por Ceres Araujo
Muitas mudanças podem ser observadas na forma de aprender e de construir o conhecimento.
Os meios através dos quais o ensinamento é transmitido têm se diferenciado incrivelmente ao longo dos tempos. O pergaminho deu lugar ao papel, o papel está dando lugar ao pendrive e o pendrive já estando cedendo lugar ao armazenamento virtual nas nuvens.
Será que daremos adeus aos cadernos, aos livros impressos? Se isso ocorrer as florestas sem dúvida agradecerão. Mas, acredito que isso ainda demorará um pouco, pois o ser humano é resistente a mudanças. O novo assusta e cria preconceitos. Fala-se do inefável cheiro dos livros, do toque agradável do papel … talvez defesas contra a suposta dificuldade do acesso à tecnologia. A tecnofobia é uma nova forma de medo mais frequente nos adultos sem dúvida.
No nosso meio, as escolas já estão passando por transformações bem interessantes. Por exemplo: o quadro negro está sendo substituído pela lousa interativa, podendo os alunos, com os tablets, interagir com diferentes mídias. A aula se torna mais interessante e motivadora. O acesso à internet permite enviar o conteúdo da aula a todos os membros da classe. É uma ferramenta altamente interativa, pois permite anotações na tela pelo professor que passam a ser incluídas no conteúdo original. Existem escolas que não mais ensinam a letra cursiva, passando os alunos da letra em bastão direto para o editor de texto no computador.
A própria lição de casa está para ser reavaliada. Ela é dada para fazer as crianças adquirirem responsabilidade e para incentivar o hábito de estudo, mas não é algo motivador para a grande maioria dos alunos. Foi introduzida na década de 1930 nos Estados Unidos e foi destinada a alunos da zona rural. Além de alguns educadores considerarem sua eficácia discutível, ela tende a trazer dificuldades na relação pais-filhos, pois muitas crianças ficam totalmente dependentes da tutela de seus pais para fazer as tarefas de casa e os pais, assumindo demais o papel de professores de matérias da escola, não têm tempo para se dedicarem a serem pais: mestres de matérias da vida.
Com o advento da internet pode ser observada uma nova forma de realizar as lições de casa. Muito mais motivadora, pois utiliza o grande interesse e a facilidade das crianças do mundo de hoje pelo uso da tecnologia da interação. As crianças têm um acesso rápido à informação e constroem o conhecimento interagindo com muitas fontes quase que ao mesmo tempo. As competências para focar atenção, partilhar atenção e sustentar a concentração são altamente treinadas. O cérebro das crianças da contemporaneidade está sendo formatado de uma forma diferente, sendo altamente diferenciado em termos do processamento do estímulo visual, cada vez mais veloz no processamento de todos os estímulos e mais capacitado para uma competente memória operante.
O ensino eletrônico ou e-learning corresponde a um modelo de ensino não presencial com o suporte da tecnologia. O aluno aprende através dos conteúdos que são disponibilizados no computador e/ou na internet. O professor pode estar à distância utilizando a internet como forma de comunicação simultânea ou não. Essa forma pura de educação à distancia, válida para o adulto, possivelmente não é a mais desejável para nossas crianças, que ainda precisam, e muito, de aulas presenciais. Para elas, o aprendizado ótimo se faz na relação com um outro investido no papel de mestre.
A relação professor-aluno é uma relação afetiva, altamente essencial para construção da mente das crianças. O professor usa sua personalidade, seu entusiasmo, suas habilidades interpessoais e o material de ensino para estimular a plasticidade neural, fomentar o desenvolvimento cerebral e otimizar o aprendizado de seus alunos. Os estudos atuais da neurobiologia postulam o conceito do cérebro social: o cérebro mais complexo da espécie humana necessita de mais tempo para maturação, o que resulta em um período mais prolongado de dependência infantil de cuidados especializados e afetivos. O professor tem um papel semelhante ao progenitor a esse respeito.
Assim, a educação precisa ser repensada de uma perspectiva social e interativa. O mais desejável atualmente, seria um sistema de ensino que combine as aulas presenciais, o contato afetivo com o professor com o e-learning. Esse sistema misto tem o nome de blended learning ou b-learning. Professor e alunos trabalham juntos em horário pré-definido (sala de aula) e cada aluno pode cumprir suas tarefas em horário flexível (lição de casa). Existe também a possibilidade de interação e integração dos colegas, além da sala de aula, com consequente troca de experiências e desenvolvimento de dinâmicas coletivas. Com os meios mais diversificados para a distribuição de conteúdos, permitidos pelo desenvolvimento da tecnologia, a sala de aula ganharia também o espaço virtual, reunindo prazer e dever. Não ouviríamos mais a tão discutível frase: "Primeiro o dever e depois o prazer", como se o aprender e o construir conhecimento não pudessem ser prazerosos em si.
Crianças desde bebês são atraídas pelos eletrônicos. O aprendizado eletrônico é de grande valor. Professores e alunos, juntos, podem se envolver cada vez mais na grande e motivadora aventura da busca do conhecimento.