Ao mudar de país, como a família pode-se integrar à nova vida?

por Ceres Alves Araujo

Nos tempos atuais, devido à globalização, migrações internacionais de diversas partes do mundo se tornaram frequentes. A expatriação pode ser considerada como uma forma de emigração globalizada, na qual um executivo é enviado pela empresa, junto à sua família, para outro país. Além dessa forma, recentemente, muitas famílias têm, por conta própria, saído do Brasil, para morar em outro país, em busca de uma melhor qualidade de vida, de mais segurança, de mais estabilidade etc.

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A expatriação é vista como vantajosa em muitos aspectos. Quando um dos pais, mais frequente ser o pai que a mãe, ainda que nos dias de hoje, as executivas mulheres também estejam nessa situação, é prospectado para mudar de país, a família ganha a possibilidade de se adaptar a uma outra cultura, particularmente a novos costumes e nova língua. O mesmo ocorre com os demais membros da família que se expatriou. Para a família é um desafio em termos da adaptação e ganho de flexibilidade e para os filhos, especialmente, é uma boa oportunidade de aprendizados.

Psicologia intercultural: aculturação bem-sucedida

A psicologia intercultural mostra que, no nível psicológico do migrante, dois aspectos devem ser considerados: o desejo de contato com a nova cultura e o desejo de manter e valorizar sua cultura de origem. Para que a aculturação seja bem-sucedida é importante que haja uma integração entre esses dois desejos, isto é, um interesse, por um lado, em manter a cultura original e, por outro, interagir diariamente com o novo grupo.

Quando a integração é a estratégia de aculturação, quanto mais a família e o individuo se sentir apegado às duas culturas (a de origem e a nova), melhor o seu bem-estar psicológico e maior sua competência sociocultural.

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A aculturação, por melhor que seja a estratégia utilizada, é um processo muitas vezes demorado. Identifica-se um período inicial de luto, decorrente do desenraizamento e das perdas vividas: a desestabilização das referências culturais, a transformação da rede social e de suporte, os conflitos, não raros, entre a vida familiar e a vida profissional etc criam uma adversidade a ser enfrentada. Entretanto, justamente por meio do enfrentar a adversidade e por meio de sua superação, ativa-se o potencial da resiliência (saiba mais) e verifica-se a possibilidade de crescimento em muitos aspectos como: reconhecimento da importância das relações familiares íntimas dos membros da família nuclear (veja aqui), ganho de flexibilidade adaptativa, aumento da capacidade de tolerância, aquisição de novos códigos culturais, dentre eles a nova língua.

Porém, essa experiência também possui fatores de risco. Não necessariamente, todos os membros da família vivem o processo de aculturação da mesma forma. Alguns podem não desejar manter sua herança cultural e buscam assimilar completamente a nova cultura; outros podem, ao contrário, permanecerem separados, evitando a interação com os novos grupos, apegando-se rigidamente à sua cultura de origem; outros ainda se marginalizam, perdendo o interesse na manutenção de sua própria cultura e mostrando pouco interesse no relacionamento com a nova cultura. Assim, na mesma família pode-se ter pessoas mais felizes e menos felizes na sua aculturação.

Benefícios

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Observa-se que quando o casal de pais consegue uma integração feliz, os filhos podem se beneficiar de um ambiente mais otimista, que oferece uma possibilidade de adaptação de melhor qualidade. Isso é verificado tanto em brasileiros que migram para outros países como em estrangeiros que vêm morar no Brasil.

A tecnologia tão avançada dos meios de comunicação atuais, ofereceu uma enorme vantagem aos expatriados. Existe a possibilidade da manutenção das relações com a família extensa, isto é avós, tios, primos, em tempo real. O skype, o face time são facilitadores para a interação, por permitirem uma comunicação sintonizada entre os interlocutores. Sabe-se que o olho-no-olho, a interpretação das expressões faciais garante a percepção do estado mental, emocional do outro e o partilhar das emoções.

Já escrevi nessa coluna, a respeito da tecnologia estar se colocando a serviço do afeto – veja aqui. A aproximação do virtual e do real ajuda a tornar próximas as situações de distância entre os elementos da família expatriada e a família de origem, permitindo até o estar junto ao outro de corpo e alma, à distância.

Ainda que os fusos horários às vezes sejam muito diferentes, famílias expatriadas criam rituais para estarem juntas em determinados momentos, para relatarem as aventuras, as novidades ou, simplesmente, para observarem as conversas. Filhos observam pais conversando com seus avós, tios; pais acompanham os contatos dos filhos com avós, tios, primos. Isso favorece a manutenção da identidade familiar, dos valores culturais de origem e incentivam e encorajam a inserção e a adaptação à nova cultura, que são os dois aspectos importantes para a integração intercultural.

Cumpre observar que quando a aculturação do expatriado é bem-sucedida, mais facilitado será o processo de retorno à cultura de origem, caso ele seja necessário. Menos difícil será o lidar com as novas perdas e mais fácil será o compreender dos ganhos do processo. Maleabilidade adaptativa para a vida será o grande ganho.