Suicídio dos filhos, o dar-se morte: inevitável tema

O  aumento da frequência de suicídio nos últimos anos, no mundo, no País, na nossa cidade e entre os mais jovens torna necessário falar sobre isso. 

 Na infância, “o dar-se morte”, tem poucos relatos, porém, atualmente cada vez mais se considera tal possibilidade. Quando o ambiente da criança é destruído, muitas vezes por fracassos nas relações familiares, a taxa de ideação suicida na criança tende a aumentar. A epidemiologia de suicídio na criança de 5 a 12 anos de idade é imprecisa. Antes dos seis anos, são mais escassos os suicídios com êxito, sendo uma das razões a dificuldade de acesso a meios letais, pois a criança está mais acompanhada de perto. Mas, ocorrem muitos acidentes que são equivalentes a tentativas de suicídio.

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Suicídios invisíveis 

Suicídios invisíveis, ou seja, acidentes que poderiam ser interpretados como suicídio, existem em todas as idades. A ideia de se matar é um fenômeno desigual em função da idade, do sexo e das condições da cultura. A ideia da morte é um processo que se constrói lentamente na mente da criança. A palavra morte se torna “adulta” entre 6 e 9 anos, convertendo-se em um conceito. Ao redor dos 8 anos, a morte passa a designar um acontecimento irreversível, antes dessa idade a morte é vista como reversível, percebendo-se isso nas brincadeiras das crianças, onde os personagens morrem e ressuscitam a todo tempo.  

O significado atribuído pela criança à morte depende do modo pelo qual se desenvolve o acontecimento e o “teatro da morte” é encenado por sua cultura. Esse progresso da representação da morte dá à palavra “suicídio” um significado particular para a criança. Entretanto, a ideia da morte não se associa necessariamente à ideia de se matar.

A premeditação é difícil em se tratando de crianças. Na maioria das vezes, o “se dar morte” é um impulso que, com a maturidade crescente, pode atingir também a forma de um jogo,  de um desafio. Pode-se observar, nesse sentido, jogos difundidos pela Internet, como o jogo do desmaio, prendendo a respiração; o desafio do aerossol; o desafio da canela em pó;  a baleia azul etc.

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Ideação suicida  

A ideação suicida pode passar a ser frequente na idade escolar e na adolescência, sendo fatores desencadeantes as discussões com os pais, problemas escolares, perdas de entes queridos e mudanças significantes na família que acarretam perdas. Mas não necessariamente a ideação suicida determina a tentativa de suicídio.

Tentativas de suicídio aumentam com a idade, tornando-se mais frequente durante a adolescência. A adolescência é uma fase de mudanças, caracterizadas por profundas alterações no corpo, no cérebro, na mente. Os conflitos dessa fase, entre a necessidade de autonomia e independência e medo de se afastar do mundo dos pais, traz ao jovem vivências de forte angústia, de confusão, aliadas ao sentimento de não ser compreendido por ninguém, de estar só e de ser incapaz de fazer escolhas. Ele fica, então, perigosamente vulnerável aos estressores ambientais, especialmente aos problemas familiares. Pode ficar vulnerável à contaminação pelo que é veiculado em sites que mostram diferentes formas de se cortar, de se mutilar para diminuir dores mentais, em séries tipo 13 Reasons Why, por exemplo, onde há a glorificação do suicídio.  

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O suicídio é considerado como uma das causas mais frequentes de morte na adolescência. As estatísticas no mundo mostram que transtornos de humor graves, na maioria das vezes não diagnosticados,  são causas importantes no suicídio na adolescência. A agressividade e a desesperança são sintomas comuns, muitas vezes manifestados por dirigir alcoolizado, por abuso de drogas ilícitas, atividade sexual, inserção em “tribos”, brigas constantes, recusa ao aprendizado escolar etc.

Características do desenvolvimento afetivo emocional pode também constituir fatores de risco. Assim, dificuldades com o controle dos impulsos, com a regulação das emoções, com o aguentar frustração,  com o enfrentamento a situações de estresse, as quais caracterizam imaturidade emocional e fragilidade do eu, podem estar na origem do aumento do suicídio e das tentativas de suicídio dos adolescentes da nossa época e da nossa sociedade.

Aumento de suicídio na criança

À guisa de conclusão de um assunto que é inesgotável, pode-se pensar que o aumento de suicídio na criança indica agravamento de mal-estar na sociedade, porque se fala em diminuição da idade da primeira tentativa de suicídio. Estarão as crianças mais infelizes ou seu desenvolvimento acelerado pelas novas condições educativas está dando acesso, muito mais precoce, à representação mental da morte, que não tiveram tempo de dominar?

Em relação às crianças e aos adolescentes, questões se apresentam: poder-se-ia pensar que nós, pais, estamos criando  filhos superprotegidos,  frágeis, inseguros, que não aguentam tolerar frustração, que não sabem lidar com adversidade, que não perseveram frente a obstáculos, que têm perspectivas irrealistas frente a sucesso e fracasso e que se colocam com vítimas das pessoas que o rodeiam e das situações onde são inseridos? Estamos esquecendo de mostrar para nossos filhos que adversidades, interdições, perdas, injustiças, carências existem, no nosso afã de protegê-los a todo custo?

As estatísticas mostram que 80% dos que avisam que vão se matar,  se matam. Para muitos o suicídio é sentido como a única solução para parar de sofrer. Todas as ameaças de suicídio devem ser encaradas com seriedade, mesmo quando possam parecer falsas ou manipulativas.