por Patricia Gebrim
As redes sociais acabam por facilitar o nosso reencontro com o passado. Ao menos é o que tenho vivido nos últimos dias, quando antigos colegas de escola criaram um grupo em uma rede social e estão marcando um reencontro após mais de duas décadas se terem passado.
Mensagens começaram a surgir. Fotos, lembranças … Impossível não recordar os velhos tempos! De repente ressurgem antigos apelidos e memórias que andavam soterradas sob as infinitas solicitações do dia a dia.
Tudo isso me fez pensar em um tema que, embora não seja atual, apenas recentemente tenha conquistado seu lugar: bullying.
Claro que na minha época também existia. Eu mesma passei pelo suplício de me deparar com a crueldade alheia, acreditem, embora naquela época não existisse um nome para isso. Como na nossa sociedade “o que não tem nome, inexistente é!”, prosseguiam livremente os atos arbitrários de pura maldade, com a anuência e, muitas vezes, colaboração dos adultos, até mesmo de professores. Em minha meninice eu não me cansava de perguntar o que fazia uma pessoa sentir prazer em ferir outro alguém. Que distorção monstruosa era aquela que se apoderava das pessoas? E que cegueira absurda era aquela que fazia com que tantos assistissem sem interferir?
É interessante pensarmos que nem sempre as vítimas de bullying são aquelas que apresentam alguma característica física diferente ou mais evidente. Na verdade são escolhidas como vítimas aqueles que possuem algum tipo de fragilidade, seja física ou emocional. Cabem aqui os mais sensíveis, os tímidos, os emocionalmente fragilizados; ou os que diferem em algum aspecto, e por seu comportamento diferenciado acabam por “incomodar” seus agressores.
Já os praticantes de bullying, tem um perfil diferente. Sentem prazer de ver e sentir o desprazer do próximo. Buscam a aprovação do grupo a qualquer custo. Fazem uso da fragilidade alheia para se sentirem com um controle e poder que, na certa, há muito escapara de suas mãos na vida. Bullying é um ato consciente, hostil, repetitivo e deliberado que tem um objetivo: ferir os outros e angariar poder através da agressão.
Adultos, envolvam-se
Pensando nisso tudo, me dei conta do quanto nós, adultos, precisamos nos comprometer e ficar presentes juntos aos nossos filhos, não importa o lado que ocupem nesse triste espetáculo que destrói tanta gente.
Se forem eles vítimas de crueldades, se estiverem sendo atacados verbal ou fisicamente, se estiverem sendo excluídos do grupo, se estiverem recebendo ameaças ou sofrendo com gozações, insultos e apelidos maldosos, se tiverem seus pertences roubados ou destruídos… Saiba que estarão se sentindo extremamente sós, confusos, provavelmente acreditando que deva de fato existir algo de errado com eles, algo que justifique tanta agressão. Precisamos nos envolver, ajudá-los a perceber que não merecem aquele tratamento e que não estão sozinhos. Devemos estimulá-los a contar quando tais atos acontecerem e confiar que receberão ajuda dos pais e da escola. Não abandone seus filhos. Não exija que eles resolvam sozinhos essa situação. Feridas assim podem deixar marcas por toda uma vida. Ajude-os. Comprometa-se!
E se forem seus filhos os agressores, não fechem os olhos, eles também precisam de ajuda para lidar com essa distorção que os torna cruéis e destrutivos.
Busque as raízes dessas atitudes, questione, faça com que assumam a responsabilidade por seus atos, não os acoberte. Procure ensiná-los a encontrar dentro deles a parte que pode ser mais amorosa e justa, a parte capaz de respeitar, a parte capaz de perceber a dor que estão causando ao outro. A parte que é capaz de sentir dor quando o outro sofre.
Precisamos ajudar, vítimas e agressores, a se curarem, a reconhecerem tanto sua força quanto a sua fragilidade, a aprenderem que todos nós carregamos em nosso íntimo aquilo que mais incomoda nos outros. Precisamos ajudá-los a reconhecerem e assumirem suas sombras, diferenças e deficiências, sem precisar projetá-las em alguém fora deles, a quem passam a perseguir e querer destruir.
Todo ato de destruição trata-se de uma triste tentativa de matar no outro o que não suportamos em nós mesmos.
Claro que o tempo passa. Aliás, nesta vida, tudo passa. Que bom!
Hoje mesmo olho para trás e mal me reconheço naquela menina tímida e dentuça. Ainda assim, me estendo através do tempo e a pego com carinho no colo enquanto sussurro em seus ouvidos:
– Ei menina … Você não está mais sozinha!
Feliz, ela passa os bracinhos em volta do meu pescoço e seguimos juntas pela vida, com essa espadinha de justiça disfarçada de caneta (ou mouse) em mãos, convidando a todos para uma brincadeira diferente, na qual TODOS, sem exceção, divirtam-se juntos. Na qual o riso de uns não venha à custa da dor ou sofrimento de outros, na qual possamos celebrar juntos a amizade e o companheirismo, aceitando e honrando as diferenças, dando aos nossos companheiros de vida o respeito que todos merecemos ter.
– Quer brincar comigo?