por Thaís Petroff
Todos temos *crenças nucleares negativas sobre nós mesmos, o mundo e o futuro.
Posso acreditar que sou incapaz profissionalmente e/ou que sou chata (inadequada) ou ainda que não tenho valor. Consequentemente as pessoas não gostam de mim.
Posso acreditar que meu marido é um incompetente em casa, que minha vizinha é uma fofoqueira e que as pessoas não são confiáveis. Posso ainda acreditar que o futuro é incerto e não serei capaz de lidar com ele ou ainda que coisas ruins podem acontecer e eu não tenho recursos para lidar com elas.
Todas essas crenças quando muito fortes, tornam-se prejudiciais, pois nos paralisam, nos fazem sofrer e construir nossas vidas baseadas nelas (clique aqui e leia).
O intuito da TCC é reestruturar nossas crenças nucleares negativas, de modo a enfraquecê-las e fortificar as crenças nucleares positivas, às quais todos também temos, mas que em algumas pessoas ou em determinadas áreas da vida estão quase que imperceptíveis.
Em função de como percebemos nossas experiências de vida, pode ocorrer de criarmos e reforçarmos muito mais crenças negativas do que crenças positivas; sendo essas generalizadas (ex. sou incapaz, não sou amado) ou em uma única área da vida (ex. sou incapaz profissionalmente, meu pai não gosta de mim).
Na terapia o intuito é identificar quais são as crenças nucleares negativas presentes e trabalhá-las de modo que elas tenham cada vez menos repercussão na vida dessa pessoa e, consequentemente que ela passe a perceber cada vez mais evidências que apoiem sua crença positiva.
Quando alguma de nossas crenças negativas está ativada por alguma situação ou momento, passamos a ter uma percepção enviesada da realidade. Com isso ignoramos evidências que reforçariam nossas crenças positivas ou ainda distorcendo as evidências fazendo com que a mensagem que seja registrada é que a crença negativa está correta.
Quando a crença negativa perde força, essa distorção passa a ocorrer cada vez menos, até porque as pessoas são treinadas a perceber quando fazem uma distorção cognitiva e desafiá-la – ou seja, duvidar dela.
Através da TCC são então minimizadas nossas crenças negativas e maximizadas as positivas, fazendo com que as pessoas tenham uma vida mais funcional (promissora/produtiva) e adequada.
Por que então não extinguir totalmente as crenças nucleares negativas?
Em primeiro lugar esse seria uma trabalho muito longo e quase que impossível. Uma vez que todas as crenças foram construídas ao longo de anos de vida e também sempre conseguiremos encontrar alguma situação que possa nos causar alguma dúvida quanto às nossas crenças.
Além disso, em minha opinião, é até positivo que fique um resquício de crenças negativas, pois elas impedirão que a pessoa se torne por demais segura e, portanto arrogante. Ao acreditar que é capaz demais, adequada demais ou amada demais, essa pessoa não terá nunca qualquer possibilidade de vulnerabilidade; o que resultará em acomodação, inércia ou ainda comportamentos de risco. Alguns exemplos seriam não achar que precisa melhorar como pessoa ou aprender mais na área profissional ou ainda praticar esportes radicais sem a devida segurança.
Acredito que as crenças negativas quando estão devidamente reestruturadas (minimizadas) fazem com que tenhamos dúvidas em algumas situações e essa dúvida pode ajudar a crescermos, nos desenvolvermos e melhorarmos.
Como o intuito é que as crenças positivas “falem conosco” em alto e bom som e as negativas “sussurrem” seu conteúdo para nós, temos assim base o suficiente para não nos deixarmos cair ou paralisar por esse conteúdo negativo; podendo justamente percebê-lo como uma dúvida diante de alguma situação e assim termos vontade de superá-la. Um exemplo seria diante de uma discussão com alguém, se questionar qual seria sua parte de responsabilidade e o que poderia ser feito para melhorar a situação.
No caso de uma pessoa sem crenças negativas, de maneira alguma ela se sentiria vulnerável e diante disso dificilmente reconsideraria sua palavras e ações; provavelmente acreditaria que não há nada de errado com ela, mas sim com o outro.
* Chama-se de crença nuclear ou crença central o centro de tudo o que acreditamos.