Diverticulose e diverticulite é mais comum do que se pensa

A diverticulose pode ou não causar problemas. Já a diverticulite é comparável em sintomas à síndrome do intestino irritável e causa dor abdominal, inchaço, gases, constipação/diarreia e sangramento nas fezes.

Pequenos sacos tubulares formando saliências ao longo do trato gastrointestinal podem crescer no decorrer dos anos e sua prevalência aumenta com a idade, afetando 70% dos indivíduos ao atingirem os 80 anos. Essas pequenas bolsas são chamadas de divertículos e geralmente se concentram no cólon (intestino grosso). Neste caso, temos a diverticulose, que pode ou não causar problemas. A inflamação de um ou vários divertículos pode ser desencadeada por diversas causas, e a infecção resultante é conhecida como doença diverticular ou diverticulite.

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Diverticulose e diverticulite: causas

Vários fatores contribuem para um divertículo impactado e infectado, sendo o principal a dieta atual – as pessoas comem mal, as refeições são ricas em alimentos ultraprocessados, óleos refinados e açúcares, e pobres em produtos fermentados (probióticos) e alimentos do reino vegetal, fontes de antioxidantes e fibras. Outros fatores são estresse contínuo, sedentarismo, desidratação crônica, problemas de vesícula, hereditariedade, obesidade, uso de medicamentos. Quando há mal-estar, os sintomas são mascarados com analgésicos, anti-inflamatórios e laxantes, retardando o diagnóstico e tratamento.

Diverticulite: sintomas

A diverticulite é conhecida como uma “doença do homem moderno”. A combinação de maus hábitos de vida causa inflamação dos sacos diverticulares. Quando a matéria fecal endurece e as bactérias se acumulam, as bolsas inflamadas aumentam a pressão na parede intestinal levando ao agravamento dos sintomas. A flora intestinal anormal afeta as membranas mucosas do intestino, que passam a produzir citocinas inflamatórias. Além de dor abdominal, inchaço e gases, pode haver constipação ou diarreia, sangue nas fezes, náusea, febre, vômito, necessidade contínua de evacuar.

Diagnóstico e tratamento

Divertículos geralmente são diagnosticados na colonoscopia. O que fazer? Como tratar? Se o quadro clínico for avançado, com infecção, abscesso ou ruptura dos divertículos, a indicação é cirúrgica, mas de modo geral é possível um tratamento clínico, com dieta adequada e uso de suplementos. Pode ser necessário complementar com medicamentos, quando o quadro é agudo. Na dieta é importante remover a comida que irrita o intestino, introduzir alimentos com ação calmante, dar ênfase em fibras prebióticas e probióticos, caprichar na hidratação e usar nutrientes que ajudam a desinflamar e cicatrizar o intestino.

Estresse e exercício

Movimentar o corpo é essencial. O exercício facilita a regularidade intestinal e reduz o estresse.

Reduzir o estresse e movimentar o corpo é essencial. O nervo vago, que vai do cérebro ao intestino, é responsável pela secreção de hormônios do estresse e agentes inflamatórios no cólon, como cortisol e histamina. Ou seja, o estresse contribui diretamente para a inflamação do intestino e alteração no sistema imunológico, o que pode causar surtos de diverticulite. Incorporar atividade física ajuda a aliviar o estresse emocional e físico, diminuindo os níveis de cortisol no corpo, aumentando o fluxo de oxigênio para as células, melhorando a circulação e as vias de desintoxicação natural. Estudos mostram que o exercício facilita a regularidade intestinal e reduz a dor.

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Qual é a melhor dieta?

Clinicamente, a diverticulite é comparável em sintomas à síndrome do intestino irritável, com dor abdominal, inchaço, gases, constipação/diarreia e sangramento nas fezes. Estudos mostram que esses pacientes têm baixas concentrações de bactérias boas (probióticos), inflamação aumentada e baixa imunidade. Na presença de divertículos, é importante remover alimentos irritantes do intestino, abordando a sensibilidade alimentar através de uma dieta de eliminação, o que pode melhorar os sintomas significativamente.

