por Danilo Baltieri
"Tenho um relacionamento com um rapaz de 32 anos, eu tenho 54. Ele é um homem muito inteligente, sensível, carinhoso… Enfim, nos entendemos bem apesar da grande diferença de idade. Infelizmente, ele é dependente químico de cocaína. Estamos juntos há um ano e meio. No início, não sabia que ele usava isso; quando o via triste e estranho, achava que ele estava com depressão, pois nunca tinha convivido com tal situação. Agora que sei de toda a realidade, tento ajudá-lo. Já o levei aos Narcóticos Anônimos, mas nada parece adiantar. Ele sempre volta e se afunda, promete que vai ser diferente… Estou meio perdida sem saber o que fazer. Gostaria que me desse uma direção ou se o melhor é sair fora dessa história que não é minha. Tenho pena dele, mas estou vendo meu mundo afundar."
Resposta: É frequente o cônjuge de um portador de dependência química tornar-se tão envolvido com o comportamento do parceiro a ponto de aderir aos mesmos processos mentais desastrosos. Os parceiros não dependentes sentem-se perdidos, às vezes negando o problema, e às vezes sentindo-se desesperados ou mesmo furiosos. Muitas vezes, as estratégias adotadas pelo parceiro não dependente para recuperar seu companheiro são inadequadas e apenas acentuam o problema (por exemplo, comprar bebidas para o dependente tomar em casa e não na rua, tentar experimentar maconha junto com o parceiro dependente para tentar sentir o mesmo "barato" que o parceiro tanto busca, pedir para o parceiro usar cocaína no banheiro somente à noite etc). Outrossim, alguns parceiros não dependentes tomarão atitudes que são autodestrutivas, degradantes e que violam o próprio sistema de valores pregresso. Ou seja, o companheiro não dependente tende a sacrificar sua própria identidade e realidade em favor de uma outra bastante diferente e, por vezes, caótica. Por exemplo, é comum codependentes em relacionamento amoroso manifestarem os seguintes comportamentos:
10 atitudes autodestrutivas do codependente:
1ª) Desrespeitar seus próprios valores;
2ª) Colocar-se em segundo plano;
3ª) Encobrir comportamentos inadequados do parceiro dependente;
4ª) Tentar aparentar calma, quando se está extremamente furioso;
5ª) Evitar conflitos para manter o casamento e as aparências;
6ª) Ser desrespeitado continuamente;
7ª) Permitir que seus próprios valores morais sejam desprezados;
8ª) Acreditar que não existem outras opções;
9ª) Assumir responsabilidades demais;
10ª) Estabelecer e reforçar a crença de que merece o que está acontecendo.
Geralmente, o companheiro não dependente inicia o processo de codependência estabelecendo um sistema de crenças nocivo. Esse indivíduo não dependente avalia seu próprio comportamento, suas necessidades, sua história e seus relacionamentos pretéritos. A partir de então, desenvolve pensamentos que distorcem a realidade e amparam o comportamento do parceiro dependente. Por exemplo, sempre fui pouco desejável; logo, é melhor permanecer nessa forma atual do que em uma outra. Ou mesmo: minha mãe sempre manteve o relacionamento com meu pai, apesar dos seus problemas com o álcool; logo, tenho a mesma sina.
A mesma sensação de solidão e desamparo experimentado pelo dependente é vivido pelo parceiro codependente.
Consequentemente, muitos codependentes manifestam:
1ª) Perda de amigos;
2ª) Tristeza e pensamentos de ruína;
3ª) Sonhos não usuais;
4ª) Mudanças de apetite e padrão do sono;
5ª) Falha no desempenho de tarefas usuais;
6ª) Problemas financeiros;
7ª) Comportamentos degradantes ou humilhantes.
Em situações como estas, aliás nada incomuns, é recomendável e desejável que tanto o parceiro dependente quanto o companheiro não dependente iniciem um tratamento específico. Caso o parceiro dependente não o deseje, é fundamental que o companheiro não dependente faça seu tratamento. É essencial que pensamentos disfuncionais sejam reconhecidos e comportamentos não saudáveis possam ser modificados. Infelizmente, muitos codependentes acreditam que conseguem domar a situação por si sós. No entanto, um ciclo de comportamentos problemáticos e desenfreados pode já estar ocorrendo há algum tempo e o reconhecimento disso, bem como seu manejo, pode ser bastante salutar.