por Ceres Alves Araujo
O termo obediência tem origem no latim odoedire, escutar com atenção. É considerada uma das virtudes e se define como um comportamento pelo qual a pessoa aceita ordens dadas por outro. Obedecer quer dizer subordinação da vontade a uma autoridade. Significa também, a escuta atenta para acatamento a uma instrução, cumprimento de um pedido ou abstenção de algo que é proibido.
Isso é o que mostra o dicionário. Obedecer, nos tempos atuais, infelizmente é uma virtude desprezada. A sociedade contemporânea, tida como neonarcisista, individualista, privilegia o espaço e os direitos da pessoa em detrimento do espaço e direitos alheios e confunde desobediência, oposição, negativismo, birra e falta de educação com afirmação e autonomia. Perigoso engano!
O mundo está repleto de crianças que não atendem às solicitações dos adultos, de adolescentes que não respeitam os outros e de adultos que não aprenderam a se relacionar com as pessoas e as situações, para fazer trocas afetivas e cognitivas, amorosas, sociais e profissionais. Se isso ocorre no mundo todo, é possível que as proporções, no nosso país, sejam das mais alarmantes.
Pais mandam e crianças obedecem
As crianças que não foram ensinadas a obedecer, têm pais que não se colocam como figuras de autoridade frente a seus filhos e, portanto, não são respeitáveis. Os pais são os modelos primários para identidade de seus filhos e precisam ser figuras admiradas por eles e, mesmo, idealizadas, isto é, perto de Deus. Cabe, ainda, aos progenitores a colocação de regras, normas e princípios de conduta. Ainda, nos nossos tempos, chamados hipermodernos, o ditado é válido: pais mandam e crianças obedecem. Os limites, as interdições ajudam os pequenos a aprender a lidar com frustração, a entreter tensão, a adiar a satisfação de desejos, a controlar a impulsividade, a se tornarem seres civilizados. Os limites são protetores às crianças, pois elas não possuem, ainda, uma ética pessoal e quem sabe o que é bom para elas e o que é seguro são seus pais.
A desobediência caracteriza a adolescência e ela é normal e até desejável, uma vez que o ser humano, nesse momento da sua trajetória do desenvolvimento, precisa começar a descobrir quem é ele, o que ele gosta, com o que se identifica. Tem-se o início da ética pessoal. É inevitável o confronto com os pais, que passam então, a serem desidealizados e humanizados. É desse confronto que nasce e se treina a capacidade argumentativa, que será uma competência fundamental para o adulto.
Entretanto, só desobedece quem aprendeu a obedecer. A desobediência crônica nas famílias, gera bebê-gigantes, que são os adultos desorientados, perdidos e pouco eficientes nas atribuições que lhes são destinadas, tão frequentes nos nossos tempos.
As crianças que não desenvolvem a função de filho, isto é, daquele que obedece, possivelmente também não desenvolvem o papel de aluno, aquele que aprende com o outro e não se capacitam para desenvolverem os demais papéis na vida. Permanecem indiferenciados, centrados unicamente na satisfação imediata de seus desejos e de suas necessidades primárias e pobres do ponto de vista do seu desenvolvimento psicológico.
Existem famílias funcionais, onde pais se colocam a obrigação de bem educarem seus filhos, para criarem cidadãos íntegros e éticos, que possam viver com dignidade suas vidas. Pena é que tais famílias, nos dias atuais, talvez sejam as exceções.