por Elisandra Vilella G. Sé
O ciclo de vida é composto por várias fases de desenvolvimento, temos a infância, a adolescência, a idade adulta, a meia-idade e a velhice sendo que cada fase possui peculiaridades que definem a trajetória de vida de uma pessoa, porque cada fase da vida é caracterizada por interesses diferenciados, por mudanças e transições não só biológicas, mas sociais e psicológicas. A família é um conjunto de pessoas unidas por laços de parentesco, sejam sanguíneos, por casamento ou por adoção, que juntas satisfazem necessidades físicas e emocionais.
A família é ainda uma instituição social, pois nela origina-se o processo de socialização, o desenvolvimento da personalidade e as relações são mais intensas e qualificadas. É na socialização que os jovens recebem dos adultos a motivação e as condições para assumirem seus papéis sociais.
Os papéis de filho, pai e avô vão sendo construídos ao longo da vida. É na família que se vive a experiência das relações intergeracionais. Os encontros e desencontros dos interesses pertencentes ao curso de vida podem ser manifestados nas relações intrageracionais (membros da mesma família) e intergeracionais, que são as relações entre as gerações.
Estudos sobre relações familiares e relações entre gerações já mereceram a atenção de diversas áreas do saber. Em diferentes arranjos familiares podemos observar as diferenças de laços existentes entre os membros da família. A partir da segunda metade do século XX, ocorreram muitas transformações nas estruturas familiares em todo o mundo. Por exemplo, percebe-se que com o aumento do número de divórcios, surgem novas uniões conjugais, o que caracteriza o estilo de vida familiar moderno, com isso surgem novos pais, novas mães e novos avós.
É possível observarmos pessoas com diferentes idades vivendo numa mesma casa e compartilhando interesses, experiências e valores diferenciados. Entretanto, a relação saudável entre as gerações é possível desde que haja respeito entre as gerações com adaptações favoráveis à cada etapa do curso de vida considerando as características individuais e o contexto cultural e sócio – histórico existente no grupo social. A vida em família implica coexistência de valores, normas e comportamentos singulares. Portanto, esses são desafios a ser enfrentados.
Com o aumento da expectativa de vida, várias gerações viverão simultaneamente, com isso torna-se necessário mudar o conceito que nossa sociedade tem sobre o velho, uma vez que muitas pessoas pensam ser a velhice uma fase de perdas e declínios, tendo uma imagem negativa sobre essa fase da vida. Atualmente vivemos uma era de transição de valores sociais e culturais associadas à velhice. Encontramos idosos independentes socialmente e afetivamente, com a presença de metas de vida a serem concretizadas, dando sentido a sua própria existência.
Porém, encontramos outros que precisam aprender a lidar com esse espaço vazio deixado pelos nossos antepassados, muitos deles percebem a velhice como uma fase preenchida por vivências negativas e com dificuldades de aceitação pessoal. Esse vazio se transformou em uma herança adquirida que contempla ainda hoje associações à velhice como uma fase preenchida só por perdas e com imagens distorcidas do processo de envelhecimento.
Como toda fase na vida do desenvolvimento humano, na velhice também existem ganhos e esses estão relacionados a uma capacidade de estabelecer prioridades, a conhecimentos especializados, a prudência e precisão, isto é, o idoso se torna mais seletivo nas experiências sócioemocionais, adquirindo uma compreensão ampla, realista e objetiva da própria existência.
No filme “Num lago dourado”, de Mark Rydell, Estados Unidos de 1981, os personagens são representados por atores já idosos e trata de encontros e desencontros humanos e das diferentes formas de enfrentar a velhice. O filme traz a história de um homem de 80 anos com perda de memória e inconformado com seus 80 anos e que vai para a casa de campo com sua esposa e lá ele recebe a visita da filha, com quem sempre manteve uma relação conflituosa.
A esposa cheia de sabedoria e bom humor tem um papel fundamental no relacionamento dessas relações. O filme deixa a mensagem que não devemos deixar que as dores do passado amargurem o resto de nossos dias.
No passado o idoso era o detentor do conhecimento, nele se concentrava a sabedoria acumulada de várias gerações anteriores e ele era respeitado pela sua comunidade. Com a modernização da sociedade o idoso foi se perdendo no caminho. Ele passou a não ser mais tão valorizado, pois tornou-se desnecessária sua contribuição na construção da história viva de uma sociedade, porque o saber agora se concentra nas escolas, nas universidades, nos livros, nos museus e por último na Internet.
