Como lidar com a saúde mental do adolescente na pandemia

Veja neste post procedimentos para poder lidar com a saúde mental e o estresse do adolescente na pandemia, bem como com a privacidade dele

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“Meu filho adolescente andou tendo algumas alterações em seu comportamento de uns meses para cá: o rendimento nos estudos caiu, mas sei lá, talvez isso possa ter relação com as aulas online na pandemia, mas ele está trocando a noite pelo dia e não cuida da sua aparência e higiene como cuidava… Esses comportamentos já seriam o suficiente para revistar o quarto dele?”

Resposta: Nestes mais de 15 meses de pandemia pelo novo Coronavírus, problemas no funcionamento psicológico têm sido pauta de ampla discussão ao redor do mundo. Isolamento e distanciamento social, planos frustrados, falta de perspectivas, piora ou mudanças do status financeiro, tédio, luto, medo de ser infectado, dentre várias outras consequências, têm afetado negativamente o bem-estar psicológico de todos nós.

Saúde mental do adolescente

Apesar das consequências nocivas claras da atual pandemia, devemos levar em consideração que, antes mesmo do seu início, a saúde mental dos adolescentes sempre foi uma preocupação entre clínicos. De acordo com dados do National Survey on Drug Use and Health (2021), cerca de 13% dos adolescentes americanos entre 12 e 17 anos tiveram, pelo menos, um episódio de síndrome depressiva em 2017. Apesar desta taxa alarmante, apenas 60% desses indivíduos receberam tratamento adequado para depressão.

Comparando o cenário encontrado em 2009 com o de 2019, o Centro de Controle de Doenças (CDC) nos Estados Unidos da América reportou crescentes taxas de problemas relacionados com a saúde mental entre estudantes do ensino médio, mesmo antes da pandemia. Persistentes tristeza e desesperança dispararam de 26% em 2009 para 37% em 2019; pensamentos suicidas aumentaram de 14% em 2009 para 19% em 2019; planejamento suicida também aumento de 11% para 16% e tentativas de suicídio foram de 6% para 9% (Hertz and Barrios, 2021).

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Saúde mental do adolescente na pandemia

Estudos recentes têm indicado que tais problemas estão sendo ainda mais exacerbados pela atual crise sanitária internacional, especialmente entre aqueles adolescentes que já padeciam de algum transtorno mental.

Os resultados de vários estudos recentes têm, de fato, demonstrado aumento nos sintomas de depressão, ansiedade, estresse pós-traumático, uso de substâncias psicoativas… De qualquer forma, parece que a gravidade e a duração desses sintomas são influenciadas por alguns fatores, tais como:

a) história prévia de traumas e abusos;
b) status psicológico anterior;
c) horas gastas assistindo às notícias midiáticas sobre a pandemia;
d) ter um membro familiar que faleceu devido à infecção pelo SARS-Cov-2;
e) pobres recursos sociais e financeiros;
f) lares disfuncionais e abusivos.

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Convivendo com a ansiedade e o estresse parental, sendo privados do contato com amigos, estando distantes da escola e dos professores, inflamam a sensação de abandono, autodesvalorização e mudanças comportamentais.

Tais tendências atuais e pretéritas à pandemia deveriam chamar a atenção de pais e cuidadores no sentido de buscar auxílio médico e psicológico especializado. Muitos cuidadores acreditam que as mudanças comportamentais dos seus filhos são absolutamente normais diante de uma situação tão inusitada para a geração deles.

Adolescentes têm reação psicológica crônica ao estresse durante a pandemia

De fato, a pandemia gerou, no seu início, uma resposta psicológica aguda de estresse, o que é esperado. No entanto, à medida que o tempo passa, a reação aguda torna-se crônica. Frustração, raiva, medo tornam-se proeminentes; comportamentos similares à dependência de Internet aparecem; a autoestima começa a rasgar-se.

