por Renato Miranda
Já abordei anteriormente sobre a pergunta de muitos desportistas que dizem-se impressionados (como a maioria das pessoas) com o desempenho dos atletas olímpicos.
A questão é: Como é possível para esses atletas um desempenho tão espetacular sob tensões do próprio esporte e o perigo de acidente iminente nas mais variadas disputas?
Ao explicar, de modo geral, como nosso cérebro é capaz de auxiliar a produzir habilidades incríveis e como uma determinada acrobacia altamente complexa executada nas alturas, parece algo muito simples; citamos a importância de um programa mental preciso daquilo que tem de ser feito e como o atleta cria sua consciência (controle) de movimentos para a tarefa a ser realizada. E é sobre esse treinamento mental que escreveremos a seguir:
Não há mistério para treinar a mente dos atletas, como qualquer outro meio de treinamento atlético (por exemplo, preparação física), conhecimento, treinamento e um bom planejamento é um bom início. Em nosso livro intitulado Construindo um atleta vencedor (Artmed, 2008) ao citar pesquisadores como Weinberg e Gould (2001), Cox (1994) Colwin (1995) e Golberg (1995) orientamos atletas para seus melhores desempenhos mentais.
A imagem mental é a linguagem do cérebro, que não pode diferenciar a atividade física da visualização bem realizada da própria atividade. Por isso, imagens mentais podem ser utilizadas pelo cérebro para permitir a repetição, elaboração, intensificação e preservação das habilidades e sequências de movimentos atléticos importantes.
Portanto o treinamento mental é a mobilização da consciência (mente) para criar imagens claras e definidas, sem nenhum tipo de interferência de outros pensamentos e simular determinada ação em um contexto real. Por conseguinte, técnicas, táticas esportivas e demais habilidades (controle emocional, autoconfiança, motivação, etc.) são campo de ação e vivência para a aplicação do treinamento mental.
Sendo assim, há um desenvolvimento da autoimagem, pois é essa que determina os limites para atingir qualquer objetivo particular. Essa autoimagem sendo positiva faz o atleta superar-se, proporcionando confiança e habilidade para isso.
Veja abaixo alguns tipos de treinamento mental:
1) Técnica da observação: Essa é uma técnica para atletas iniciantes e para aqueles em fase de aperfeiçoamento. Consiste na observação sistemática de ações feitas por outros atletas. É assimilar, conceber, absorver ou incorporar tudo aquilo que seja relevante.
2) Técnica da modulação: Também utilizada por atletas iniciantes e avançados. Consiste em visualizar um atleta em nível superior realizando, em seu lugar e com sucesso a tarefa a ser feita. Esse processo favorecerá não somente a execução de movimento, mas trará uma mobilização maior da motivação e da autoconfiança.
3) Autoverbalização: É um dos treinos preferidos dos atletas de alto nível, pela sua eficácia e facilidade na execução. Consiste na repetição verbal daquilo que se deseja fazer para facilitar a projeção da imagem mental. É preciso, no entanto, que tudo o que seja falado pelo atleta seja algo confortavelmente assumido pela consciência do atleta, ou seja, o atleta precisa dominar o movimento ou ter a percepção de domínio do mesmo.
4) Auto-observação: Essa técnica é utilizada por atletas de variados níveis, desde que os mesmos tenham adquirido consciência da execução da(s) tarefa(s). Consiste na observação sistemática do próprio comportamento (ações técnicas e táticas), nas mais diversas situações. É a concepção própria de uma imagem mental do próprio atleta, a respeito da(s) ação (ações) a realizar.
Por fim, fica claro que não há mistério para treinar a mente. Parece muito simples, mas é preciso treinar sempre e, sobretudo treinar bem. Para isso, é fundamental seguir alguns princípios, mas sobre isso falaremos depois.