Por Luís César Ebraico
Transcrevo a seguir o diálogo travado entre mim e Júlio em uma de suas primeiras sessões comigo:
JÚLIO (falando muito alto e enfaticamente, na verdade, quase aos berros): – EU VOU SER ENGENHEIRO! EU VOU SER ENGENHEIRO! EU VOU SER ENGENHEIRO!
LC: – CONTRA quem?
JÚLIO (muito surpreso): – Hein?
LC: – Ué, estou-lhe perguntando contra quem você vai ser engenheiro.
JÚLIO: – Como assim, “contra quem” eu vou ser engenheiro?
LC: – Digo isso pelo jeito como você estava falando, repetindo-se várias vezes e quase berrando. Dá impressão de que alguém não quer que você seja engenheiro. Seria útil descobrirmos quem é essa pessoa, para podermos combatê-la melhor e você conseguir o que parece querer muito:ser engenheiro.
JÚLIO: – Bem, meu pai sempre me disse que eu não iria ser nada na vida.
LC: – Então, você gostaria de mostrar que ele estava errado.
JÚLIO: – Gostaria muito!
LC: – Mas, na verdade, pelo tom e ênfase que você usou quando disse que ia ser engenheiro, a mim não pareceu que quisesse apenas MOSTRAR. Minha impressão mesmo foi a de que você gostaria de ESFREGAR SEU DIPLOMA NA CARA DELE!
JÚLIO: – É verdade.
LC: – Mas há um pequeno problema.
JÚLIO: – Qual?
LC: – Segundo você me disse, ele está morto.
JÚLIO: – É verdade.
LC: – Mas a vontade de esfregar vingativamente seu sucesso na cara dele continua.
JÚLIO: – É verdade.
LC: – Então, como vamos fazer isso?
JÚLIO: – Não sei.
LC: – Eu tenho uma sugestão.
JÚLIO: – Qual seria?.
LC (expondo os princípios básicos do trabalho loganalítico): – Blá, blá, blá. Blá, blá, blá.
E iniciamos uma relação terapêutica cujo objetivo imediato era permitir que Júlio transformasse seu projeto de fazer engenharia “CONTRA ALGUÉM”, no projeto de fazer engenharia “PARA SI”, condição indispensável para que Júlio livrasse sua vida – em particular sua vida profissional – de uma série de distúrbios, como, por exemplo: auto-sabotagem no caminho para o sucesso, tendência a se tornar um trabalhador compulsivo, dificuldade de usufruir os ganhos auferidos por seus esforços, etc… a maior parte deles derivados da culpa proveniente de aquele projeto ter origem no ódio e não no amor.