por Patricia Gebrim
É um fato: Todos nós queremos acertar.
Queremos acertar no trabalho, queremos acertar nos relacionamentos, queremos acertar com nossos amigos, com nossos pais, nossos filhos, nossos irmãos, nossos maridos, esposas… Sendo assim, eu me pergunto, em voz bem alta para que você também possa ouvir:
– Se eu, e você, e as outras pessoas queremos tanto acertar, como é que acabamos criando tanto caos ao nosso redor?
Resista à tentação de culpar os outros, de pensar que você (e eu…) somos os 'bons' e que os 'outros' é que não sabem fazer nada direito e estão bagunçando a sociedade em que vivemos. Não, essa não pode ser a solução, porque se você perguntar aos outros, eles vão garantir a você, com uma convicção muito parecida com a sua, que estão 'certos' e que também não sabem como é que as coisas ficaram como ficaram!
Então estamos todos 'errados'?
Eu vou dizer a vocês o que penso. Estamos tão preocupados com o 'certo' e o 'errado' que acabamos nos perdendo em um mar de definições. São tantos os manuais de condutas …
A família talvez seja o primeiro manual de condutas com o qual entramos em contato. Cada família tem sua lista de 'certos' e 'errados', e embora a tal lista não fique afixada em um lugar específico, desde crianças somos punidos ou recompensados com base no que ela contém.
No entanto, a família não é a única 'fazedora de listas'. Quer mais? Pense na escola, nas religiões, nas regras de cada sociedade, na influência da mídia, e por aí vai. É gente demais dizendo para a gente o que é 'certo' e o que é 'errado'. O que 'devemos'e o que 'não devemos' fazer.
Já nem sabemos mais o que devemos comer!
Eu não estranho que estejamos tão perdidos, cansados, carregando esse monte de manuais debaixo de nossos braços, sem saber direito quais deles seguir (porque, além de tudo, para nos enlouquecer um pouco mais, eles não dizem todos a mesma coisa!).
Mas existe um ponto em comum nesses manuais. Todos eles, de alguma maneira, nos consideram pessoas vazias, incapazes de escolher o próprio rumo e dependentes de suas regras e indicações para sobreviver.
Eu pergunto a você: Será que é assim?
Quando eu penso nas crianças, antes de terem sido esmagadas pelos tais manuais, percebo que elas já sabiam de coisas que, mesmo hoje, nós, adultos, ainda tentamos aprender. As crianças têm uma inclinação natural para o amor, para a verdade, para o carinho, para a alegria e para o respeito pela natureza. As crianças não se prendem a emoções negativas, não tentam controlar as coisas, confiam e se entregam com uma pureza que nós, adultos massacrados, ironicamente chamamos de ingenuidade.
O que quero sugerir com isso é que talvez nós não sejamos tão vazios como pensamos.
Talvez, somente talvez, cada um de nós já possua, ao nascer, tudo aquilo que precisa para criar harmonia ao seu redor. As sementes sagradas do amor, do perdão, do respeito pelo outro, do afeto… da alegria.
Se por um momento você puder imaginar que seja assim, talvez possa começar a criar mais leveza na sua vida jogando fora todos esses manuais de 'certo/errado'.
Eu sei, você pode estar pensando algo assim:
– Mas se abrirmos mãos de todas essa regras, dessa 'moral'… será que não nos perderemos ainda mais?
E você estará certo. Nos perderemos ainda mais se não colocarmos nada no seu lugar. Para abrirmos mão dos 'certos' e 'errados' dos manuais, precisamos ser capazes de encontrar as respostas em algum outro lugar. Eu diria: dentro de cada um de nós!
Eu não preciso ler o código penal, ou qualquer outro tipo de código para saber se uma atitude minha é 'certa' ou 'errada'. Basta que eu olhe para dentro de mim, porque quando faço algo que não é saudável para o meu ser, sinto-me mal. Simples assim! E ao me perceber posso corrigir minhas ações, buscando aquilo que é mais saudável para minha alma.
Troque 'certo/errado' por 'saudável/não saudável'
(Pense em saudável/não-saudável não só em termos físicos, mas também psicológicos e espirituais)
Quando, ao invés de me perder nos escuros labirintos descritos nos manuais, eu passo a me perguntar se aquilo me faz bem, ou mal; começo a me encontrar. E quanto mais me encontro, mais em harmonia fico, e menos caos gero ao meu redor.
Isso pode parecer egoísta (lá venho eu de novo tentando adivinhar seus pensamentos, me desculpe).
– Será que se eu fizer o que me faz bem, não vou estar sendo egoísta e prejudicar os outros?
De novo, se você pensou isso está certo. Mas – preste atenção! – eu não estou sugerindo que saiamos por aí fazendo tudo o que 'queremos', tudo o que faça bem ao nosso 'pequeno ego', à nossa 'personalidade'. Ora, essa personalidade foi construída a partir das experiências imperfeitas que todos nós vivemos. Sendo assim, é claro que essa personalidade é cheia de distorções e, portanto, capaz de escolhas egoístas e destrutivas!
O que estou sugerindo é que façamos o que faz bem à nossa alma
E o que faz bem à nossa alma nunca irá prejudicar outro alguém, porque a nossa alma sabe que em algum nível todos nós fazemos parte de algo único, e que se eu ferir o outro estarei ferindo o meu próprio Eu.
Fazer escolhas com a alma significa que já sabemos diferenciar a alma do ego, significa que o nosso pequeno ego consegue abrir mão de seus desejos egoístas, baseados em uma percepção dualista da realidade, a favor de desejos mais luminosos, baseados na unidade de tudo o que existe.
Para fazer escolhas com nossa alma, no entanto, antes é preciso conhecê-la e libertá-la. Precisamos ser capazes de calar o ruído externo e buscar no silêncio dentro de nós o som sagrado e único de nossa essência. E esse som sempre nos dirá o que fazer, não o 'certo' ou o 'errado'; e sim o que é natural, o que está em sintonia com a VIDA.
Quando mergulhamos dentro de nós e perguntamos à nossa alma o que fazer, toda a confusão cessa e podemos escolher em paz. Eu arrisco dizer que esse é o novo tipo de moral que, enquanto humanidade, precisamos aprender a desenvolver. Uma moral que vem de dentro, que conecta a individualidade de cada ser à beleza do Todo.
Uma moral que paira além da ambiguidade mutiladora oferecida pela maioria dos 'manuais de conduta' existentes no mercado.