por Patricia Gebrim
Devo os créditos da ideia de escrever este artigo a uma grande amiga. Toda vez que nos encontramos, a conversa flui com tanta beleza que depois fico com vontade de compartilhar com vocês, que mesmo sem conhecer, fazem parte da minha vida.
Sim, cada um de vocês que lê estas palavras agora mesmo, faz parte do sentido que escolhi dar à minha existência. Fico grata por existirem.
Bem, ontem minha amiga levantou o tema "confiança". E depois que nos despedimos, fiquei com suas palavras na cabeça. É real. Hoje em dia, confiança tornou-se um artigo de luxo. Daqueles raros. Mais valioso do que diamantes.
Ninguém confia em ninguém. Me lembrei também de uma pessoa com quem conversei um tempo atrás. Eu tinha contado a ele que tinha dividido um jogo de loteria com uma amiga, e brinquei dizendo que ganharíamos e ficaríamos ricas. E ele perguntou, aflito:
– Mas o jogo ficou com você?
Sem entender, perguntei a ele qual a relevância disso.
E ele me disse:
– Mas quem garante que ela dividirá o prêmio com você?
É triste, não é? Ele me garantiu que nunca confiaria que ninguém dividiria com ele um prêmio de loteria. Pensei, assustada, que provavelmente seria como ele agiria. Ficaria com tudo. E eu fiquei lá com meus botões pensando em como deve ser triste e pobre viver assim. Como podemos viver bem se desconfiamos de absolutamente todas as pessoas? Sem poder relaxar um instante sequer. Sempre antevendo que seremos lesados, abusados, passados para trás. Que vida seria essa?
Não quero isso para mim.
Não significa que tenhamos que ser "bobos". Escolho confiar sim, mas sem me perder na ingenuidade, afinal sei que existem pessoas em quem de fato não devemos confiar. Desejo, do fundo do meu coração, continuar confiando na minha intuição e olhando para o ser humano com doçura nos olhos. Mesmo que me fira de vez em quando, que aqui e ali me decepcione com alguém, ainda assim prefiro isso a essa secura absolutamente solitária em que vivem os que são incapazes de acreditar na beleza do ser humano.
E posso dizer a vocês, com muita verdade. nunca me arrependi. É verdade que já levei meus tombos, já me feri por dar crédito a quem não merecia. Mas esses momentos foram a exceção. Na maioria das vezes, quando ofereci a alguém meu olhar mais amoroso e delicado, recebi em troca amorosidade e delicadeza. Sempre imagino o mundo como uma espécie de espelho que reflete em nossa direção o que se passa por dentro de nós.
Claro, se sempre desconfiamos, se somos avaros em nossas manifestações de amizade, se agimos sempre por trás de armaduras e armas apontadas prestes a atirar, criamos uma resposta semelhante. De repente todos nos parecem ameaçadores, protegidos e distantes. Olhamos ao redor e confirmamos nossa crença, e assim justificamos nossa permanência nesse lugar que cria separatividade e distanciamento.
Mas quando corremos o risco de, de vez em quando, nas situações que intuitivamente sentimos ser mais seguras, baixar as armas, tirar a armadura, sorrir, confiar. Quando damos um voto de confiança à humanidade e beleza de um outro Ser, algo muito especial acontece, podem acreditar. É como se presenteássemos a pessoa vendo nela algo que ninguém viu. É como se a ajudássemos a encontrar uma parte dela mesma, uma parte tão bela e rara… E a magia se dá. E aquela parte se manifesta. E por alguns instantes, naquele encontro entre um olhar e um coração, a pureza se manifesta. E naquele instante sagrado vivemos um encontro pleno de entrega, beleza e harmonia. Como não confiar em algo assim?
Aos cínicos convictos estas palavras não farão sentido algum. Com certeza todos nós temos muitas histórias nas quais a confiança se mostrou como sendo pura ingenuidade e nos levou a sofrer nas mãos de uma pessoa predadora, como tantas existem por aí. Mas dessas histórias já estou farta. Histórias sobre o mal já existem em fartura por aí. Basta assistir aos jornais.
Assim, me concedo o direito de contar histórias diferentes, e ao escrevê-las, algo em mim fica mais leve, um sorriso se abre em meu rosto, e uma alegria se instala em meu peito ao convidá-lo a experimentar esse outro jeito de ser.
Fico tranquila, pois sei que cabe a cada um de vocês escolher as histórias que prefere ler.
Assim escrevo, e confio, em mim e em você.