Brain rot tornou-se a palavra do ano

O brain rot (cérebro apodrecido) traz um alerta sobre o uso dos dispositivos digitais e um efeito impactante e social; entenda 

A escolha do termo Brain Rot como Palavra do Ano pelo Oxford reflete um crescente reconhecimento de como a tecnologia está moldando (e deteriorando) nossa saúde mental e cognitiva. Traduzido literalmente como “cérebro apodrecido”, o conceito refere-se à perda gradual de habilidades cognitivas devido ao uso excessivo de tecnologias, especialmente redes sociais e plataformas baseadas em algoritmos.

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Especialistas destacam que a interação constante com dispositivos digitais interfere em funções essenciais do cérebro, como memória, concentração e capacidade de absorção de informações. Em um cenário dominado por notificações incessantes, estímulos rápidos e a busca por gratificação instantânea, o cérebro humano enfrenta dificuldades para se adaptar, resultando em uma espécie de overload cognitivo.

Os algoritmos das redes sociais são projetados para capturar e manter a atenção, muitas vezes priorizando conteúdos altamente envolventes ou emocionalmente carregados. Isso afeta diretamente a habilidade de focar em tarefas prolongadas ou absorver informações profundas, como a leitura de um livro ou a resolução de problemas complexos. Segundo especialistas, a repetição desse padrão pode levar a uma “superficialização” do pensamento, onde apenas informações rápidas e fragmentadas são retidas.

Estudos mostram que o consumo excessivo de conteúdo digital também está associado ao aumento de problemas como ansiedade, insônia e uma sensação constante de distração. A dopamina liberada pelo consumo de mídias sociais contribui para um ciclo viciante, reforçando a dependência tecnológica e enfraquecendo a capacidade de engajamento em atividades que exigem paciência e esforço mental.

Brain rot: impacto social  

Além das implicações individuais, o brain rot levanta questões preocupantes sobre o impacto na sociedade como um todo. Profissões que exigem pensamento crítico, criatividade e inovação podem enfrentar um declínio de desempenho à medida que a capacidade de “pensar profundamente” se torna mais rara. Nas gerações mais jovens, que cresceram conectadas, o fenômeno é ainda mais acentuado, criando desafios significativos para o futuro educacional e profissional.

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Embora a tecnologia seja uma ferramenta indispensável na sociedade moderna, especialistas sugerem práticas como a “desintoxicação digital”, períodos de desconexão intencional, e o uso consciente das redes sociais como formas de mitigar o problema. Além disso, incentivar atividades que estimulem a mente, como leitura, prática de hobbies offline e exercícios físicos, pode ajudar a fortalecer as habilidades cognitivas e a saúde mental.

A eleição de Brain Rot como Palavra do Ano não é apenas um reconhecimento linguístico, mas também um alerta sobre o custo invisível da tecnologia em nossas vidas. Compreender e agir sobre esses efeitos é essencial para proteger nossa capacidade de pensar, criar e viver de forma plena em um mundo cada vez mais digital.



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Psicóloga Clínica Cognitivo-Comportamental; Mestre em Psicologia Clínica e da Saúde - UFP - Universidade Fernando Pessoa em Portugal. Defendeu a sua dissertação com excelência e nota máxima sobre: “A interferência das redes sociais nos relacionamentos”. Especialista em Psicologia da Saúde, Desenvolvimento e Hospitalização – UFRN; Especialista pela Faculdade de Medicina do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da USP – SP. Foi professora da Pós-graduação em Psicologia – Terapia Cognitivo-Comportamental (Unipê). Há 20 anos atendendo na clínica a adolescentes, adultos, casais e famílias. Membro da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas - FBTC. Mantém o Blog próprio desde 2008. Mais informações: www.karinasimoes.com.br. Atendimentos com consultas presenciais ou online