por Paulo A. Lopes – psicólogo componente do NPPI
O amor que vemos por aí, nos casais de amigos, naqueles que se beijam em público, ou nos casais de parentes que ainda perduram em nossas famílias, parece realmente existir. No entanto ele pode, mesmo assim, parecer um tanto distante para nós mesmos.
Encontrar a pessoa certa requer sorte, mas vai além disso: é mais e mais comum hoje em dia que envolva também o investimento financeiro.
Embora ainda haja um tanto de flerte quando vamos a festas e bares, muitos de nós fazemos uso de uma variedade de serviços para conseguir um "empurrãozinho" a mais, utilizando os sites de encontros e os serviços que promovem encontros de parceiros: espécies de consultorias especializadas em selecionar pessoas compatíveis para um possível relacionamento a dois.
Em muitos países, inclusive no Brasil, os sites de encontros cresceram exponencialmente desde a década de noventa, o que também aconteceu com os serviços profissionais de encontros de parceiros. Mas tudo isso tem um preço. Em fevereiro deste ano (quando é comemorado o Vallentine's Day – dia dos namorados, na Inglaterra), a BBC reuniu alguns dados sobre esses serviços e vou apresentá-los aqui de forma breve.
A Vida Consultancy por exemplo, baseada em Londres, promete 10 encontros por ano (encontros organizados pela consultoria que promete que cada um desses possíveis 10 parceiros passou por uma rigorosa seleção de acordo com o perfil do cliente) e cobra entre 9 mil e 50 mil libras esterlinas (R$36 mil / 200 mil) pelo serviço. Já a consultoria VIP Life cobra dos homens cerca de R$35 mil por um número ilimitado de encontros por ano, enquanto as mulheres que utilizam o serviço não pagam nada. Já os sites de encontro cobram a média de $15 (R$35,00) aproximadamente por mês. Há os sites e apps gratuitos, mas neste caso o usuário só tem acesso muito limitado aos recursos oferecidos.
Argumento curioso
O que as empresas dizem é que a vida move-se muito rapidamente e que seus clientes não têm mais o tempo para frequentar os eventos e espaços públicos onde tradicionalmente se pode paquerar. Este argumento é um tanto curioso: uma das justificativas para o empenho tecnológico é que seus resultados economizarão tempo e energia. Porém, contratar essas consultorias também demanda tempo e energia para passar por entrevistas e preencher os formulários que serão utilizados para encontrar possíveis parceiros. Na mesma linha, criar e manter um perfil num site de encontros também exige tempo e dispendio de energia. Como nas redes sociais, os sites de encontro só funcionam se o usuário for caprichoso na construção do seu perfil, se visitar frequentemente o site para atualizar seus dados e conferir quem o visitou e verificar se há interesse em efetivar um encontro presencial. Não é tão simples, portanto, dizer que utilizamos tais sites e apps apenas por uma questão de economia de tempo ou empenho.
Dicas para um selfie impecável
Os selfies também parecem ter um papel essencial nessas buscas. Estamos nos tornando experts em tirar fotos de nós mesmos e cada vez mais os equipamentos como tablets e smartphones contam com recursos e apps específicos para esse tipo de foto. E cada um de nós sabe que nem sempre fazemos um selfie com apenas um click: o selfie é um exercício de tentativa e erro, buscando sempre o melhor ângulo de si mesmo, a melhor iluminação, a melhor expressão facial, etc. Investimos tempo e energia na produção de um bom selfie (há inclusive casos extremos de pessoas que gastam grande parte de seu tempo livre buscando o selfie perfeito).
Os antigos anúncios de jornais, hoje se transformaram em perfis online. O preconceito que havia com aqueles pequenos anúncios, publicados nas páginas de classificados se esvaiu, e hoje ninguém mais estranha se publicarmos um perfil num aplicativo como o Tindr. Mais do que isso, os sites/apps têm públicos cada vez mais específicos: o Tindr para os heterossexuais, o Grindr para os homossexuais, o website Shaadi.com para aqueles que querem encontrar parceiros da comunidade sul-asiática, o Eharmony e o Chemistry para pessoas no Ocidente, só para citar alguns. Cada um destes leva em conta características específicas de seu público alvo.
Mais uma vez, aquilo que a princípio facilita encontrarmos um parceiro nem sempre significa economia de tempo e energia. De acordo com a consultoria especializada Siggy Flicker, de Nova Iorque, encontrar um parceiro pode demandar cerca de 100 encontros. De acordo com a mesma consultoria, embora muitos sites de encontros publiquem estatísticas favoráveis, é muito difícil determinar a real a taxa de sucesso desses serviços.
Seja via app, via site de encontro ou via rede social, o fato é que em algum momento é necessário passar da comunicação online para o encontro face-a-face. Então, por que não pulamos simplesmente todo este blá-blá-blá virtual? Primeiro, porque nem sempre fazemos bom uso dos espaços públicos de convivência. Também por que os recursos online nos colocam potencialmente em contato com uma gama muito maior de pessoas – um número muito maior de possibilidades. Por fim, por que passamos cada vez mais tempo conectados à Internet e então, já que estamos lá, por que não aproveitar o recurso para encontrar um parceiro?
Além de certo carisma para o encontro presencial, necessitamos agora, cada vez mais, aprender a construir certo "carisma virtual" para encontrarmos um parceiro. O custo de encontrar amor não é mais somente o de comprar flores ou pagar um jantar.