por Pedro Tornaghi
Antes de começar a trabalhar com meditação e astrologia, tive uma breve carreira de músico. Uma noite, me lembro que eu tocava em um bar e uma moça que transbordava em sensualidade, com um vestido longo, preto e decotado, veio para o meu lado, pousou seu copo de uísque sobre o piano de cauda, empinou os seios e fez o tipo fatal "sou charmosa, toca o que eu pedir". Era impossível negar, se eu o fizesse, naquela altura, o dono do bar se voltaria contra mim, ela era já, e desde o início, mais estrela que eu naquele show, agia como uma prima-dona, e virei mero acompanhante de seus desejos e extravagâncias.
Ela começou por me pedir uma música de Cole Porter, que toquei sem certeza de estar tocando certo, era bastante fora de meu repertório. Em um momento, fiquei em dúvida se deveria colocar um fá sustenido ou um sol em determinado acorde, então, fiz um trinado gaiato, uma oscilação rápida entre as duas notas, no início do compasso para sentir como uma e outra soavam na melodia. Minha surpresa foi grande, o copo dela começou a vibrar excessivamente sobre o piano. Fiquei em dúvida e curioso de saber qual das duas notas tinha provocado tal abalo sísmico na bebida que era o néctar dos deuses naquele ambiente esfumaçado.
Engatei imediatamente em outra canção de Cole que conhecia melhor e pude constatar que era o fá sustenido que criava aquele tremor frêmico no copo. Coloquei o microfone junto a ele e passei a apontá-lo com o indicador prenunciando cada novo fá sustenido que iria tocar. A plateia entendeu a brincadeira e passei a atrasar a nota, manter a música em suspenso por meio segundo, apontando o copo antes de tocar o novo fá sustenido.
Os primeiros chacras são ativados pelas cores mais quentes
Aquilo criou uma emoção diferente em todos, parecia que todo o bar mantinha a respiração suspensa antes do fá ser tocado, e depois todos riam da reverberação. Foi quando a "femme fatale", preocupada em perder a posição de centro do show, pegou o copo e se serviu de uma golada generosa, desafinando o copo. Desafinando não, para surpresa dela, o copo ficou afinado em mi. Troquei para o Samba de Uma Nota Só, que eu sempre havia tocado com o "si" sendo a "nota só", e desta vez a fiz em mi. Brinquei com o ritmo da música, fazendo o copo se contorcer de tanto vibrar com a nota única do samba. Foi um delírio da plateia, eu retardava uma nota e todos prendiam novamente a respiração, como que querendo escutar melhor a próxima reverberação do copo.
Minha parceira de número não se fez de rogada, tomou um novo gole e dessa vez, o copo não ficou afinado em nenhuma nota. Levantei o indicador pedindo licença, humildemente, como cabia a um mero pianista-de-fundo-de-conversas, e beberiquei do copo da moça, afinado-o a uma nova nota. A brincadeira durou o suficiente para que re-enchêssemos três vezes o copo e eu ficasse um pouco alto e ela praticamente bêbada. A música tem essa capacidade, de fazer vibrar algo em que não encosta. Assim com a luz o tem.
Na Índia se estuda há milênios a relação entre notas musicais, cores e as diferentes regiões do corpo, assim como com os sete chacras. Musicalmente, os chacras se afinam às sete notas da escala de dó, assim, o dó corresponde ao primeiro chacra, o ré ao segundo, o mi ao terceiro e assim por diante, até o sétimo e último chacra se relacionar com a sétima e última nota da escala, o mi.
As cores ativam os chacras conforme a escala do arco-íris, indo do vermelho no primeiro chacra até o violeta, no sétimo e último. Os primeiros chacras são ativados pelas cores mais quentes, e, conforme se vai subindo pela coluna vertebral, os chacras são ativados por cores mais frias. Dessa forma, ao expor um chacra à sua nota musical ou cor, se consegue que ele vibre tal e qual o copo de minha diva daquela noite. Em estudando os efeitos psicológicos das notas ou das cores, pode-se entender muito sobre o comportamento e a psicologia dos diferentes chacras. E interferir neles.
Van Gogh ao descrever seu famoso quadro da sala de sinuca, explica que colocou uma rosa vermelho-forte sobre uma das mesas para destacar paixão naquela zona do quadro. Sim, o vermelho é a cor das paixões fortes e incontroladas. Assim sendo, não é difícil imaginar que o primeiro chacra seja o de mais intensa e selvagem energia. O "chacra cor-de-sangue" quando despertado, deixa a pessoa com o sangue quente, passional, com uma grande necessidade de afirmação da própria energia. A pessoa se torna excitada, por vezes agitada, necessitando movimentar-se, fazer algo. O vermelho é uma cor que esquenta rapidamente, logo, esse chacra quando energizado, faz com que a pessoa desencadeie fortes processos vitais, e queira ir direto e rapidamente ao ponto naquilo que busca.
O primeiro chacra é como o apelo sexual do adolescente, que acha que quer tudo para ontem, que não pode esperar até amanhã para ser feliz. Você dificilmente encontrará uma pessoa cujo chacra predominante seja o primeiro que seja mais ou menos em algo. O vermelho é uma cor tipo ame-a ou deixe-a, o primeiro chacra é tipo "quem vai com tudo não cansa".
