por Danilo Baltieri
Tenho um irmão viciado em jogo. Sofro muito, pois não sei como fazer para ajudá-lo a curar-se desse maldito vicio.
Resposta: O ‘vício do jogo’ ou, conhecido no meio médico como jogo patológico, é um transtorno psiquiátrico que foi classificado com o status de doença há pouco mais de 20 anos. No Manual de Classificação Internacional de Doenças (CID-10), trata-se de um Transtorno Mental categorizado com o código F.63.0, dentro dos chamados Transtornos dos Hábitos e dos Impulsos.
Os poucos dados disponíveis sobre a prevalência do jogo patológico sugerem que entre 1% e 3% da população adulta seja acometida. No Brasil, em 1998, o bingo já era o jogo preferido por 65% dos jogadores compulsivos e, em 2001, essa preferência subiu para 90%.
Será que sou viciado em jogo?
Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana, o jogo patológico é caracterizado pela persistência e recorrência do comportamento de jogar, indicado pela presença de pelo menos cinco dos seguintes itens:
1. Preocupar-se com jogo (preocupação com experiências passadas, especulação do resultado ou planejamento de novas apostas, pensamento de como conseguir dinheiro para jogar);
2. Ter necessidade de aumentar o tamanho das apostas para alcançar a excitação desejada;
3. Esforçar-se repetidamente e sem sucesso para controlar, diminuir ou parar de jogar;
4. Inquietar-se ou irritar-se quando diminui ou para de jogar;
5. Jogar como meio de escapar de problemas ou para aliviar estado disfórico (sentimentos de desamparo, culpa, ansiedade, depressão);
6. Depois de perder dinheiro no jogo, frequentemente retornar no dia seguinte para recuperar o que perdeu;
7. Mentir para familiares, terapeuta ou outros para esconder a extensão do envolvimento com jogo;
8. Cometer atos ilegais como falsificação, fraude, roubo ou desfalque para financiar o jogo;
9. Perder ou arriscar-se a romper relacionamentos significativos, oportunidades de trabalho, educação ou carreira por causa do jogo;
10. Contar com outros para prover dinheiro para aliviar situação financeira desesperadora por causa do jogo.
De fato, existem alguns padrões bastante comuns entre jogadores patológicos. Inicialmente, o indivíduo acredita na sua habilidade de jogar e de ganhar; depois, o jogador tem a tendência de aumentar os valores das apostas, em uma expectativa não realista de ganhar o que já perdeu; mais adiante, o individuo vai gastando progressivamente mais tempo com os jogos, em detrimento de outras atividades importantes na sua vida (família, trabalho, lazer), perdendo cada vez mais recursos próprios e às vezes alheios. Nesta fase, sensações de impotência, depressão, medo e perda do controle são bastante comuns.
Como tratar-se do vício do jogo?
O tratamento desse transtorno requer equipe de médicos e psicólogos especialistas, com experiência no manejo comportamental do problema. As intervenções mais utilizadas e recomendadas para o problema são:
• Psicoterapia individual objetivando incentivar o jogador a compreender as razões pelas quais é levado a jogar e a lidar com os seus sentimentos de impotência, depressão e culpa;
• Grupos de autoajuda como Jogadores Anônimos (JA), que seguem a mesma proposta dos outros grupos de mútua ajuda, tipo Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos;
• Terapia familiar, porque, da mesma forma como nos casos dos dependentes de substâncias, os familiares acabam por ser prejudicados com o comportamento patológico do jogador e manifestando sintomas de codependência;
• Tratamento farmacológico. Em muitos casos, há a necessidade da introdução de medicações específicas para o controle do comportamento impulsivo, bem como para o tratamento de sintomas depressivos e ansiosos que muito amiúde co-ocorrem no jogador.
Seguramente, o seu irmão deverá ser adequadamente avaliado por médico especialista, que recomendará tratamento específico para o problema.