medicina da Habitação nem remédios devem ser guardados no banheiro.
Sobram poucos espaços, já tive alteres na cozinha, no quarto de hóspedes, no escritório, até num hall de distribuição. Desde que seja um lugar onde possa estar a sós alguns minutos do seu dia, sem a participação de odores fortes, barulhos perturbadores, trânsito de gente etc.
Atitude (postura) diante do altar: Como seu espaço (e ao seu redor) deve aos poucos se tornando um "espaço sagrado" a nossa postura diante dele deve ser no mínimo respeitosa senão cerimonial.
Imagine que está entrando num templo? Imaginou? Pois é essa atitude que precisamos ter, reverência, silêncio, atitude mental de concentração. Sugiro um "código" para mudar o estado mental usando três respirações lentas e profundas.
Mas e o altar propriamente dito? Existe alguma regra, um modelo a ser seguido?
Se você for católico, é fácil, siga o modelo dos antigos oratórios e coloque ali seus santos de devoção. Para cada religião existem símbolos e ícones apropriados, procure se informar.
Para um altar de espiritualistas ou que cultuam religiões pagãs o ideal é usar a simbologia dos elementos da Natureza: Ar, Terra, Fogo e Água e o "Éter" que deve ser simbolizado em uma figura mística ou transcendental.
Os elementos têm múltiplas funções: psicológica, metafórica energéticas e espirituais. Os elementos devem ser ativados de acordo com a sua necessidade do momento, mas devem permanecer a maior parte do tempo em equilíbrio. Vamos exemplificar.
O elemento Água representado no altar por uma taça ou copo de água, responde pelos temas EMOCIONAIS. Sentimentos, afetos, e todos os aspectos relacionados ao coração. Água é um elemento feminino, adaptativo, maleável, expansivo, instável. Todos temos "água" seja nas lágrimas, seja no ventre materno ao acomodar a nova vida, seja em forma de sangue que circula e alimenta o coração, nos sentimentos e emoções que flutuam e fluem constantemente. Portanto, se precisar acertar e harmonizar sentimentos e emoções ative (coloque na frente) o elemento Água de seu altar. Cores predominantes são o azul, o verde e até o rosa.
O elemento Terra pode ser representado no altar por uma pedra preta ou marrom, ou até por um vasinho com uma planta. A Terra simboliza o plano material, os "pés no chão", a realidade tangível, o "pão pão queijo queijo". É um elemento masculino, duro, imóvel, sólido, estável. Sempre que precisar aterrissar, parar de viajar na maionese, lidar com os aspectos mais realistas da vida coloque na frente e trabalhe o elemento Terra, com as cores, preto, marrom, terracota (cor de tijolo).
O elemento Fogo pode ser representado no altar com uma vela, ou até com um triângulo de papel ou qualquer outro material vermelho com a ponta para cima. O Fogo está relacionado a paixão, ao idealismo, a agressividade, a força criativa/destrutiva da guerra. Se estiver precisando de fogo na sua vida, de ímpeto para dar uma arrancada de uma situação estagnada, flácida, as meditações do Fogo são as mais indicadas, mas como minha mãe dizia: "Cuidado quem brinca com fogo pode se queimar." Cor vermelha e laranja forte.
O Elemento Ar está associado às ideias, pensamentos, comunicação. O representante do elemento ar em um altar pode ser uma pena de pássaro, um pequeno catavento ou uma flâmula. O Ar circula entre as pessoas, por isso também se relaciona com o "dinheiro". Para quem está precisando ativar seu "Ar" , sua comunicação, colocar para circular suas ideias e fazer novos amigos e aumentar seu círculo de conhecidos, o Ar é o indicado. Cor azul.
O elemento Éter é o místico, o verdadeiramente espiritual. Pode ser a imagem de um santo, de um místico, um símbolo (por exemplo a pomba do Espírito Santo, o Olho de Hórus, uma imagem de Buda, de Jesus, o Pentagrama – estrela de cinco pontas ou a de seis etc). É importante que esse elemento Éter seja simbolizado por algum símbolo com o qual tenha forte afinidade espiritual. Ao ativar esse elemento o uso do incenso é indicado.
Claro que você pode ter outros elementos, mas sugiro que o altar seja mantido o mais simples possível.
Uma ideia que uso sempre é usar um pano que cubra o altar e que esse pano seja da cor do elemento que deseja ativar. Na maior parte do tempo prefiro manter um pano branco forrando o altar, que pode ser um caixote, uma criado-mudo ou algum móvel mandado fazer especificamente para esse fim. Sugiro também que se tenha um tapetinho ou algo parecido diante do altar ou que seja estendido sempre que for meditar diante dele.
O altar é um aliado poderoso para nos "juntar" de novo diante do massacre dispersivo do dia a dia, pelo menos por um curto espaço de tempo – e acredite isso pode fazer toda a diferença.
Aproxime-se do altar pedindo licença, e saia agradecendo e dispensando as energias espirituais convocadas.
Evite que outras pessoas mecham nos elementos de seu altar e limpe-o frequentemente. Se usar água de verdade, no copo ou numa taça, renove-a jogando em água corrente pelo menos uma vez por semana.
Diante do altar você pode chorar, falar, conversar com suas afinidades espirituais, conversar consigo mesmo, com seu anjo interno. Se o altar estiver bem harmonizado ele será uma antena que canalizará as suas preces e aflições.
Por fim, acostume-se a frequentar o altar de forma sistemática, de preferência em momentos certos do dia. Quanto mais você mantiver essa fidelidade mais eficiente serão as funções do seu altar.
Assim como na vida cotidiana, a fidelidade, o compromisso, também rendem bons dividendos quando se trata de vida espiritual.