Como parar de tomar Viminol?

O Viminol é um analgésico, de ação no Sistema Nervoso Central, usado para combater dor crônica, mas não é aprovado pelo FDA (Food and Drug Administration) e pode causar dependência

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“Faço uso da medicação Viminol há 8 anos. Tomo cerca de 9 comprimidos por dia e não consigo parar. Comecei por causa de uma dor pós-operatória e, agora, quando tento parar de tomar, sinto tremores pelo corpo, sudorese, irritação, meus pelos ficam eretos… um horror. O que devo fazer?”

Resposta: A medicação conhecida como Viminol é um analgésico de ação no Sistema Nervoso Central. O isômero RR do Viminol, da mesma forma como muitos opioides, reduz a liberação da acetilcolina no intestino, mostra tolerância cruzada com a Morfina, tem atividade antitússica e produz dependência física.

Viminol e opioides

RR Viminol liga-se aos receptores opioides, mas a sua afinidade por tais receptores é relativamente baixa. Estima-se que a sua capacidade de se ligar aos receptores de opioides seja de apenas 1/10 a 1/100 da capacidade da Morfina. Embora pequena, esta capacidade do Viminol de interagir com os receptores de opioides pode ser atribuída à natureza flexível da molécula, que pode permitir que ela interaja de alguma forma com tais receptores.

Estudos experimentais têm sido realizados utilizando ratos que foram treinados para discriminar morfina de soro fisiológico, ou seja, estes ratos treinados também conseguiram discriminar soro fisiológico de RR Viminol.
Em contraste, outros experimentos indicam que o Viminol falha em suprimir a Síndrome de Abstinência em macacos dependentes de Morfina e que mostra baixa capacidade para produzir dependência física em camundongos.

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O fármaco disponível para vendas é uma mistura racêmica de enantiômeros, o que contribui para sua relativa segurança no quesito “síndrome de dependência”, pois seus efeitos subjetivos e de tolerância são parcialmente antagonizados pelo isômero SS e pelo estereoisômero SR.

Há poucos relatos de síndrome de dependência de Viminol em humanos. Entretanto, trata-se de medicação não aprovada para uso pelo FDA (Food and Drug Administration), o que limita de forma surpreendente o número de estudos sobre o uso médico em humanos. Já no Brasil, é medicação usada para dor crônica, principalmente por pessoas que prescrevem para si mesmas, sem supervisão médica.

Viminol: dependência

Já tive oportunidade de acompanhar pacientes com quadro de síndrome de dependência de Viminol. Geralmente, eles tomavam grande soma da droga e/ou estavam fazendo uso concomitante de alguma outra medicação que limitava ou mesmo diminuía a metabolização do Viminol, aumentando a concentração sérica do produto.

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Por exemplo, medicações que inibem um complexo enzimático do fígado, em especial o CYP3A4, tendem a reduzir a metabolização do Viminol e, consequentemente, aumentar a sua concentração sérica. Um exemplo de inibidor da CYP3A é o Cetoconazol. Abaixo, forneço exemplos de medicações que inibem fortemente a CYP3A4:

a) Amiodarona
b) Anlodipina
c) Amitriptilina
d) Atorvastatina
e) Atazanavir
f) Cafeína
g) Cimetidina
h) Diclofenaco
i) Diltiazem
j) Eritromicina
k) Fluconazol
l) Fluoxetina
m) Haloperidol
n) Isoniazida
o) Norfloxacina
p) Nifedipina
q) Sertralina
r) Sinvastatina
s) Verapamil

Pacientes dependentes de Viminol em tudo se assemelham aos dependentes de opioides

Estes pacientes com quadro de síndrome de dependência de Viminol em tudo se assemelharam aos dependentes de opioides. Alguns tiveram que ser internados em clínicas especializadas para a adequada desintoxicação.

Viminol: síndrome de abstinência

De fato, estes usuários de Viminol, quando da falta da tomada da medicação ou mesmo redução abrupta da dose, geralmente apresentaram os famigerados sintomas da Síndrome de Abstinência de opioides. Embora não haja uma homogeneidade sobre a linha do tempo para o início destes sintomas com o Viminol, os sintomas de abstinência geralmente atingiram um pico mais intenso entre 24 a 36 horas após a interrupção do uso ou redução drástica da quantidade. Os sintomas da Síndrome de Abstinência aguda geralmente duram de 1 a 2 semanas.

Sintomas da síndrome de abstinência

Dentre os vários sintomas da Síndrome de Abstinência registrados, aponto os mais comuns:

a) Humor irritável;
b) Náusea ou vômito;
c) Dores musculares;
d) Lacrimejamento ou rinorreia;
e) Midríase, pilo-ereção ou suores;
f) Diarreia;
g) Bocejos;
h) Febre;
i) Insônia;
j) Tremores;
k) Aumento da pressão arterial;
l) Aumento da frequência cardíaca;
m) Pupilas dilatadas.

Obviamente, a experiência da Síndrome de Abstinência não é a mesma para todos os dependentes; por isso, é difícil identificar quando os sintomas podem começar, quanto tempo durarão ou a gravidade deles.

Semelhantemente às outras drogas, a Síndrome de Abstinência de opioides é influenciada pela frequência e duração do uso da droga, a quantidade tomada, o método de ingestão, o uso simultâneo de outras substâncias, incluindo álcool, benzodiazepínicos e outras drogas.

Síndrome de abstinência aguda de opioides

A Síndrome de Abstinência aguda de opioides tende a ser por demais desagradável e apresentar desafios para uma recuperação precoce. No entanto, esta Síndrome de Abstinência pode ser gerenciada de forma eficaz por meio de desintoxicação médica, que pode servir como ponto de partida ideal para que outras formas de manejo clínico possam tomar lugar.

A desintoxicação médica exige um alto nível de monitoramento médico, sendo realizada geralmente em regime de internação. Os profissionais de saúde ajudam a gerenciar os sintomas da Síndrome de Abstinência com segurança, mantendo o paciente o mais confortável possível. No geral, o tratamento exige o uso de medicamentos específicos.

O Food and Drug Administration (FDA) aprovou alguns tipos de medicamentos para o tratamento do transtorno do uso de opioides, com alguns deles – incluindo Metadona, Buprenorfina e Lofexidina – sendo úteis para controlar a abstinência de opioides. Com mecanismos de ação diferentes, alguma combinação desses três medicamentos pode ser usada para aliviar os sintomas de abstinência, controlar os desejos de drogas e atenuar alguns dos efeitos recompensadores ou eufóricos da droga abusada.

A desintoxicação é normalmente o primeiro passo em um plano de tratamento mais abrangente para transtornos por uso de substâncias. A desintoxicação médica por si só normalmente não é suficiente para apoiar a abstinência a longo prazo; portanto, a equipe de tratamento incentivará o paciente a continuar com alguma forma de tratamento após o gerenciamento de retirada bem-sucedido.

Você deve tomar a decisão de tratar-se. É muito possível que o tratamento em regime de internação seja necessário no início do manejo médico. Procure um especialista no tema e não perca mais tempo.

Atenção!
Esta resposta (texto) não substitui uma consulta ou acompanhamento de um médico psiquiatra e não se caracteriza como sendo um atendimento.

Professor Livre-Docente pelo Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Professor de Psiquiatria do Centro Universitário Faculdade de Medicina do ABC. Pesquisador nas áreas de Dependências Químicas, Transtornos da Sexualidade e Clínica Forense.