por Renato Miranda
Durante uma semana acompanhei os treinamentos da seleção brasileira de vôlei juvenil masculino, que se prepara para o campeonato mundial em agosto a ser disputado na cidade do Rio de Janeiro.
Jovens na faixa dos 19 anos intercalaram treinos cotidianos, seguidos de jogos amistosos com a seleção argentina que também se dedicava a mesma rotina.
Nesse período algumas pessoas me perguntavam se realmente vale a pena o alto investimento pessoal para uma única atividade (no caso voleibol). Justamente em uma fase da vida que muitos outros caminhos poderiam ser traçados, que além de tudo não os obrigam ao certo isolamento, certas privações sociais, como por exemplo, viajar e passear com amigos, algumas restrições de convívio familiar em função das seguidas concentrações e excursões competitivas e outros condicionantes no rol da lista de sacrifícios.
São jovens atletas que por vocação e desejo, combinados com a compleição física coerente com o voleibol se dedicam ferozmente aos treinamentos a fim de conquistarem um lugar no alto nível do esporte e poderem compartilhar a oportunidade das disputas esportivas no mais alto nível e em consequência, realizações pessoais e profissionais.
Talvez a grande angústia dos atletas e da família de cada um é ter a consciência de que naquele grupo de jovens, possivelmente nem todos serão os futuros astros da seleção principal do Brasil.
Em um dado momento, por um motivo ou por outro, surgirão novas revelações atléticas, que ocuparão definitivamente seus espaços, desistências, lesões que impedirão a continuidade da vida esportiva e outros tantos acontecimentos que permeiam a carreira de um atleta.
A cada dia um novo desafio e um novo teste. Para cada competição uma lista de atletas convocados e “cortados” (dispensados). A busca por um aprendizado ou aperfeiçoamento de uma técnica é constante, seguida muitas vezes pelo desejo de crescer ao menos um centímetro.
É nesse cenário (não único!) que muitos jovens, inclusive de outros esportes constroem sua juventude.
Como profissional do esporte já trabalhei e acompanhei muitas trajetórias de gente que passou por tudo isso e hoje são adultos. Não somente no voleibol, mas também no automobilismo, futebol, tênis, futsal, handebol e atletismo.
Alguns são atletas veteranos, mas ainda em ação em equipes profissionais de vôlei, outros ex-atletas, há um que depois da aposentadoria se tornou técnico respeitado, assim como outros que viraram professores de educação física, treinadores de atletas amadores e diferentes profissões. Enfim, tiveram que (re) inventar seus sonhos.
O mais importante é entender que não importa a atividade, a busca do alto nível seja em qualquer área é um processo árduo, que exige sacrifícios de diversas ordens, conforme a escolha (que notadamente é livre!).
Imaginemos o que músicos, cirurgiões, arquitetos, professores, pesquisadores de alto nível tiveram que fazer para se tornarem excelentes. No esporte esse fenômeno (do sacrifício intenso) é mais comentado em função da natureza pública do esporte (veja artigos anteriores), mas de fato chegar ao alto nível é uma tarefa muito exigente.
Como recompensa, aquele que se submete a essa verdadeira aventura, aprenderá um modo de vir a ser muito especial. Independentemente se seguirá no esporte ou não, poderá usufruir de um aprendizado que o acompanhará pelo resto da vida que se resume em uma única expressão: saber lutar!