O laranja, cor que rege o segundo chacra, é uma cor que abre o apetite. Dizem que o setor de marketing do MacDonalds escolheu essa cor por deter essa informação. Mas é também a cor usada pelos monges renunciados da Índia. Se o primeiro é o chacra da paixão e da vida, o segundo é o da morte, onde a pessoa lida com a desidentificação com os objetos de desejo. O laranja é uma cor ligada ao jogo de sedução, ao aconchego, à vontade de ser escolhido por alguém, às trocas afetivas, à sensualidade e todas essas são qualidades ligadas ao segundo chacra. Porém, esse é um chacra de sutilezas. Ao mesmo tempo em que ele é mestre em criar laços e dar nós, é mestre em "desdá-los". A superfície desse chacra está ligada ao atrair e reter. O centro dele, ao desapegar-se e deixar ir. É o chacra que rege nossos intestinos e seus movimentos peristálticos. Se ficarmos só na superfície do chacra tenderemos ao apego e a dificultar o andamento do tráfego intestinal. Se nos vincularmos ao seu centro, deixaremos ir do alimento coletado e digerido, àquilo que não nos diz respeito.
O amarelo é uma cor viva como o é o terceiro chacra, que ela rege. Uma cor de brilho forte para administrar um chacra que nos inclina a disputar um lugar ao sol. É uma cor ligada à atenção, relacionada ao chacra responsável pelo plexo solar, o centro da ansiedade. Sim, a ansiedade está ligada ao estado de apreensão, a estarmos extremamente atentos aos mínimos sinais do ambiente, para interpretá-los e reagir a contento aos desafios que nos aparecem pela frente. A ansiedade é algo que surge em nós quando entendemos que necessitamos alcançar algo e corremos o perigo de não alcançá-lo. Dessa maneira, o terceiro chacra nunca deixa que a claridade do amarelo se apague, e usa a agilidade intelectual que essa cor representa, para raciocinar o mais rapidamente possível e encontrar sempre a resposta mais afiada. Pode-se dizer que o terceiro chacra nos inclina ao estado de alerta constante, simbolizado pelo amarelo.
O verde é uma cor equilibrada e intermediária, entre o quente e o frio e rege o quarto, o chacra central, situado entre os três primeiros chacras, ligados a nossas ocupações materiais e os três últimos, relacionados a nossa inteiração com o universo espiritual. O verde é uma cor que equilibra quase tudo em nós, seja no universo psíquico, emocional, físico, energético ou espiritual. Ele é muito usado no final de sessões de cromoterapia, quando terapeutas desconfiam ter exagerado na exposição do paciente a alguma cor. Eles finalizam a sessão com um banho de verde, como garantia de que a pessoa sairá equilibrada do consultório. O verde é uma cor que suscita a felicidade, o renascimento e a revitalização, propriedades também do coração e das emoções ligadas a esse chacra.
O azul celeste e turquesa estão ligados à paz e são cores que aumentam a criatividade, qualidade intrínseca ao quinto chacra. Experimente passar algumas tardes deitado na grama, ou em um banco de praça, de quarenta minutos a uma hora por dia, deixando os olhos, relaxados, se alimentarem do azul do céu. Você se surpreenderá ao realizar como a cor que rege o quinto chacra o deixará mais e mais criativo. O azul celeste está ligado à maternidade, o momento de criação mais concreta disponível a um ser humano. Essa cor é usada na cromoterapia para tratamento de transtornos que aparecem do nada e que desaparecem repentinamente. O quinto chacra é assim, sua criatividade vem, não se sabe de onde, mas também desaparece facilmente, sem que se saiba para onde foi. O azul celeste é uma cor com propriedades adstringentes, antissépticas e calmantes. Para a ciência das cores, ela tem a qualidade de fechar os poros. Se assemelha ao quinto chacra que, por momentos, nos inibe de respirar as influências ambientes e nos permite tirar soluções próprias, de um baú pessoal, para os desafios externos.
O azul-marinho ou índigo é uma cor calmante que estimula a meditação. O sexto chacra, regido por ela, é o chacra onde ficamos no limiar entre o mundo dual da natureza e a integração total com o universo. Ramakrishna, a grande referência mística da Índia no século XIX, costumava falar sobre os chacras para seus discípulos. Ele começava a falar pelo primeiro e ia avançando por ordem, mas nunca chegou a falar do sétimo. Quando começava a dissertar sobre o sexto, seus dois olhos iam se virando para o espaço entre as sobrancelhas e, de repente, ele entrava em samadhi, em estado de êxtase. O sexto chacra fica tão próximo do sétimo e último, o chacra da dissolução do eu no todo, da gota no oceano para usar a expressão dele, que quando mergulhamos profundamente no sexto chacra, ficamos a um fiapo de distância do êxtase espiritual derradeiro. Assim como o azul escuro da noite, que quando está profundamente escuro, se confunde com a escuridão total do negro.
O violeta é uma cor que desencadeia processos em locais menos visíveis do corpo, age em doenças sutis e de difícil diagnóstico. Ela obtém uma resposta muito acentuada do sistema imunológico. O sétimo chacra, que é administrado por ela, nos torna imunes a provocações, por nos desidentificarmos delas. O violeta acelera todas as nossas respostas hormonais e esse chacra se liga diretamente à administração da chave-mestra de nosso sistema glandular. É uma cor muito usada em meditação, por desencadear insights e mesmo facilitar o contato com a fonte de onde vêm todos os insights. O violeta tem uma porção de vermelho que nos mantém acordados, mesclado a uma porção de azul que nos mantém calmos. Essa é a essência do sétimo chacra, estar ativo mas em plena consciência, estar participante da cena, ao mesmo tempo que reflexivo. É considerado na cromoterapia um "acelerador de carma". Já o sétimo chacra, é quando, finalmente, nos vemos livres de todos os liames psicológicos que nos prendem ao mundo.