por Rosa Maria Farah – coordenadora do NPPI
Neste mesmo momento – em que eu, aqui, escrevo – e você, leitor, recebe este recado – todo um universo paralelo se agita, fervilhante, à nossa volta: Centenas de milhares (ou talvez milhões) de mensagens cruzam o ciberespaço como setas invisíveis, pondo em movimento um grau de interatividade nunca antes conhecido pelo ser humano.
É fácil cair no lugar comum ao falarmos sobre o impressionante avanço das novas tecnologias da informação. Afinal, esse tema está presente na mídia a cada dia, na forma de constantes notícias sobre a multiplicação de usos e aplicações dos aparatos informatizados. Aliás, este tem sido nosso assunto constante ao longo do último ano aqui mesmo, nesta coluna em que trocamos idéias com nossos leitores. Desse modo, todas as pessoas minimamente informadas com certeza estão acompanhando esses acontecimentos.
Mas, será que estamos realmente dimensionando o significado e a amplitude dessa revolução já em curso na era da Internet ? Será que somos capazes de avaliar a intensidade das modificações que estes novos hábitos estão trazendo para dentro da rotina da nossa vida, do nosso trabalho e dos nossos relacionamentos amorosos e afetivos de modo geral?
Você sabe, por exemplo, avaliar se seu filho faz um uso adequado do computador com o qual passa horas conectado? Já se preocupou em saber se os jogos "online" ajudam ou prejudicam o desenvolvimento dos nossos jovens? Já ouviu falar sobre as "comunidades virtuais" das quais participam milhares de brasileiros? Não nos referimos aqui apenas às conhecidas salas de "chat" (bate-papo) mas, sim, aos numerosos participantes de grupos organizados em torno de temas, ou mesmo de jogos online ambientados, por exemplo, na idade média.
A nossa linguagem já integrou vocábulos emprestados dos jargões da informática, geralmente do inglês, e se tornaram tão populares que quase se confundem com o nosso bom e velho português… Você tem acompanhado essas transformações do nosso vocabulário coloquial, ou ainda diz: "Bem, isso eu vou perguntar para o meu filho…"
Mas, não são apenas os pais e professores que se defrontam com termos e situações de difícil compreensão. Nós, psicólogos, estamos também nos deparando com situações inusitadas, uma vez que as pessoas a quem atendemos nos trazem, a cada dia, mais e mais relatos sobre relacionamentos e episódios da vida "virtual", tais como: amizades e/ou relações amorosas estabelecidas via Internet, infidelidades vividas "online"… ! Os mais jovens nos contam sobre seus "blogs" (ou seus "fotologs"), enquanto outras pessoas, de qualquer idade, podem nos dizer que estão muito aborrecidas, porque sua popularidade no Facebook está deixando a desejar…
Ainda entre nós, psicólogos, vêm surgindo situações que para muitos podem significar desafios do ponto de vista ético e técnico: o que fazer diante da solicitação de uma ajuda que nos chega via e-mail? Pode ser daquele antigo cliente, que vivendo hoje no exterior, diante de uma dificuldade inesperada localizou nosso endereço eletrônico no ICQ e nos escreve pedindo uma ajuda. Ou então de uma pessoa desconhecida, que entra em contato conosco via e-mail desejando agendar um atendimento, quando não, solicitando um atendimento via Internet.
Todas estas transformações se iniciaram há bem pouco tempo entre nós: A Internet aberta ao usuário comum chegou ao Brasil em fins de 1995. Portanto, em menos de dez anos estas mudanças de linguagem, comportamentos e modos de nos comunicarmos se aceleraram de forma que chegam agora a parecer "naturais" para alguns de nós. Porém, para muitos este universo paralelo da comunicação digitalizada ainda parece um mundo estranho e desconhecido, quando não hostil e "perigoso"!