por Regina Wielenska
Tive acesso a uma história muito interessante: um rapaz (a quem chamarei de Mário) se relaciona amorosamente com outro (seu pseudônimo será Antero).
É um convívio intenso, rico em afeto e admiração recíproca, de cerca de duas décadas. Já comeram o pão que o diabo amassou, sofreram várias formas de discriminação social. Segundo eles, hoje conquistaram um nível confortável de respeito das pessoas próximas, familiares, amigos e conhecidos.
Mario e Antero guardam um segredo: em meio a eles, há dois anos, existe uma terceira pessoa, Guilherme. Trata-se de um rapaz pelo qual Mario nutre forte desejo sexual, e com quem mantém contato frequente. Antero sabe de tudo, e não se opõe a nada, sob o argumento de que o desejo sexual é distinto do amor. O que importa a Antero e Mário é a manutenção do amor, que no caso deles funciona dissociado do desejo carnal.
Mario deseja Guilherme para se divertir sexualmente, não tem a menor vontade de fazer projetos de vida a dois com ele, tampouco nutre pelo rapaz algo que se assemelhe ao amor profundo que sente por Antero. Esse, por sua vez, diz estar consciente do fato de que ao longo de duas décadas, houve um decréscimo da atração sexual na vida do casal, e que por essa razão entende por que Mario se diverte na cama com Gui, que traz um sabor de novidade à vida sexual de Mário. Antero sai de vez em quando com um ou outro rapaz, com finalidades de se divertir na cama, e todos referem se proteger contra doenças sexualmente transmissíveis, razão pela qual não foram capturados pelas garras da gonorreia, sífilis, AIDS, HPV, etc.. Assim funciona o acordo entre eles, tranquilo, aberto, respeitoso, seguro.
Esse arranjo afetivo-sexual não funciona com qualquer pessoa, apenas com quem sente, de coração, que amor e sexo podem ser coisas verdadeiramente distintas. Para as duplas que advogam em prol da monogamia absoluta, ter um parceiro exclusivo para fins carnais não funciona, caracterizaria uma forma de desrespeito e infidelidade, motivo para encerrar o relacionamento na exata hora em que se constatasse haver um terceiro membro infiltrado entre o casal.
Estando na posição de Antero e Mário, esses não se sentiram traídos com o ingresso dessa pessoa. O importante é reconhecer explicitamente como funciona cada membro de um casal, quais seus desejos, expectativas e valores. Não há certo ou errado em sentido absoluto, apenas existe algo que combina ou não com os princípios éticos e necessidades emocionais do casal (e, se for o caso, de seus ocasionais parceiros).
Muitos problemas surgem quando pessoas que pensam de um jeito se forçam a agir do outro modo, todas acabam decepcionadas, se irritando, sentindo-se no prejuízo, na condição de pessoas desconsideradas em suas necessidades e desejos. Quem defende a fidelidade absoluta precisa de parceiros que pensem do mesmo modo. E a regra se aplica por igual aos casais que gostam de variar o cardápio sexual com várias pessoas.
"Respeito é bom e eu gosto", mantenha este lema em sua vida, e a partir daí faça suas escolhas, fundamentadas na insólita mescla entre comportamento ético, desejo sexual e sensatez.