A sociedade moderna tirou-lhe seu principal papel social de ser o transmissor do conhecimento e da cultura e não o ajudou a construir seu novo espaço social. Por isso, é importante que haja espaço para o diálogo entre as gerações no sentido de construir papéis sociais que se adequem à realidade social para que os jovens e as pessoas mais velhas possam formar sua identidade e redimensionar suas experiências vividas de forma significativa. Tanto o jovem como o idoso são co-responsáveis pela modificação da imagem do envelhecimento, principalmente de si mesmos e amenizar o culto que se tem à juventude.
Estudos científicos mostram que ter metas significativas na vida, facilidade de iniciar e preservar as amizades, valorizar as relações sociais e adaptar-se a situações novas são recursos importantes para a manutenção das relações sociais, consequentemente, a rede social é ampliada e as relações intergeracionais também são intensificadas. O diálogo entre a criança e o idoso ou entre o jovem e o velho é a possibilidade de compartilhar muitas idades, sendo que cada pessoa traz na sua bagagem experiências já vividas. Nessa relação, o importante não é a quantidade de relações que um idoso pode proporcionar, mas sim sua qualidade, o vínculo criado será a alavanca necessária para quebrar imagens negativas associadas à velhice e ao processo de envelhecimento.
As relações entre as gerações têm seu valor na medida em que as pessoas adultas e mais velhas transmitem sua herança cultural dando continuidade nos valores culturais, nas crenças positivas em relação ao curso de vida, nas ideologias e nos comportamentos de uma sociedade. As ações gerativas se manifestam através da criação, manutenção e na oferta de transmissão do que foi criado, do ensino, do aconselhamento, da orientação e no deixar um legado pessoal, permitindo o uso autônomo desses produtos pelos seus beneficiários e também pelo seu grupo social.
Os encontros e desencontros das gerações são permeados pelos papéis que as pessoas desempenham ao longo da vida, seja no âmbito da família, no trabalho, no lazer ou na comunidade, como, por exemplo, educar os filhos, cuidar e responder por outras pessoas, atuar como orientador, conselheiro ou mentor, transmitir experiências envolver-se em tarefas que possam manter um legado pessoal e coletivo no sentido de preservar valores.
São funções desenvolvidas conforme a evolução de uma sociedade, que podem sofrer transformações ou não.
É evidente que em muitas famílias as interações entre as gerações não são totalmente positivas. Dentro de um grupo social e em qualquer época, as semelhanças e diferenças vão sempre existir, o processo de mudanças de valores sociais será constante por que estamos nos relacionando socialmente o tempo todo, e estas mudanças serão construídas pelos próprios atores dessa relação (idosos, jovens, adultos e crianças).
A flexibilidade diante das dificuldades que estão presentes ou que estão por vir e o constante diálogo serão ferramentas importantes nos relacionamentos intergeracionais. Dessa maneira sendo criança, jovem, adulto ou idoso todos terão maiores condições de fazer adaptações para que possam ter uma convivência positiva e produtiva.
A troca de experiências entre gerações é a oportunidade de compartilhar sabedoria, crescimento pessoal e aquisição de novos conhecimentos. É necessário educar com o objetivo de estimular gerações para a abertura de novas experiências, para novas maneiras de ser, para novas ideias e para a manutenção da autonomia, ou seja, na capacidade de fazer escolhas voltadas para o bem-estar físico, social e psicológico.
Os idosos já percorreram um grande caminho na luta contra os preconceitos associados ao envelhecimento, os idosos de hoje já colhem frutos em relação a sua imagem social, aos seus direitos como cidadão, são criadores de uma nova economia, de valores sociais e culturais que são importantes para todas as gerações e para as relações intra e intergeracionais.
É muito saudável que pessoas adultas e idosas participem de atividades:
• Oficinas de reminiscências (lembranças), discutindo fatos de sua época e compartilhando de assuntos significativos que tratem de sua relação com filhos e netos.
• Frequentar grupos de convivência, comunidades de práticas que possam compartilhar conversas que facilitem o entendimento das novas relações familiares.
• Narrar suas experiências de vida para os filhos e netos.
• Organizar álbum de fotografias e jornais que estejam registrados os acontecimentos que vivenciou.
• Fazer visitas e viagens que proporcionem a alegria do encontro, ou o retorno às origens.
• Estar sempre disposto a aprender com o outro.