Consumo de cafeína na adolescência pode deixar o cérebro vagaroso

por Edson Toledo 

No "The Whinte’s Tale – O Conto do Inverno", peça teatral do genero comédia composta por William Shakespeare no início do século XVII, o personagem Pastor diz, “Desejará que não haja idade entre dezesseis e vinte e três anos, ou que a mocidade dormisse todo esse tempo”.

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Podemos observar pela reação do personagem que à rebeldia típica dessa fase da vida revela que nada mudou ao longo do tempo, o que nos leva a concluir que os adultos, em geral, sentem muita dificuldade de compreender o comportamento dos adolescentes.

Em tempos pós-modernos, quem não disse ou ouviu a expressão, “são os hormônios!”, um bode expiatório que explicaria o comportamento dos jovens. A bem da verdade a expressão revela pouco conhecimento sobre o tema adolescente. A neurocientista Suzana Herculano-Houzel, autora do livro “O cérebro em transformação” (Objetiva, 2005), explica o fato: “Existe apenas um hormônio importante na adolescência, o sexual, e por si só ele não explica outros comportamentos típicos da faixa etária, como a sociabilidade e a propensão ao risco… Quem comanda as mudanças da adolescência, inclusive a produção do hormônio sexual, é o cérebro”.

É fato também que adolescentes têm o cérebro imaturo, pois ele ainda não é um adulto. Mais recentemente, constatou-se que o adolescente, na verdade, não está totalmente maduro fisicamente – inclusive no que diz respeito ao cérebro. Diz a neurocientista Sarah-Jayne Blakemore, da Universidade de Londres “A maturação do cérebro humano segue pela adolescência e pode continuar até a idade adulta… Dez anos atrás, sabíamos pouco sobre o cérebro adolescente. Avançamos muito graças às novas tecnologias de imagem feitas por ressonância magnética”.

Consumo de cafeína: sintomas

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A cafeína é um estimulante que ativa o sistema nervoso central, resultando em um aumento da energia, um metabolismo alterado e aumentando o estado de alerta. Ingerir um excesso de 1.000 mg/dia (1 gramas) de cafeína pode deixar o usuário irritadiço, inquieto e ansioso. Maiores quantidades durante períodos maiores podem causar falta de sono, dores de cabeça e batimento cardíaco anormal. O uso continuado pode também resultar em vício. Cessar o uso da cafeína depois de seu consumo regular pode causar síndrome da abstinência.

O que ninguém sabe ainda é que consumir cafeína durante a adolescência pode deixar o cérebro mais vagaroso. De acordo com pesquisadores suíços, o consumo de cafeína tem aumentado expressivamente nos últimos 30 anos, não somente pelo café em si, mas também pela ingestão de diversas bebidas cuja composição inclui essa substância, como certos tipos de chá, refrigerantes e principalmente, os energéticos, consumidos indiscriminadamente por adolescentes e jovens adultos.

Sabemos que é durante o sono que o cérebro torna as sinapses (comunicação entre as células nervosas) mais eficientes e mapeia novos caminhos para facilitar o acesso às informações. Assim quanto mais cafeína houver no organismo, afirmam alguns pesquisadores, pior será o ciclo de sono desses adolescentes, o que influenciará de maneira determinante o desenvolvimento cerebral.

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Outra mudança fundamental ocorre no sistema de recompensa,  “conjunto de estruturas no cérebro responsáveis por premiar com prazer ou bem-estar comportamentos que acabaram de se mostrar úteis ou interessantes”, conforme Herculano-Houzel define em seu livro. Isso significa que o adolescente precisa de muito mais para sentir prazer. É algo difícil de visualizar porque ocorre em nível bioquímico. No cérebro, o prazer é proporcionado pela molécula dopamina, que é um neurotransmissor. Os adolescentes possuem um terço dos receptores para dopamina. Por isso, precisam de experiências mais intensas, que estimulam mais a liberação da substância, para sentir prazer.

Essa mudança, por si só, é a principal responsável pela maioria dos comportamentos típicos do adolescente, como a busca por novidades, os excessos (como ouvir música alta) e o comportamento de risco, que também gera euforia e produção de dopamina. Sem falar na nova e mais importante descoberta: o sexo, cujo prazer só é possível, porque o sistema de recompensa se torna sensível aos hormônios que promovem o prazer sexual. E tudo isso não é ruim, pois a procura pelo prazer é o que move o adolescente a descobrir coisas novas e a buscar independência.

O "Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais" (DSM-5), na sessão condições para estudos futuros, incluiu o transtorno por uso de cafeína entre os quadros que merecem atenção nos próximos anos.

De acordo com esse manual psiquiátrico, alguns sinais deveriam ser observados como indicativos do transtorno. Por exemplo, o desejo incontrolável por bebidas cafeinadas, o uso indiscriminado desse tipo de produto mesmo quando há problemas físicos e psicológicos decorrentes, a sensação de fissura quando não se consome cafeína, deixar de cumprir obrigações para tomar bebidas cafeinadas, entre outros.

Um dos pontos críticos avaliados pelo DSM-5 foi o fato de que as bebidas cafeinadas são consumidas regularmente por até 80% da população mundial e, dessa forma, até 7% dessa população poderia estar desenvolvendo o vício por cafeína.

Entre aqueles que consomem regularmente bebidas cafeinadas, estão os jovens em idade universitária e indivíduos com outros problemas com drogas, sendo que a prevalência dessa população poderia chegar então a 20%.

Para tudo é necessário equilíbrio. Assim, uma boa opção é tentar orientar os jovens quanto ao consumo de energético e outras bebidas contendo cafeína, cerca de um terço dos jovens entre 12 e 14 anos afirmam tomar bebidas energéticas regularmente nos Estados Unidos.

Segunda a pesquisadora da University at Bufallo, Kathleen Miller, o alto consumo de usuários de bebidas energéticas está associado a comportamentos típicos de usuários de drogas, comportamentos agressivos e arriscados, incluindo sexo sem proteção e violência interpessoal. A conclusão da pesquisadora não sugere que as bebidas energéticas causem mau comportamento, mas que o consumo regular de bebidas energéticas seja um sinal de alerta aos pais.

Por fim, como disse Blakemore. “Um dos motivos principais do comportamento de risco é a influência do meio social. Os adolescentes são levados a impressionar os amigos, em busca de aprovação, enquanto também vão se tornando mais independentes dos pais.”

Se o risco por vício em cafeína será ou não um dos novos transtornos do século XXI não sabemos, mas podemos afirmar que o risco de dependência é maior porque o jovem está numa fase de experimentação. Dependências adquiridas podem permanecer durante a vida adulta.

As descobertas sobre esse período da vida ajudam a lançar um olhar novo sobre o adolescente e a reconhecê-lo como alguém que não está pronto e que, por isso, precisa ser acolhido e orientado. Elas ajudam a pintar com detalhes um quadro que já havia sido delineado pela psicologia, mostrando que a adolescência é uma fase característica e que, também no cérebro, os adolescentes apresentam suas peculiaridades que precisam ser respeitadas.

Atenção!
Este texto e esta coluna não substituem uma consulta ou acompanhamento de um médico e não se caracterizam como sendo um atendimento.