por Marta Relvas
Quando meu filho ou filha irá aprender a ler? Como ocorre o processo da leitura no cérebro?
A aquisição tão complexa da leitura permite uma reflexão de como esse processo ocorre no cérebro remetendo e buscando base e apoio nos estudos da neurociência e da psicologia cognitiva. A capacidade de adquirir a leitura compreende um conjunto de várias adaptações do sistema nervoso que necessitam de estimulação e orientação externa. Todo esse processo passa no cérebro por diversos caminhos sensoriais que permitem acessar as informações e transmiti-las ao sistema nervoso central.
A extensa área cortical humana responsável por analisar essas informações que recebemos ou criamos internamente permite dar sentido, pensar, conhecer, comunicar e decidir.
No ano de 1863, o médico francês Pierre Paul Broca (1824-1880) publicou um artigo com pesquisas de oito pacientes, nos quais a linguagem estaria comprometida por lesão no lobo frontal do hemisfério esquerdo. Já em 1864, devido muitos a casos parecidos, juntamente com a fala não comprometida por lesões no hemisfério direito, fez com que a expressão da linguagem fosse designada ao hemisfério esquerdo.
Em 1874, o neurologista alemão Carl Wernicke (1848-1905) descobriu uma área similar no lobo temporal esquerdo, entre o córtex auditivo e o giro angular, que lesionada também ocasionaria déficit sensorial na linguagem. Isto é, o paciente seria incapaz de reconhecer palavras faladas, mesmo se a audição não estivesse comprometida.
Wernicke e outros pesquisadores acreditavam que essa região, mais tarde conhecida como região de Wernicke, fazia conexões com a área de Broca formando um sistema complexo de compreensão da linguagem e do uso da fala.
Sendo assim, a partir do século XIX tornou-se conhecida a existência no cérebro de duas regiões no córtex cerebral, a primeira localizada no lobo frontal do hemisfério esquerdo, que é conhecida como a área de Broca, e a segunda localizada na junção dos lobos temporal e parietal, também do lado esquerdo, e está relacionada com a compreensão da linguagem.
Atualmente, segundo o neurocientista Dehaene (2012), a leitura começa no olho, onde a retina recebe as imagens, transforma em sinais e impulsos elétricos e transmite ao cérebro por meio do nervo óptico; a região occipito-temporal ventral esquerda, por ele denominada de "caixa das letras", é onde se dá o reconhecimento da palavra escrita; os circuitos que envolvem o processamento da imagem acústica da fala até as regiões que processam o significado e finalmente, os circuitos que processam as informações correspondentes aos gestos motores relativos à produção da fala.
Cérebro da criança é extremamente estruturado
O cérebro da criança é extremamente estruturado. O indivíduo herda de sua evolução redes cerebrais especializadas para processar a visão, os rostos, a linguagem falada, os números e muitas outras linguagens especificamente humanas. Por exemplo, "Os neurônios do córtex temporal inferior permitem reconhecer os objetos, seja qual for seu tamanho e sua orientação." (DEHAENE, 2012, p.297).
Esse processamento é possível graças à reciclagem neuronal pela qual os neurônios humanos são capazes de aprender, através da reorientação dos sistemas cerebrais para símbolos novos, pertencentes a cada cultura. A dificuldade da aprendizagem reflete a quantidade de reciclagem neuronal necessária.
Os neurônios devem desencadear informações sobre o estado interno do organismo e seu ambiente externo, avaliar essa informação e coordenar atividades apropriadas à situação e às necessidades correntes das pessoas.
Cinco dicas para estimular na criança o aprendizado da leitura:
1 – Evite "cobranças desnecessárias", entenda que cada criança tem seu ritmo neural diferente.
2 – A autoestima é fundamental nesse processo, pense que você como adulto um dia também passou por isso.
3 – Promova recompensas por merecimento. O melhor presente é o livro!
4 – Demonstre carinho e atenção para o seu/sua filho (a) estudante acompanhando seu progresso no dia a dia.
5 – Aprender a ler palavras é uma questão de repetição através dos diferentes estímulos neurais e significados emocionais.
Mãos à obra para o início das aulas! Bom trabalho!