Alimentos alergênicos

Os alergênicos alimentares mais comuns associados à diverticulite são trigo, aveia, centeio, milho, soja, sementes oleaginosas. Se houver sensibilidade, esses alimentos podem perturbar o equilíbrio de bactérias benéficas presentes no intestino levando a distúrbios gastrointestinais e a uma resposta imune enfraquecida.

Dar ao intestino um descanso de irritantes alimentares ajuda no processo de desinflamação local e melhora da saúde digestiva. Ao mesmo tempo, investir em alimentos com propriedades anti-inflamatórias e que apoiam o sistema imunológico é essencial para curar a diverticulite, como caldo de ossos, óleo de coco, vinagre de maçã, gengibre, cúrcuma e produtos fermentados, como kefir, kombucha, iogurte.

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Fibras e água

Uma dieta rica em fibras parece diminuir a probabilidade de diverticulite sintomática. No geral, as recomendações para dietas de diverticulite seguem as de um estilo de vida saudável – alimentos integrais ricos em fibras, frutas e legumes. Não se pode esquecer a hidratação adequada, pois fezes endurecidas impactam negativamente a saúde intestinal. Recomenda-se seguir uma dieta de baixa fibra como medida temporária durante um surto de diverticulite para o intestino desinflamar: o ideal é uma dieta líquido-pastosa com caldo de ossos, suco coado de frutas e vegetais, água de coco, ovo quente (clara cozida macia e gema bem mole) e iogurtes probióticos.

Quem tem divertículos pode comer sementes?

Muitos profissionais recomendam evitar qualquer tipo de semente na alimentação dos portadores de doença diverticular, por receio de que esses alimentos fiquem presos no divertículo e levem à inflamação. Dentre os itens a ser evitados estariam oleaginosas em geral (castanhas, amêndoas, girassol, abóbora, gergelim, papoula), chia, linhaça, tomate, pipoca, morango, kiwi, abobrinha, pepino, quiabo, banana, berinjela. Pesquisas recentes observaram que não há evidências científicas reais para apoiar essa recomendação e sua ingestão é segura.

Ciência

Um grande estudo (JAMA) analisou a relação entre o consumo de sementes e o risco de complicações da doença diverticular. Os participantes (47.228 homens entre 40 e 75 anos) preencheram uma série de questionários regularmente, fornecendo informações específicas sobre dieta, e os dados foram coletados ao longo de 18 anos. Em conjunto, foram analisadas variáveis incluindo dieta (consumo de carne vermelha e de fibras dietéticas), estilo de vida (atividade física, tabagismo, uso de álcool), índice de massa corporal, análises médicas.

Conclusão

Não houve correlação entre o consumo de sementes e diverticulite. Surpreendentemente, o estudo revelou que aqueles que comiam mais sementes e castanhas tinham menor risco de desenvolver divertículos. Também não houve associação significativa entre a ingestão de mirtilos e morangos (que contêm pequenas sementes) e complicações diverticulares. Cortar alimentos saudáveis com sementes é um mito que caiu com base nos dados atuais. No entanto, durante uma crise recomenda-se dieta líquido-pastosa com baixa fibra. Siga as orientações do seu médico.

Referências
*International Journal of Molecular Science 2022. Pathophysiology of Diverticular Disease: From Diverticula Formation to Symptom Generation.
*Nutrients 2021. Role of Dietary Habits in Prevention of Diverticular Disease Complications: A Systematic Review.
*Current Problems in Surgery 2020. Diverticulitis: An Update From the Age Old Paradigm.
*Nutrients 2021. Role of Dietary Habits in Prevention of Diverticular Disease Complications: A Systematic Review.
*Gastrointestinal Society 2022. Diverticular Disease: Who Says You Can’t Eat Nuts?
*JAMA 2008. Nut, corn & popcorn consumption & the incidence of diverticular disease.

Médica especializada em Nutrologia. Membro da ABRAN – Associação Brasileira de Nutrologia. Pós-graduada em Terapia Ortomolecular, Nutrição Celular e Longevidade – FACIS-IBEHE Faculdade de Ciências da Saúde de São Paulo e Centro de Ensino Superior de Homeopatia. Membro Titular da Sociedade Médica Brasileira de Intradermoterapia. Consultora com atuação em Nutrologia e Medicina Ortomolecular. CRM 52 301716 www.tamaramazaracki.med.br