por Elisandra Vilella G. Sé
Crianças e adultos aprendem de maneira diferente. Portanto, diferentes abordagens são necessárias para ajudar os adultos a aprender algo, desde manusear um aparelho, uma tarefa nova, uma atividade de informática e/ou ser alfabetizado.
Para tornar os programas educacionais para adultos e idosos mais eficazes, alguns princípios da aprendizagem e suas implicações para o desenvolvimento, implementação e avaliação devem ser considerados.
Vejamos então alguns princípios da aprendizagem do adulto e do idoso segundo a literatura da andragogia e gerontagogia.
Andragogia
A andragogia (do grego: andros – adulto e gogos – educar), é uma especialidade da pedagogia, uma área de conhecimento que se ocupa do processo de ensino e aprendizagem do adulto. A andragogia é a arte de ensinar aos adultos, que não são aprendizes sem experiência, pois o conhecimento vem da realidade, da escola da vida. Esse aluno busca desafios e soluções de problemas, que farão diferenças em suas vidas. O aluno adulto aprende com seus próprios erros e acertos e tem imediata consciência do que não sabe e o quanto a falta de conhecimento o prejudica. Precisamos ter a capacidade de compreender que na educação dos adultos o currículo deve ser estabelecido em função da necessidade dos estudantes, pois são indivíduos independentes autodirecionados.
Na andragogia a aprendizagem adquire uma particularidade mais localizada no aluno, na independência e na autogestão da aprendizagem, para a aplicação prática na vida diária. Os alunos adultos estão preparados para iniciar uma ação de aprendizagem ao se envolver com sua utilidade para enfrentar problemas reais de sua vida pessoal e profissional.
Gerontagogia
A gerontagogia é uma disciplina das ciências da Educação, uma especialidade da gerontologia. O termo e a concepção foi desenvolvida por Lemieux em 1990 que abrange processos de aprendizagem dos adultos maduros e idosos, cujo objeto de estudo é o idoso em situação pedagógica. Os programas educacionais da área da gerontagogia foram mais difundidos pelos americanos e canadenses e depois em 1991 pelos espanhóis.
No Brasil essa área ainda é bastante incipiente necessitando de estudos e aprofundamentos no que diz respeito à teoria e prática da educação de adultos e idosos e fatores relacionados ao envelhecimento que influenciam de forma significativa no processo ensino/aprendizagem do aluno adulto e idoso.
O primeiro princípio da aprendizagem do adulto e do idoso diz que “Aprender é uma atividade normal de adulto." Ou seja, os adultos aprendem ao longo da vida. A educação de adultos não ocorre no início motivando um processo de aprendizagem, mas sim, por um professor que saiba remover ou reduzir os obstáculos para a aprendizagem e reforçar o processo depois que ele começou.
Em um programa educacional, a melhor maneira que o professor pode ajudar um aluno idoso a aprender, é criar um ambiente com poucas barreiras (por exemplo, restrições de tempo, conflitos entre família, trabalho e responsabilidades).
Relação entre aprendizado e autoestima
O segundo princípio ressalta que adultos com um autoconceito positivo e autoestima elevada são mais receptivos à aprendizagem.
O adulto quer ser produtivo como um empregado, esposo, pai e cidadão. Os adultos se veem como empreendedores, e portanto, querem ser tratados com respeito. O aluno adulto e idoso evitam situações que não podem controlar. Adultos aprendem melhor em um ambiente que não ameace seu autoconceito e autoestima.
O terceiro princípio considera que o aluno adulto possui habilidades para gerir sua própria aprendizagem. Isso significa que o aluno adulto não é passivo a ponto de receber as informações sem questionamentos. Os adultos e idosos em sala de aula gostam de pensar em si mesmos como empreendedores. A educação de adultos deve ser um processo ativo e dinâmico, por meio de situações e práticas do cotidiano e autodirigida. Ou seja, os alunos podem assumir a responsabilidade por sua própria aprendizagem. O aluno adulto pode ser responsável juntamente com o professor pelo planejamento e avaliação dos programas educacionais. Essa abordagem colaborativa auxilia tanto o professor quanto o aluno a se tornarem interdependentes.
O quarto princípio da aprendizagem de adultos diz que um feedback imediato descritivo é essencial para que os alunos adultos possam modificar seus comportamentos. Os adultos e idosos que estão em sala de aula aprendendo a ler e escrever precisam saber no momento como estão progredindo, portanto é importante esse feedback imediato que pode aumentar sua autoestima e influenciar no aprendizado.
O quinto princípio da aprendizagem refere-se ao reforço às mudanças que fornece uma motivação para aprendizagens futuras. Para o aluno adulto e idoso o cumprimento de objetivos estabelecidos reforça a habilidade recém-adquirida e estimula a aprender mais. A satisfação e o sucesso deve vir antes do aprendizado. Assim é mais provável que a aprendizagem ocorra. Por isso as atividades devem ser sequenciadas de modo que o aluno possa experimentar o sucesso nas primeiras tarefas desenvolvidas e assim sucessivamente. Sempre que possível, o professor deve reforçar a conclusão da tarefa dando um feedback positivo.
Ansiedade, responsabilidade e medo de errar interferem no aprendizado
O sexto princípio diz respeito ao controle da ansiedade. Programas educacionais para adultos e idosos, cujas tarefas causam muita ansiedade e estresse podem interferir na aprendizagem. O estresse vem do fato de que eles estão começando uma nova etapa na vida, ou recomeçando algo que estava estacionado há muito tempo e por isso a responsabilidade e o medo de errar podem interferir, principalmente em tarefas muito complexas. Os alunos adultos e idosos não gostam de demonstrar suas emoções negativas relacionadas às suas dificuldades de aprendizagem. O estresse, porém é revelado através do pensamento confuso, o discurso repetitivo, a gagueira, a dificuldade sensorial, o isolamento, a recusa de fazer essa ou aquela atividade.
Ao aplicar esses princípios da educação de adultos, a gerontagogia pode ser sensível às necessidades dos estudantes adultos, garantindo que eles ficarão orientados para a aplicar seus conhecimentos na prática social, de uma forma que é gratificante para eles e para seus familiares e professores.
A educação de adultos é facilitada quando o aluno tem uma ideia clara sobre o comportamento a ser aprendido. Os objetivos dos programas que descrevem as atividades e os métodos, sobre como será feito, precisam ser demonstrados, isso é muito importante. As circunstâncias de aprendizagem precisam ter as características do ambiente de adulto. A confrontação da experiência de dois adultos (ambos com experiências semelhantes de vida, com a de terem tido a mesma profissão), faz do professor um facilitador do processo ensino/aprendizagem e do educando um aprendiz, transformando o conhecimento em uma ação recíproca de troca de experiências vivenciadas, sendo um aprendizado de mão dupla.
São relações horizontais (uma relação mais igualitária, menos autoritária), entre facilitador e aprendizes, colaboradores de uma iniciativa conjunta, em que os empenhos de autores e atores são somados. A metodologia de ensino e aprendizagem fundamenta-se em eixos articuladores da motivação e da experiência dos aprendizes adultos.
Nesse processo os alunos adultos aprendem compartilhando conceitos, e não somente recebendo informações a respeito. Dessa coexistência e participação nos processos de decisão e de compreensão podem derivar contornos originais de resolução de problemas, de liderança, identidades e mudanças de atitudes em um espaço mais significativo. Assim, em classes de adultos é arriscado assinalar quem aprende mais: se o professor ou o estudante.