Da Redação
Pesquisa da Unifesp também identificou déficit auditivo nesses indivíduos. Em quase 14% dos usuários de tabaco foi verificada existência de disfunção coclear, ou seja, ausência de sons gerados dentro da cóclea.
Os fumantes, em comparação aos que nunca fumaram, apresentam mais risco de contrair infecções respiratórias; cânceres; doenças circulatórias, como arteriosclerose, aneurismas da aorta e acidentes vasculares cerebrais; além de distúrbios em vários órgãos, entre eles, o ouvido. É o que comprova uma pesquisa apresentada como dissertação de mestrado na Unifesp, na qual foram avaliados 144 indivíduos – 72 fumantes e 72 não fumantes -, de ambos os sexos e com idades que variaram entre 20 e 31 anos.
No estudo, foram considerados fumantes os indivíduos que fumavam mais de cinco cigarros por dia e por um período superior a um ano. A pesquisadora encontrou em 40,3% dos fumantes avaliados queixas de zumbido na audição. O índice é quatro vezes maior quando comparado ao resultado de indivíduos que não fumavam, de 11,1%.
Exames de audiometria também detectaram prejuízos na audição de fumantes. De acordo com a fonoaudióloga Carolina Pamplona Paschoal, autora da pesquisa, em 13,9% dos usuários de tabaco foi detectada disfunção coclear, ou seja, ausência de sons gerados dentro da cóclea – tanto espontaneamente ou como resposta a uma estimulação acústica -, mesmo quando os indivíduos apresentavam limiares auditivos dentro dos padrões de normalidade.
"É a cóclea, um pequeno órgão do ouvido humano, que amplifica o som, quando necessário, e converte as vibrações acústicas em sinais elétricos que o cérebro lê e interpreta como sons", explica a pesquisadora. Em não fumantes, o índice de disfunção coclear foi de 2,8%.
Carolina explica que a análise dos dados estatísticos mostrou que há uma forte relação entre dose e tempo de tabagismo com alterações auditivas. "Isso significa que os indivíduos que fumavam mais e por mais tempo apresentavam mais alterações do que aqueles que fumavam menos e por menos tempo". Segundo ela, vários estudos responsabilizam o tabagismo pelo déficit de oxigenação no sangue, obstruções vasculares e alteração na viscosidade sanguínea, problemas que podem acarretar um efeito tóxico sobre os órgãos ou nervos responsáveis pela audição ou pelo equilíbrio.
Sons agudos são primeiros a sumir
Os fumantes avaliados na pesquisa apresentaram rebaixamento dos limiares auditivos (intensidade mínima para que um estímulo produza uma resposta) nas altas freqüências (acima de 8000 Hertz), caracterizadas pelos sons agudos como o de alarmes de relógios.
Carolina explica que a avaliação das freqüências acima de 8000 Hertz, conhecida como audiometria tonal de alta freqüência, não é utilizada na rotina clínica, mas que é um importante instrumento de diagnóstico precoce de perda auditiva. "Vários estudos já mostram que a perda auditiva tem início pelas altas freqüências e nossa pesquisa vem reforçar essa tese", afirma. "Sabendo disto, é possível pensar em prevenção".
De acordo com Carolina, a audiometria tonal mais utilizada nas avaliações clínicas de rotina é a convencional, que verifica as freqüências de 250 a 8000 Hertz. Em sua pesquisa, a fonoaudióloga avaliou os indivíduos com freqüências de até 16000 Hertz. "É importante que os fumantes procurem auxílio profissional quando perceberem qualquer alteração auditiva", diz. "O zumbido, sintoma mais frequentemente diagnosticado, é apenas uns dos sinais de que é preciso procurar ajuda. Sensação de ouvido tampado e dificuldade para escutar ou entender as palavras também devem ser levadas em conta".