por Antonio Carlos Amador
Não me sinto à vontade no meio de tanta gente.
Gostaria de conhecê-la melhor.
Não sei o que dizer às pessoas depois que somos apresentadas.
Eu gostaria que pudéssemos ser mais íntimos.
Não me sinto à vontade em festas.
O repertório emocional dos seres humanos é simples e direto. Somos criados para sentir calor e felicidade quando acariciados, raiva quando frustrados, medo quando ameaçados, dor quando rejeitados, mágoa quando insultados, tristeza quando abandonados, ciúme quando postos de lado e assim por diante. Cada cultura considera algumas dessas reações como inaceitáveis e tenta moldar seus membros impondo-lhes padrões específicos de limitações. Alguns aprendem a não rir, outros a não chorar; alguns aprendem a não amar, outros a não odiar.
As declarações apresentadas no início desse texto refletem um tipo de medo aprendido: o medo de que os outros não estejam dispostos a correr o risco de nos amar. Diante de uma possibilidade de amor viramos as costas e saímos correndo, em pânico. Achamos arriscado demais e temos medo. Queremos amar, mas fugimos do amor. Queremos um abraço, mas endurecemos o corpo quando somos abraçados. E assim, vamos nos tornando mais solitários, contentando-nos com migalhas afetivas e com a presença física de outras pessoas. Ao mesmo tempo ficamos na sombra, espreitando, à espera do momento ideal em que teremos coragem de dar e receber amor, de assumir riscos e de superar as limitações dos gestos contidos, polidos e formais.
— Se ele me conhecesse mais a fundo, não iria gostar de mim… iria encontrar alguma coisa que desaprovasse… iria concluir que não sou digna de amor.
Às vezes pensamos e decidimos pelos outros, concluindo por antecipação que isso ou aquilo vai acontecer numa determinada amizade. Conseguimos, através do nosso medo, manter uma distância ótima das outras pessoas. É uma defesa conveniente, usada por muitas pessoas solitárias. Mas, tais decisões contribuem apenas para repelir pessoas que poderiam apreciar intensamente a nossa companhia e nos conhecer melhor, se lhes fosse dada a oportunidade. Nesse caso estamos privando-as do direito de decidirem por si mesmas.
Com o tempo, à medida que vamos ficando mais experientes, descobrimos uma atitude de indiferença no mundo exterior, que tende a intensificar a nossa crença mítica de que “não somos amados pelo que somos”. Quando percebemos que desempenhamos diversos papéis sociais (paciente, cliente, assinante, consumidor, educando etc) tomamos consciência da impessoalidade da vida.
Isso pode nos deixar tristes, aborrecidos ou mesmo assustados. Tais rótulos nem sempre levam em consideração nossa individualidade, nossos talentos e capacidades. E isso pode doer muito. Esses rótulos podem provocar uma repetição do velho diálogo interno: “Eu não sou digno de amor”. O fato é que essa impessoalidade é um fato objetivo da vida, a respeito do qual muito pouco podemos fazer. Além disso, não queremos nem precisamos da compreensão de todos. Basta uma única pessoa que nos compreenda, estime e aprecie a nossa individualidade. Isso já é mais do que suficiente.
Se sentimos que não temos ninguém a quem possamos dar e de quem possamos receber amor (nessa ordem), então somos realmente solitários. Tal sentimento está, na maioria das vezes, baseado numa antiga decisão: a de que nunca mais correremos o risco de amar. É claro que ninguém precisa ficar nessa situação. Enquanto estivermos dispostos a correr o risco do amor, haverá sempre ocasiões em que outras pessoas responderão positivamente, vindo a preencher nossas necessidades afetivas, degelando a solidão. Tais respostas podem partir de pessoas das quais jamais esperaríamos uma resposta. Mas isso faz parte do risco, da própria emoção de amar.