Por Edson Toledo
Da confirmação da gravidez à chegada do bebê, a futura mamãe enfrenta um longo período marcado por mudanças e ressignificações. Seja o ritmo do trabalho, de suas tarefas diárias; sem contar os reajustes de seus compromissos pessoais.
Agora, some tudo isso às transformações biológicas que a mulher enfrenta, principalmente as taxas hormonais oscilantes e alterações no corpo. Inegavelmente é tudo novidade! Para algumas grávidas, quarenta semanas não é tempo suficiente para se acostumar com a condição de gestante.
Para esses casos a maternidade pode agir como um importante estressor psicossocial, favorecendo a ocorrência de perturbações na saúde mental da mulher. Embora haja um apelo extremo à maternidade como uma dádiva principalmente na nossa cultura, um adoecer psíquico pode acontecer em certas mulheres, no caso, a depressão pós-parto (DPP).
Nenhuma mãe que sofre com a DPP pode ser considerada insensível, desumana ou mesmo incapaz. Nessa condição, cabe à família e aos amigos não só dar suporte nos cuidados do recém-nascido, mas principalmente encorajá-la a lutar contra a doença, apoiando a busca por auxílio psicoterápico.
A combinação de alguns fatores costuma indicar um quadro de depressão pós-parto com certa facilidade.
Entre os fatores podemos citar:
– flutuações de humor;
– preocupações exageradas com o bem-estar do bebê e com a própria competência;
– medo de ficar sozinha com o filho.
Além disso, outras evidências aparecem associadas à sintomatologia depressiva; as ideias obsessivas, como por exemplo, fazer mal ao bebê (de 20% a 40% das mães relatam essa ideia); à dificuldade em estabelecer ligação com o filho; e à diminuição do desejo sexual pelo companheiro, são fatores de alerta para familiares e para o profissional de saúde mental.
Tratamento
As opções de tratamento hoje disponíveis incluem terapia farmacológica e psicoterapia, que pode ser individual ou em grupo. Os tratamentos podem ser isolados ou combinados; a depender do grau de DPP apresentado.
Os estudos apontam que a psicoterapia é a melhor alternativa em casos que vão de leve a moderado. Por outro lado, a terapia farmacológica, com inibidores seletivos de recaptação da serotonina (ISRS), é indicada para casos de depressão moderada-grave ou quando não há resposta à psicoterapia. Entretanto, no caso de DPP grave, a utilização combinada de terapias farmacológica e psicoterápica é a melhor alternativa.
Durante as sessões do tratamento psicoterápico, a paciente deverá encontrar um espaço de acolhida, onde ela possa falar sem receio algum de julgamento pelo que sente, pensa ou fala. A terapia cognitivo-comportamental (conhecida pela sigla TCC) é uma das metodologias que melhor apresentam resultado. Focada na identificação e na modificação de padrões de pensamentos disfuncionais, a TCC trabalha crenças popularmente difundidas associadas à maternidade, além do impacto da gravidez e do nascimento de um filho na vida da mulher. Além disso, ela envolve o contexto de relações interpessoais que vão do ambiente de trabalho a novos relacionamentos afetivos.
Entre as técnicas mais comuns utilizadas na TCC para a DPP aparecem:
• Psicoeducação: informação sobre os fatores envolvidos na origem e na manutenção da sintomatologia depressiva e sobre os princípios básicos da TCC;
• Restruturação cognitiva: identificação, avaliação e modificação de cognições negativas disfuncionais (gerais ou relacionadas às temáticas específicas da maternidade, por meio do uso de técnicas, como a análise lógica das evidências);
• Treino de resolução de problemas;
• Treino de competências de comunicação.
Todas essas ações podem, ainda, serem coordenadas por uma equipe multidisciplinar, formada por profissionais que prestam assistência à mulher no período perinatal. Com uma abordagem sistêmica, a recuperação do bem-estar e da saúde da mulher tende a apresentar resultados de maneira ainda mais rápida.