Como os filtros nas fotos, nas redes sociais, afetam a autoestima da mulher

Os filtros nas fotos são cada vez mais usados nas redes sociais. O objetivo é o de se conseguir encaixar em um determinado padrão de beleza, mas isso afeta de forma negativa a autoestima e a autoexpressão.

Segundo o filosofo francês Gilles Lipovetsky, autor do livro O império do Efêmero, a forma magra é extremamente libertadora para as mulheres, porque, anteriormente, as formas arredondadas simbolizavam a maternidade, ou seja, o papel reprodutor da mulher. A magreza foi, então, uma maneira de se livrar dessa imposição secular. Mas o assunto tomou tais proporções que ficou fora de controle. E isso não se aplica somente à forma magra e sim à insatisfação com partes do corpo como: face, cabelo, mama, olhos.

Redes sociais: filtros nas fotos afetam a autoestima da mulher

É aí que entra em cena o uso do filtro virtual que as mulheres passaram a utilizar para conseguir se encaixar em um determinado padrão de beleza. Com a moda das rinoplastias e harmonizações faciais, que evidenciam esse padrão, o uso dos filtros pode trazer essa mudança de forma mais simples. O resultado disso são mulheres e meninas que são impactadas quanto à própria imagem corporal, à autoestima e à autoexpressão.

Mulheres vêm se submetendo a esforços físicos e emocionais para se encaixar no padrão de sua época. Os sacrifícios pela beleza atingem hoje uma proporção alarmante.

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Estudo sobre o uso de filtros nas fotos das redes sociais

De acordo com a recente pesquisa (2020), que integra o Projeto Dove pela Autoestima, há um grande impacto do uso das redes sociais e filtros na autoestima de crianças e adolescentes. O estudo foi feito em dezembro de 2020 e entrevistou mais de 1500 mulheres entre 10 e 55 anos nos Estados Unidos, Inglaterra e Brasil.

O estudo revelou que cerca de 84% das adolescentes brasileiras, a partir dos 13 anos, já usaram algum filtro ou aplicativo de edição de fotos para mudar a própria imagem. A pesquisa também informa que 78% delas já tentaram mudar ou ocultar alguma parte indesejada do corpo antes de postar uma foto nas redes.

O estudo mostra que 36% das meninas entrevistadas sentem que seus pais não entendem a pressão que elas passam nas redes sociais.

Basta dar um giro pelas redes sociais para confirmarmos o quanto elas contribuem para uma beleza exagerada do corpo das pessoas, bem como de sua face. E isso pode ser um problema, uma vez que é capaz de criar uma ilusão em torno do que é perfeito, ideal.

De acordo com especialistas, as pessoas utilizam os filtros de edição das redes sociais como instrumentos cirúrgicos que são capazes de melhorar falhas no corpo e no rosto. No entanto, isso pode causar uma anomalia social, problema que pode ser traduzido como uma busca ideal pelo corpo e rosto perfeitos.

Em algumas mulheres, pode até mesmo desenvolver baixa autoestima, depressão, ansiedade, transtornos alimentares (anorexia, bulimia nervosa), ou outros transtornos menos divulgados como: vigorexia (não ser suficientemente musculoso), ortorexia (preocupação exagerada por alimentação saudável) considerando que elas se alimentam, muitas vezes, do discurso de beleza que é potencializado a partir das redes sociais.

Assim, acredita-se que a pessoa estampada no Instagram, possui a perfeição presentada na foto. Isso faz mal para quem vê, porque supõe que nunca alcançará tal padrão de beleza ou estilo.

Padrões de beleza remetem ao falso ideal de felicidade

Os padrões de beleza, que remetem o ideal de felicidade, são consagrados por grandes influenciadores, como os estilistas, e os demais membros da indústria da moda e do consumo, que compartilham o que não é acessível para as grandes massas.

Não se trata, convém ressaltar, de reconhecer que um modelo é mais bonito ou perfeito que o outro, mas que cada um, a seu tempo, correspondeu às expectativas da sociedade da época. Fica ai essa reflexão.

Coordenador do serviço de atendimento a pacientes com tricotilomania no PRO-AMITI/IPq FMUSP. Supervisor clínico na UNIP. Psicólogo pela Universidade Metodista. Mestre em ciências pela Faculdade de Medicina da USP. Especialização em Terapia Cognitivo-comportamental pelo Ambulim/IPq FMUSP. Especialização em Psicologia Hospitalar pela UNISA