por Sandra Vasques
"Estou vivendo um dilema. Tenho 27 anos e sempre duvidei de minha sexualidade, gosto de homem, mas nunca tive coragem de assumir isto. Atualmente, vivo uma relação com outro homem, porém, não consigo sentir nenhuma satisfação ou prazer quando ocorre a penetração ou quando faço sexo oral. Sinto carinho, afeto quando estou junto com ele, apenas com ele. Quando saio com outro homem não sinto absolutamente nada. Fico com medo também de perdê-lo, sendo que não proporciono o prazer da penetração e ele também não quer nada sério, apenas algo casual, como ele tem com outros. Apenas para concluir, agora já não sei se eu realmente sou gay, bi (gosto de mulher também) ou hetero."
Resposta: O que é orientação sexual, ou melhor, dizendo, orientação afetivo-sexual? É para onde cada pessoa dirige seu desejo afetivo e sexual.
São reconhecidos os heterossexuais, que desejam pessoas do sexo oposto ao seu; homossexuais, que desejam pessoas do mesmo sexo e bissexuais que desejam pessoas de ambos os sexos. Atualmente tem sido considerado por muitos estudiosos da sexualidade, uma outra categoria, os assexuados, que apresentariam um interesse afetivo, mas não sexual, ou nenhum tipo de interesse que os ligasse romântica ou sexualmente a alguém.
No entanto, essas definições não existem para que cada pessoa se enquadre em uma delas e nunca mais possa sair desse quadrado. Preconceitos, educação rígida, e consequentemente medo, insegurança, autodesvalorização entre outros sentimentos negativos, pode levar ao não reconhecimento de sentimentos e desejos em um determinado período da vida, e em outro à possibilidade de viver plenamente esses desejos.
Conceito de normal é utilizado para discriminar e oprimir
Além disso, existem discussões científicas sobre esse aspecto de nossa vida, que frequentemente trazem novidades que flexibilizam e mudam conceitos rígidos que mais servem para aprisionar e fazer sofrer quem se sente diferente do que é considerado normal. Normal é uma palavra perigosa que muitas vezes já foi e é usada para discriminar e oprimir. Precisamos ter cuidado ao usá-la. Até alguns anos atrás, por exemplo, não era normal ser homossexual, e este desejo estava incluído na lista de doenças psiquiátricas. Isso mudou e agora é considerado parte dos desejos saudáveis que um homem ou mulher pode ter. Mas sabemos que ainda há preconceito e o que é pior, ainda existem homossexuais que negam seus desejos, tentam esconder de si o que sentem por não se aceitarem. É claro que a pressão e opressão social contribuem muito para isso.
Fiz toda essa discussão inicial para começar a falar sobre a questão apresentada. Não ter certeza sobre a orientação sexual e trazer uma história cheia de fatos e sentimentos confusos pode ser mais comum do que se pensa. Existem muito desconhecimento e tabus a respeito de sexo.
Tabus sexuais
Então vamos por partes:
– Sentir carinho, desejar ficar com um determinado parceiro, mas não ter prazer sexual com o ato – Como é algo novo para esse jovem viver uma relação homossexual, pode ser que seja difícil assumir esse desejo e isso o esteja impedindo de se envolver o suficiente para conseguir ter prazer no momento que acontecem as carícias e a penetração. Pode ser também que saber que o parceiro tem outros relacionamentos também não contribua para isso. Afinal, na maioria das vezes em que as pessoas não estão seguras num relacionamento, acontece interferência para o prazer na transa. Mas pode ser também uma falta de sintonia entre os parceiros, que precisariam conversar sobre suas preferências. Existe a possibilidade ainda de haver uma confusão de sentimentos, e o que os liga seja muito mais uma proximidade afetiva do que sexual.
– Sentir carinho pelo parceiro e não sentir absolutamente nada em relação a outros homens – Não tem nada de estranho não nos sentirmos atraídos por outras pessoas quando estamos apaixonados como parece ser o caso. Isso não depende da orientação sexual. Mas é natural que à medida que a paixão vai dando lugar a um sentimento mais calmo, que apareça a atração por outras pessoas. E daí, cada um de nós, de acordo com seus valores, vai ter que escolher o que fazer com isso, se mantém a fidelidade ou não.
– Não saber se é gay, bi ou hetero – Como já dizia Ronaldo Pamplona, em seu livro "Os onze sexos", que aliás indico, existem muitas formas e intensidades na maneira de viver a sexualidade. Assim, por exemplo, consideramos hetero, tanto uma pessoa que se permite de vez em quando, viver uma transa com alguém do mesmo sexo, quanto aquele que não se permite nenhuma fantasia desse tipo. Assim, a orientação predominante é que conta, se quisermos incluir alguém dentro de uma classificação.
Mas, o que recomendo, não é se preocupar com a classificação em que se encontra, mas se permitir viver o desejo que sente. É claro que isso vem acompanhado da importância de se gostar e se cuidar, de se respeitar e ao próximo, de ser fiéis aos próprios valores, mas se necessário for, fazer uma revisão dos mesmos. Nem sempre é fácil viver plenamente o desejo, mas pode ser muito recompensador.