por Ceres Araújo
As babás da televisão basicamente ensinam sobre limites, para promover a comunicação respeitosa e saudável nas famílias. Esses programas nacionais ou importados estão chamando a atenção de pais e de crianças. São úteis? Ensinam de verdade?
Limites são sempre necessários, para o bem dos filhos, para o bem dos pais, para o bem de toda a família.
Acredito que dizer não é a maior prova de amor que os pais podem dar a seus filhos. Dizer sim é fácil. Dizer não é difícil, dá trabalho, cria conflitos, brigas, discussões…
Testar limites é uma conduta esperada e saudável das crianças. Significa que elas são inteligentes e estão criando situações, que permitem justamente aprender a lidar com frustração, aprender a lidar com sentimentos de impotência, isto é com o não poder fazer tudo o que querem, com a não satisfação imediata de todos os seus desejos.
Testando limites e se submetendo a eles posteriormente, as crianças estão aprendendo sobre seu possível espaço de ação, sobre o que podem e sobre o que não podem fazer. Precisam que seus pais sejam coerentes e estáveis na colocação desses limites, tão necessários ao crescimento.
Pais com duplas, triplas jornadas de trabalho, às vezes muito cansados, com tão pouco tempo para seus filhos, nem sempre conseguem dizer o não tão necessário. Como conseqüência, os limites ficam pouco claros para as crianças e, o pior, ficam instáveis. Se um não pode se transformar em um sim, que depois se transformar de novo em um não, os conflitos se acentuam, as crianças se tornam teimosas e os pais tendem a se exasperar. O tom das vozes se eleva, gritos surgem, o caos se instala e a comunicação deixa de existir.
Mesmo no relacionamento com pais adequados na colocação de limites, as crianças continuam a testar esses limites, muitas vezes à exaustão. Isto também é esperado, pois somente pela repetição existirá a diferenciação entre o que é permitido, possível e o que é proibido, interditado. A criança inteligente, saudável, vai testar muito os limites para adquirir a noção do seu próprio espaço pessoal, separado do espaço do outro e, conseqüentemente, a noção do espaço do outro. É assim que se aprende a respeitar o outro e a se fazer respeitar.
Criança necessita de disciplina, horários, precisa saber que tem direitos e deveres por viver em uma comunidade, em sua casa. Essa comunidade não é fundada em um modelo de direitos igualitários para os seus membros. Pais têm direitos e deveres diferentes dos filhos. Em cada idade, os direitos e deveres dos filhos também se tornam diferentes. Crescer significa ganhar mais direitos e mais deveres.
As babás da televisão são úteis porque mostram como a disciplina e a organização da casa são necessárias para crianças e seus pais. Ensinam, concretamente, formas de se fazer combinações com os filhos a partir do diagnóstico do que está acontecendo naquela família visitada.
Nos nossos dias, considerados tão pobres em ética, é muito importante o aprendizado do respeito ao outro e do respeito a si mesmo. Ter ética é saber avaliar o que é bom para si e o que não prejudica o outro.
Fica implícita, nos contratos estabelecidos pelas babás da televisão, uma ética do relacionamento pais e filhos, uma ética que poderá ser generalizada para as demais relações humanas. Acordos são para ser seguidos e valores como honestidade, responsabilidade, confiança, devem passar a guiar os comportamentos das pessoas que moram na casa.
No nosso país, a orientação psicológica fica praticamente restrita aos consultórios particulares e às clínicas das faculdades de psicologia. A grande maioria das famílias não pode se beneficiar de tal atendimento e a televisão, com esses programas, pode vir a preencher um pouco essa lacuna.
Entretanto, a orientação dada pela televisão só consegue permanecer no ensinamento mais geral. Como cada família é diferente da outra, o que funciona para uma família não necessariamente vai funcionar para outra. Soluções rápidas, mágicas também não existem.
O que esses programas ensinam é que normas, valores e princípios fazem bem, são importantes e que é obrigação dos pais ensinarem isso para seus filhos. Sugerem formas claras, objetivas de se fazer tratos com as crianças, compromissos que devem ser seguidos por ambos os lados. Mostram meios de lidar com castigos quando infrações ocorrem. Pregam a necessidade de um diálogo de verdade, respeitoso entre pais e filhos.
Combinações, castigos e formas de diálogo variarão de casa para casa. Não existem "pacotes" prontos de orientação. Resta aos pais aproveitarem as idéias gerais e usarem a inteligência, a sensibilidade e a criatividade na adaptação dessas idéias gerais na sua casa.
Cantinho da disciplina
Omiti propositadamente o cantinho da disciplina. É um tema complexo e polêmico. A simplificação com que as "babás" lidam com isso no programa é problemática. Os pais me dizem que o problema nao é colocar a criança no castigo, o problema é a criança FICAR lá. Esse assunto sobre disciplina e castigo seria um tema para um outro artigo.