por Edson Toledo
Quase sempre as definições são ferramentas, muitas vezes armas, e não verdades, que podem nos levar a um alerta ao tirar conclusão de quanto é fácil criar classificações ordenadas que podem jogar qualquer pessoa dentro de um estereótipo.
Um bom exemplo são as rígidas categorias de idade cronológica que podem limitar perspectivas, além de sugerir conclusões errôneas, especialmente num momento em que não fica claro quando exatamente começa ou termina uma. Vejamos, quando se diz que alguém é um recém-nascido, bebê, criança, adolescente, jovem, adulto, idoso?
Como devemos dizer terceira idade ou velhice? Responda quando começa a velhice depois dos 50, 60, 70? Pois é! As pessoas a sentem ou não, de que maneira a diversidade social e cultural pode influenciar seu desenvolvimento, e se há ou não algo intrínseco ou universal em relação a ela. Além disso, a ascensão da gerontologia cientifica e o declínio das crenças tradicionais e socialmente aceitas, sobre o significado e propósito da terceira idade, deixou um vácuo ou um sentido fragmentado do lugar da velhice no curso da vida.
O curso das atribuições categóricas continua a ser traçado, mas as fronteiras estão mudando rapidamente, uma vez que a longevidade crescente expande os limites da vida até os 80, 90 e 100 anos. Como resultado, a terceira idade tem sido identificada como sendo muito mais complexa e muito mais diferenciada do que se pensava algumas décadas atrás. Refletindo sobre o assunto, Schaie (1988) classificou três grupos sucessivos de idade entre 60 e 100 anos:
a) Aqueles entre sessenta e setenta e poucos anos que são parecidos com os de meia-idade – em termos de saúde e capacidade, embora muitos já não façam mais parte da força de trabalho;
b) Aqueles entre quase oitenta e poucos anos, um grupo composto em grande parte por pessoas que ainda vivem em suas comunidades, mas cuja saúde e competência comportamental começam a falhar;
c) Os "muito velhos". Que são pessoas entre quase 90 anos ou acima disso. Este terceiro grupo contém a maior proporção de idosos frágeis e institucionalizados, mesmo que uma minoria significativa continue em atividade de uma maneira notavelmente apropriada.
Somam-se aos delineamentos de estágio as descrições de processo do tipo sugerido pelo Ph.D James Birren (1985), quando escreveu sobre senilidade, velhice e geronticidade:
a) Senilidade é a dimensão biológica do envelhecimento humano, envolvendo os processos que aumentam a vulnerabilidade física e as probabilidades de morrer;
b) Velhice é o viver fora dos papéis sociais, que mais frequentemente tem sido classificado pela idade, de acordo com definições mais normativas e tradicionais de envelhecimento – definições que passam por mudanças dramáticas em nossos dias;
c) Geronticidade fala sobre autorregulação – por exemplo, sobre fazer escolhas, construir significados, desenvolver e manter interações com outros.
Os sistemas de classificação, como os descritos acima, fornecem pontos de partida para a ordenação das sequências de idade, especialmente nos dias de hoje em que os extremos de envelhecimento estão sendo testados e investigados. Tais sistemas podem ser úteis de muitas maneiras. Mas concordo com a psicóloga do desenvolvimento Marie Johada, pois abandonou as classificações tão sofisticadamente delineadas.
Gosto de lembrar que seu protesto contra os "compartimentos" de idade prescrita possa servir de lembrete de que é muito fácil escorregar para a discriminação de idade – aquele insidioso "preconceito em pensamento e ato contra o velho", que pode levar a sérias distorções na percepção sobre as pessoas mais velhas e na maneira de serem tratadas. Ainda mais, sugiro que as palavras da escritora Dorothy Sayers (1938), escritas em sua batalha contra a classificação negativa, sejam lembradas: "Uma categoria existe somente por seus propósitos especiais e deve ser esquecida assim que eles se cumprirem".
Reforçando essas preocupações, a psicóloga Berenice Neugarten (1916-2001), nos idos de 1970, alertou que as politicas e os programas dirigidos aos "velhos", embora tenham sido planejados para compensar a iniquidade e o prejuízo, podem ter efeito involuntário de somar-se à segregação de idade, de reforçar a percepção distorcida dos "velhos" como um grupo-problema, e de estigmatizar, em vez de libertar as pessoas mais velhas dos efeitos negativos do rótulo "velho". Parece-me que ainda essas preocupações povoam nossa mente e atos, décadas depois.
É cada vez mais evidente que a idade cronológica, como uma variável definidora, não diz muito sobre o envelhecimento humano, uma conclusão que reproduz a visão de Neugarten (1973) sobre o envelhecimento como um "todo sem emendas" e sua posterior definição sobre a idade como uma "variável vazia". O que ela via como uma influencia vital não era a idade cronológica em si, mas sim os eventos biológicos e sociais na vida de uma pessoa que moldam sua identidade. Sabiamente os psicólogos construtivistas expandiriam essas influencias para incluir os processos e aprendizados criativos, que modelam o significado e ativam os tipos de aprendizagem que se desenvolvem por toda a vida e que podem ajudar as pessoas a viver o mais criativamente possível.
Por fim, gosto da fala de Tânia Kaufman (1993), que ao trabalhar com grupo de sujeitos mais velhos, encontrou por parte deles uma grande flexibilidade na definição de si própria. Descobriu que quando pessoas mais velhas falam de si mesmas, elas expressam um sentido de si mesmas que não tem idade, uma identidade que mantém a continuidade, apesar das mudanças físicas e sociais que vem com a velhice. Elas podem descrever-se como "sentindo-se velhas" em um contexto e "sentindo-se jovens" ou "não velhas" em outro. Isso é sempre variável… Pessoas idosas não veem sentido propriamente no envelhecimento, tanto quanto percebem o sentido em estarem elas próprias na velhice, e só para nos lembrarmos e refletirmos de que frequentemente ouvimos de que velhice é quando vivemos fora do papel social classificado para a nossa idade.