por Arlete Gavranic
É interessante observar que, na minha realidade de terapeuta sexual, as pessoas chegam sempre buscando saber se outras pessoas também estão insatisfeitas com sua vida sexual.
Algumas sentem-se culpadas achando que só elas apresentam dificuldades sexuais, ou ainda, que só o parceiro(a) dessa pessoa reclama por uma vida sexual mais ativa.
Agora em abril, a Durex, maior fabricante de preservativos mundial, publicou parte dos resultados da pesquisa por eles realizada(The Durex Global Sexual Wellbeing Survey), e que nos fornece dados interessantes de analisar.
Os brasileiros só perdem para os gregos no item freqüência sexual, com uma média de 164 contra 145 relações sexuais por ano, perto de russos e poloneses com 143. A média mundial ficou em torno de 103 relações, pois índices baixos como o de 48 dos japoneses e 85 dos americanos, abaixaram a média global.
Duração da relação sexual
O sexo não depende do tempo que demora para ser bom e prazeroso. Embora as práticas tântricas – de origem indiana – preguem o sexo demorado, foram os indianos o povo mais rápido no sexo, com 13 minutos apenas.
Os brasileiros ficaram na marca de 21 minutos, índice superior ao de quase todos os outros países (média mundial de 18 minutos) e perdendo só para os nigerianos (com 24 minutos).
Esse é um dado interessante de ser avaliado mais profundamente, pois ou todos os outros desenvolveram técnicas (principalmente para estimular mais rapidamente suas parceiras), aprenderam e se adaptaram a fazer sexo mais rápido.
Neste caso, é nós que reclamamos demais ou o número de mulheres insatisfeitas sexualmente (e reprimidas pois nem falaram disso) ainda deve ser bem maior nos outros países.
Orgasmo
65% dos brasileiros entrevistados dizem ter orgasmo normalmente. Mas a pesquisa não apresenta o percentual em relação a homens e mulheres.
Satisfação sexual
79% dos brasileiros afirmaram que fazer sexo é importante; 64% consideram suas vidas sexuais excitantes, mas apenas 42% dizem estar completamente satisfeitos com suas vidas sexuais.
Freqüência de sexo, tempo gasto nas relações e capacidade de atingir orgasmo não foram problemas tão evidenciados pelos brasileiros. Mas as questões emocionais não saíram ilesas. O desejo de ter mais tempo para ficar com o parceiro (42%), a necessidade de sentirem-se menos cansados e estressados (57%).
O estresse e a vida corrida, principalmente nos grandes centros urbanos, nem sempre são suficientes para darmos conta de todos os nossos afazeres profissionais, intelectuais, familiares, domésticos e quiçá sexuais.
Isso nos remete a necessidade de repensar estilo de vida e se a ‘corrida maluca’ pelo sucesso, dinheiro, ascensão profissional continuarão a ser nossas metas primordiais, tendo em vista que, por conta dessa ‘corrida’, muitas outras insatisfações têm sido acumuladas.
Outros dados da pesquisa referem-se à repressão sexual. 18% dos brasileiros gostariam de experimentar fantasias sexuais, 15% gostariam de experimentar sexo anal e 15% brincadeiras sexuais, e outros 12% massagens e sexo por telefone.
Esses dados nos mostram que na verdade uma parcela significativa, que soma mais de 50% da amostra brasileira da pesquisa, gostaria de poder ousar um pouco mais na sexualidade, experimentando variações sexuais.
Sabemos que essas variações acima citadas em nada comprometeriam a saúde física ou psíquica das pessoas, pois não se tratam de desejos ou práticas desviantes ou doentias. Ninguém está falando de transar com mortos (necrofilia), com crianças (pedofilia), com animais (bestialismo ou zoofilia) ou outras que possam trazer questionamentos quanto à sanidade.
Esses dados desmentem a imagem de que o povo brasileiro seja pouco reprimido. Existe sim uma falta de intimidade e descontração na vida sexual.
13% dos casais consultados nessa pesquisa mundial, relatam que somente a troca de parceiro poderia trazer aumento da satisfação sexual.
Nesses casos podemos pensar em relacionamentos em que há presença de disfunções sexuais persistentes e impeditivas para o casal, acompanhadas do tempo decorrido e do desgaste do vínculo pelo acúmulo de frustrações. Essas muitas vezes acompanhadas de agressões verbais, morais e físicas que criam um afastamento onde não há mais eco para a afetividade positiva.
Uma das possíveis soluções, caso o casal ainda ache que valha a pena tentar resgatar a qualidade da relação, seria procurar uma psicoterapia.