Como lidar com a dependência do Tramadol? 

O uso indiscriminado do Tramadol, sem estreita supervisão médica, pode provocar quadros indesejáveis de Abuso e/ou Síndrome de Dependência; o tratamento para se livrar da dependência desse opioide geralmente requer internação

E-mail enviado por um leitor:

Continua após publicidade

“Iniciei o uso de Tramadol há 7 anos devido a uma dor de coluna. Há dois anos, estou tomando mais de 01 caixa por dia e não consigo ficar sem esse remédio. Quando estou estressado, já penso em usar o Tramadol. Já cheguei a tomar 4 caixas em um único dia. O que devo fazer?”

Resposta: O Tramadol é rotulado como uma substância controlada Classe IV pelo órgão Americano conhecido como Drug Enforcement Administration (DEA), o que significa que tem uso medicinal reconhecido, mas há potencial para induzir quadros de Abuso e Síndrome de Dependência. Em 2020, cerca de 0,5% da população Americana com mais de 12 anos apresentou quadros de Abuso/Síndrome de Dependência de Tramadol.

É fato que o Tramadol continua a ser considerado relativamente mais seguro e menos indutor de Abuso/Dependência do que outros opioides de ação curta. No entanto, devido a essa reputação de um perfil de segurança superior, bem como alguns benefícios terapêuticos exclusivos em relação a outros analgésicos, o Tramadol é um dos opioides mais comumente prescritos nos Estados Unidos da América — frequentemente usado para dor aguda pós-operatória.

O Tramadol tem um mecanismo de ação único entre os opioides prescritos. Além da sua atividade nos receptores opioides (em especial no receptor chamado mu), essa medicação atua nos sistemas de recaptura das monoaminas noradrenalina e serotonina, favorecendo a sua atividade sobre o controle da dor.

Continua após publicidade

Síndrome de dependência do Tramadol

No entanto, o uso desta medicação de forma indiscriminada e sem estreita supervisão médica pode provocar quadros indesejáveis de Abuso e/ou Síndrome de Dependência. Um dos marcadores de que existe um problema com o uso de Tramadol é quando o paciente está fazendo uso da medicação para outras finalidades que não o alívio da dor.

Comportamentos ditos “inadequados” ou mesmo “aberrantes” devem chamar a atenção, tais como:

a) Forjar receitas;
b) Procurar serviços de emergência para obter receitas;
c) Pedir mais receitas para o médico, alegando falta de controle sobre a dor;
d) Obter medicações através de outras fontes (outras pessoas que estão fazendo uso, por exemplo);
e) Alegar ao médico prescritor que perdeu as receitas.

Continua após publicidade

De fato, o usuário de Tramadol, quando da falta da tomada da medicação ou mesmo redução abrupta da dose, geralmente apresenta os famigerados sintomas da Síndrome de Abstinência. Embora não haja uma homogeneidade sobre a linha do tempo para o início destes sintomas com o Tramadol, os sintomas de abstinência associados aos opioides de ação mais curta geralmente atingem o ponto mais intenso em 36 a 72 horas após o indivíduo interromper o uso ou reduzir drasticamente a quantidade que toma. Os sintomas da Síndrome de Abstinência aguda geralmente duram de 1 a 2 semanas.

Dentre os vários sintomas da Síndrome de Abstinência de opioides registrados, aponto os mais comuns:

a) Humor irritável;
b) Náusea ou vômito;
c) Dores musculares;
d) Lacrimejamento ou rinorreia;
e) Midríase, pilo-ereção ou suores;
f) Diarreia;
g) Bocejos;
h) Febre;
i) Insônia;
j) Tremores;
k) Aumento da pressão arterial;
l) Aumento da frequência cardíaca;
m) Pupilas dilatadas.

Obviamente, a experiência da Síndrome de Abstinência não é a mesma para todos os dependentes; por isso, é difícil identificar quando os sintomas podem começar, quanto tempo durarão ou a gravidade deles. Semelhantemente às outras drogas, a Síndrome de Abstinência de opioides é influenciada pela frequência e duração do uso da droga, a quantidade tomada, o método de ingestão, o uso simultâneo de outras substâncias, incluindo álcool, benzodiazepínicos e outras drogas.

A Síndrome de Abstinência aguda de opioides tende a ser por demais desagradável e apresentar desafios para uma recuperação precoce. No entanto, esta Síndrome de Abstinência pode ser gerenciada de forma eficaz por meio de desintoxicação médica, que pode servir como ponto de partida ideal para que outras formas de manejo clínico possam tomar lugar.

Desintoxicação do Tramadol exige alto nível de monitoramento médico, geralmente em regime de internação

A desintoxicação médica exige um alto nível de monitoramento médico, sendo realizada geralmente em regime de internação. Os profissionais de saúde ajudam a gerenciar os sintomas da Síndrome de Abstinência com segurança, mantendo o paciente o mais confortável possível.

No geral, o tratamento exige o uso de medicamentos específicos

O Food and Drug Administration (FDA) aprovou alguns tipos de medicamentos para o tratamento do transtorno do uso de opioides, com alguns deles – incluindo Metadona, Buprenorfina e Lofexidina – sendo úteis para controlar a abstinência de opioides. Com mecanismos de ação diferentes, alguma combinação desses três medicamentos pode ser usada para aliviar os sintomas de abstinência, controlar os desejos de drogas e atenuar alguns dos efeitos recompensadores ou eufóricos da droga abusada.

A desintoxicação é normalmente o primeiro passo em um plano de tratamento mais abrangente para transtornos por uso de substâncias. A desintoxicação médica por si só normalmente não é suficiente para apoiar a abstinência a longo prazo; portanto, a equipe de tratamento o incentivará a continuar com alguma forma de tratamento após o gerenciamento de retirada bem-sucedido.

Você deve tomar a decisão de tratar-se. É muito possível que o tratamento em regime de internação seja necessário no início do manejo médico. Procure um especialista no tema e não perca mais tempo.

Boa sorte!!!

Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.

Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Professor de Psiquiatria do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC. Pesquisador nas áreas de Dependências Químicas, Transtornos da Sexualidade e Clínica Forense.