por Ceres Araujo
Na trajetória do desenvolvimento humano, a pré-adolescência é o momento geralmente definido entre 9 e 13 anos e pode ser caracterizada como um período que antecede a entrada na adolescência.
Coincide com o início da puberdade, fase na qual ocorrem mudanças biológicas, determinadas pelas alterações hormonais. Essa alterações não só causam modificações físicas como também mudanças no desenvolvimento psicológico manifestadas por mudanças de interesses e de comportamento.
Apenas no século XIX, a criança ganhou a identidade como pessoa. Houve, a partir de então, um investimento crescente nos filhos como futuro da família e como objeto de amor. Na mudança do século XIX para o século XX, a figura do adolescente começou a ser delineada com mais precisão e, apenas recentemente, tem-se falado na pré-adolescência.
A Organização Mundial da Saúde entende a adolescência como um período que vai dos 10 aos 19 anos e, mais recentemente, dividiu a adolescência em fases, caracterizando a chamada pré-adolescência dos 10 aos 13 anos. Sabe-se, entretanto, que a idade cronológica é muito relativa.
A puberdade e a pré-adolescência variam de indivíduo para indivíduo, pois cada pessoa tem um ritmo próprio de desenvolvimento físico e emocional. O que define a fase da pré-adolescência são as alterações físicas e as mudanças nos interesses e na conduta.
Atualmente, as crianças iniciam a puberdade mais cedo em comparação com o século XIX, quando a idade média era 15 anos para as meninas e 16 para os meninos. Isso ocorre possivelmente em função da estimulação muito diferente a que as crianças vêm sendo submetidas, desde tipo de nutrição até demandas para funcionamento no mundo.
As principais modificações da puberdade são a maturação sexual e o grande crescimento físico, chamado o estirão da puberdade, resultantes da reativação de mecanismos neuro-hormonais. A chamada pré-adolescência é uma época de instabilidade, não só em função das importantes modificações da puberdade, mas também em função da posição que o filho passa a ocupar na família e na sociedade. Às vezes tratados como crianças, às vezes exigidos como maiores, os filhos se sentem desorientados pela falta de objetividade dos pais em relação a eles.
A partir dos 9, 10 anos o filho passa a ter mais deveres, mais responsabilidades, principalmente em relação à escola e ele deveria ter, consequentemente, mais direitos e mais respeito dos adultos. Crescer significa ter de assumir mais deveres e também mais privilégios – fato esse nem sempre percebido pelos pais.
Interdição, regras e limites
Se na infância, os limites e as interdições não precisavam de muitas explicações, agora os pais precisam usar de muita lógica na explicação e no convencimento das regras e normas. Uma ética pessoal já está se formando e o pré-adolescente começa a saber o que é bom para si mesmo, o que lhe faz bem, aprendendo a tomar conta de si.
Nessa fase, os filhos compreendem mais as ordens sociais e os grupos. A participação em um grupo de amigos que tenham interesses em comum, passa a ser de vital importância para eles. Se na infância, a companhia dos pais era a primeira escolha do filho, agora o amigo será preferido sempre. Surgem as preocupações com a expectativa de ser aceito pelo grupo. Principalmente no grupo das meninas, tais preocupações geram conflitos e dificuldades. Sofrer as vicissitudes dos relacionamentos nessa fase, o saber se impor e o saber ceder são aprendizados importantes para o resto da vida. O "bullying" tende a acontecer muito nessa idade, mas também é a idade para se aprender sobre solidariedade e generosidade.
Os grupos começam a serem mistos, pois se inicia o interesse pelo outro sexo, ainda que as relações homoafetivas tenham prevalência. É uma época importante para treinamento de papéis sociais pelo alargamento do ambiente social. Anteriormente, a criança mantinha-se dependente dos pais e à órbita deles. Na pré-adolescência, a busca pela autonomia e o desejo de ser o herói da história de sua vida, surgem com ímpeto. Isso pode ser vivido na realidade e na fantasia igualmente.
Sonhos, devaneios e fantasias caracterizam a vida de imaginação deles, sendo a base fundamental para a criatividade na vida futura. Porém, medos e temores constituem a contraparte dos desejos fantasiosos de autonomia e independência. Na pré-adolescência, os filhos precisam da compreensão e do estímulo dos pais para viver a vida com alegria e esperança no futuro.