Da Redação
Muitas mulheres adiam a maternidade até atingir estabilidade no relacionamento ou na carreira. Deixam para pensar em ter filhos depois dos 35 anos. Mas é a partir dessa fase que se tornam mais vulneráveis a algumas doenças, como o câncer cervical – que costuma atingir a população feminina entre 35 e 55 anos e que pode ser detectado no estágio inicial através do exame Papanicolau em 90% dos casos.
De acordo com a médica ginecologista Silvana Chedid, a principal causa do câncer cervical é o HPV (papiloma vírus humano), doença sexualmente transmissível que atinge cerca de 30% das mulheres, embora muitas sejam portadoras do vírus e desconheçam o fato.
“Há mais de 80 tipos do vírus. Hoje já se pode contar com uma vacina, mas a indicação vai depender, entre outros fatores, de uma avaliação da saúde da paciente. Além disso, mesmo representando um grande avanço, 30% dos tumores estão descobertos pela vacina – que tem no custo outro fator limitante”, diz a especialista.
Estudo recentemente divulgado pela Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), revela que uma em cada quatro mulheres apresenta lesões causadas pelo HPV um ano depois de ter iniciado a vida sexual.
“Isso é muito grave, porque além de o câncer de colo de útero ser o terceiro mais agressivo – ficando atrás somente do câncer de pele e de mama – ele exerce um tremendo impacto na fertilidade feminina”, diz a médica.
Câncer cervical x maternidade
De acordo com Silvana Chedid, a menos que o câncer cervical seja diagnosticado num estágio bastante inicial, a maioria das pacientes não terá mais filhos. “Mesmo para quem nunca desejou ser mãe, esse tipo de constatação costuma ser um choque. A maternidade está muito associada a uma fase da mulher. A retirada do útero pode ser algo muito difícil de se lidar. Mesmo quando a histerectomia não é necessária, a radioterapia quase sempre interrompe o funcionamento dos ovários”.
Segundo a médica, estudos apontam o autotransplante como uma das boas promessas da ciência. Nesse caso, os ovários seriam extraídos antes do tratamento e transplantados posteriormente, quando a paciente já estivesse em condições de levar uma gestação adiante. “O congelamento de óvulos é outro recurso a ser explorado. A paciente é submetida a um tratamento de indução da ovulação semelhante ao da fertilização in vitro, com a retirada dos óvulos e posterior congelamento. O tipo de medicação empregada depende da sensibilidade do tumor ao hormônio estrogênio”.
Fonte: Dra. Silvana Chedid, médica ginecologista, chefe do depto. de Reprodução Humana do Hospital Beneficência Portuguesa (SP).