O fechamento de escolas tem forçado os adolescentes a aprenderem de casa. Plataformas online e soluções digitais têm sido a norma. A interrupção ao acesso escolar prejudica o desenvolvimento das habilidades sociais, afetivas e de comunicação verbal. Outrossim, a situação pode prejudicar a saúde física dos adolescentes, dado o sedentarismo e a dificuldade para exercer atividades físicas supervisionadas.

O distanciamento físico e social traz a sensação de que importantes eventos da vida estão sendo perdidos. Aniversários, términos de cursos, encontros com colegas têm sido limitados, às vezes ao extremo. Até mesmo o compartilhamento do próprio sofrimento com amigos e familiares tem sido restringido.

Como lidar com o estresse e a saúde mental do adolescente

Diante de um quadro nada animador ainda, embora as taxas de internação pela COVID estejam reduzindo, os pais e cuidadores podem desenvolver habilidades objetivando:

a) Reconhecer e manejar o estresse

Os adolescentes podem ser mais amiúde afetados por eventos traumáticos. Isso pode ser manifestado através de tristeza excessiva, ruminações do pensamento, hábitos inadequados de alimentação e sono, prejuízo na concentração e atenção. Os pais devem então identificar tais sintomas e oferecer ajuda, através da participação conjunta no aprendizado e nos trabalhos escolares e até mesmo na busca por tratamento médico.

b) Enfatizar sempre a necessidade de cuidar da própria saúde

Os pais devem de forma reiterada enfatizar a necessidade do adolescente para cuidar da própria saúde, vestir-se adequadamente, manter a higiene. Uma rotina diária poderia ser útil, de tal forma que o adolescente sinta que cada dia tem significado.

c) Incentivar os adolescentes a ficar conectados com amigos e colegas da escola

Os pais devem encorajar seus filhos a manter contato com amigos e familiares através das mídias sociais. De forma concreta, as mídias sociais têm faces boas e ruins. Os pais devem auxiliar os adolescentes a identificar as faces saudáveis delas.

Posso revistar o quarto do meu filho atrás de drogas?

O dever do pai é o de cuidar amplamente do bem-estar, da saúde física, emocional e psicológica do seu filho adolescente

Você está me perguntando se vale a pena revistar o quarto do seu filho, objetivando investigar se há drogas lá. Você deve sempre conversar com seu filho adolescente e tentar aderir às dicas para melhorar o momento.

O seu dever é cuidar amplamente do bem-estar, da saúde física, emocional e psicológica do seu adolescente. E você tem ascendência sobre ele.

Muitas vezes, não há a necessidade de uma “violação da privacidade” do seu filho; todavia, você pode driblar esta questão de diferentes formas:

a) Combine uma faxina geral nos quartos, inclusive no dele. Neste momento, você poderá ou não verificar vários indícios de problemas;
b) Converse com o seu filho a respeito das suas preocupações. Demonstre, claramente, que a aparência e o comportamento dele não estão toando saudáveis. Seja firme;
c) Ouça sempre o que ele tem a dizer;
d) Você também pode sugerir para o seu filho que ele está precisando de um checkup médico. Conduzi-lo a um profissional da saúde deve ser considerado, especialmente diante de um cenário em que muitas pessoas se esqueceram de que existem outras doenças além da COVID;
e) Estabeleça limites;
f) Esteja sempre alerta sobre os contatos do seu filho;
g) Respeitando os limites de todos em casa, utilizar computadores, smartphones, tablets com a porta do quarto aberta pode ser necessário.

Reconecte-se a ele de forma transparente e assertiva.

Boa sorte!!!

Referências:
Farber, H.B. (2011). A Parent’s Apparent Authority: Why Intergenerational Co-residence Requires a Reassessment of Parental Consent to Search Adult Children’s Bedrooms. Cornell Journal of Law and Public Policy 1: 39-75.

Hertz, M. F.; Barrios, L. C. (2021). Adolescent mental health, COVID-19, and the value of school-community partnerships. Injury Prevention 27: 85-86.

Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Professor de Psiquiatria do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC. Pesquisador nas áreas de Dependências Químicas, Transtornos da Sexualidade e Clínica Forense.